Ações do grupo de Eike Batista vêm se destacando pela forte instabilidade

RIO – As empresas X – como são conhecidas as companhias que fazem parte do grupo EBX, do empresário Eike Batista – se destacam cada vez mais na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Nos últimos anos, levantaram capital com investidores para financiar projetos em recursos naturais e logística no Brasil, no Chile e na Colômbia. Juntas, têm valor de mercado de quase R$ 80 bilhões. Mas também vêm chamando atenção por frequentemente estarem entre as maiores quedas ou as maiores altas do pregão.

Em abril, todas as ações das empresas do grupo encerraram com desvalorização, com recuos que variaram entre 1,36% e 14,05%. No mês anterior, cinco das seis companhias haviam registrado alta, entre 2% e 11,59%. O Ibovespa, referência do mercado, caiu 3,58% em abril e avançou 1,79% em março.

Por serem empresas pré-operacionais, há o risco de viabilidade dos projetos, que dependem não apenas da capacidade da empresa como também do cenário macroeconômico, alertam analistas. Ao mesmo tempo, no entanto, o preço das ações é mais baixo exatamente porque os projetos ainda estão em desenvolvimento. E quem apostar nas companhias neste momento terá mais chance de retorno se a expectativa do sucesso for confirmada e eles passarem a gerar receita.

Até o fim do ano, a OGX, do setor de petróleo e gás, deve iniciar sua produção de petróleo. E a MPX, de energia, coloca em operação as usinas termelétricas MPX Itaqui (MA) e Energia Pecém (PE). O grupo inclui ainda MMX (mineração), LLX (logística), OSX (estaleiro) e PortX (portos).

– Em um cenário de Bolsa com maior aversão ao risco, como foi a última semana, as ações de empresas como as de Eike acabam sofrendo mais porque não têm estabilidade de fluxo de caixa e requerem investimento para execução de projetos. Por isso, têm mais risco – afirma o analista da XP Investimentos William Alves.

Ações devem continuar sob pressão a curto prazo
Ricardo Corrêa, analista da Ativa Corretora, acrescenta ainda que a expectativa de valor de um projeto é muito mais volátil que de uma companhia que já esteja em operação.

As ações das empresas X sofreram muito nos últimos dias depois da revisão, pela certificadora internacional D&M, das estimativas de reservas da OGX para a Bacia de Campos, que totalizaram 5,7 bilhões de barris de petróleo equivalente (inclui óleo e gás). O mercado se frustrou com a forma como as reservas foram classificadas.

Analistas acreditam que a curto prazo as ações devem continuar sob pressão, até divulgação de mais notícias ou a maior proximidade do início de operação dos projetos. Especialistas são unânimes em afirmar que o investimento nas empresas do "Império X" é voltado para investidores com fôlego para risco e perspectiva de médio e longo prazo.

Além do caráter volátil de empresas ainda não operacionais, a imagem de Eike Batista e seu estilo agressivo e empreendedor são, ao mesmo tempo, um forte atrativo para as ações e um fator de instabilidade. Para William Alves, o empresário desperta geralmente opiniões diversas: as pessoas gostam muito ou desgostam do estilo do empresário:

– É um cara arrojado, faz a coisa acontecer. Mas há quem considere que ele fala demais e devia ser mais conservador.

Como grande parte dos projetos ainda está em desenvolvimento, há muita dependência da confiança na gestão dos negócios e no toque do empresário para que tenham sucesso. Ao mesmo tempo, as declarações polêmicas acabam se refletindo na oscilação dos papéis.

– Todas as empresas X são projetos em desenvolvimento, relacionados uns com os outros. Existe capital para os investimentos, mas as companhias precisam passar por uma fase de desenvolvimento – aponta o estrategista-chefe da SLW Corretora, Pedro Galdi.

Na sua avaliação, essas ações são um investimento de maior risco que outras empresas da Bolsa, mas apresentam projetos interessantes. Ele aponta, no entanto, que são companhias que geram investimento especulativo, o que se reflete em oscilações diversas dos papéis na Bolsa.

– Olhando o movimento das ações, são caminhos totalmente diversos. É o céu e o inferno – diz Galdi.

Análises de empresas têm grandes discrepâncias

Muitas vezes, há divergências entre analistas sobre a avaliação das empresas. Algumas companhias ganham avaliações mais positivas de umas corretoras e negativas de outras. Carlos Nunes, estrategista de renda variável do HSBC, explica que diferenças ocorrem pela própria dificuldade em estimar o potencial dos projetos:

– Quanto mais longe está o projeto de sair do papel, maior é a discrepância nas projeções dos analistas. Normalmente, a volatilidade está atrelada a risco e incerteza.

Para o diretor de investimentos do Grupo EBX, Luiz Arthur Correia, não há razões para incertezas dos investidores. Ele destaca que os projetos do grupo estão em linha com o cronograma de execução e que o tempo para o desenvolvimento desses projetos está embutido no preço das ações.

– Toda a execução dos projetos está garantida pelo histórico de 30 anos do grupo, pela facilidade tecnológica, pelo preço das commodities e pelo baixo custo de produção – afirma Correia.

Segundo o executivo, o investidor está recebendo "um valor extraordinário" e não deve se preocupar com oscilações do dia a dia dos papéis, mas mirar no longo prazo.

– As empresas X são o destaque da Bolsa em empresas não-operacionais. Somado, o valor de mercado dessas companhias chega a quase R$ 80 bilhões. Não é desprezível – diz Nunes, do HSBC.

O analista de sistemas Eduardo Guedes é um dos investidores que apostam no potencial das empresas X. Atualmente, metade de seus recursos em renda variável está nos papéis da OGX. Este ano, ele já comprou e vendeu, com ganhos, ações da LLX.

– O Eike Batista é um cara arrojado e quer crescer ainda mais. É interessante entrar numa sociedade com ele – diz Guedes, que investe com a assessoria da XP Investimentos.

(Lucianne Carneiro l O Globo)

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