Agora, nós é que compramos

Graças ao ritmo de aquisições, os investimentos brasileiros no exterior chegarão a 15 bilhões de dólares em 2010, um avanço de 250% em relação ao ano anterior.

A dez dias do início da Copa do Mundo, foi difícil não ver a jogada como um autêntico drible da vaca – aquele em que o jogador despacha a bola por um lado do adversário e corre pelo outro. Diante da suspensão da exportação de carne processada brasileira para os Estados Unidos, devido a diferenças entre os critérios de certificação dos dois países, o frigorífico Marfrig anunciou, em 31 de maio, que atenderia à demanda americana de carne cozida, enlatada e beef jerky por meio de suas operações no Uruguai e na Argentina. Contornou assim um obstáculo recorrente nas exportações de alimentos brasileiros e confirmou uma das principais vantagens da internacionalização: a redução de riscos. Trata-se de uma estratégia de negócios cada vez mais adotada por companhias brasileiras como o Marfrig, um dos maiores conglomerados de alimentos da América do Sul, dono de 13 empresas com atuação nos diversos segmentos do mercado de carnes. "Nossa estratégia de sustentabilidade sempre se baseou na diversificação do risco, e isso inclui a internacionalização", diz Ricardo Florence, diretor de planejamento e de relações com investidores do grupo.

Duas semanas depois, o Marfrig anunciou a maior aquisição de sua história: a americana Keystone Foods, por 1,3 bilhão de dólares. Com a nova empresa, que produz e distribui alimentos à base de carnes, o grupo se torna fornecedor de toda a cadeia internacional do McDonald”s, da Subway e de outras redes. Em 2009, o Marfrig faturou 6 bilhões de dólares, o que o colocou na 37ª posição entre os 200 maiores grupos brasileiros, segundo levantamento de MAIORES E MELHORES. A presença em 12 países com 33 unidades produtoras – ante as três fábricas no exterior da BR Foods, sua maior e mais poderosa concorrente – ajudou o Marfrig a resistir à crise global que começou em 2008 e se estendeu por todo o ano passado. Atualmente, 2 bilhões dos 6 bilhões de dólares de receitas do grupo vêm de fora do Brasil. É um número impressionante – sobretudo quando se leva em conta que o Marfrig fez sua primeira exportação de carne apenas em 2002. Sua agressividade no mercado externo nos últimos anos lhe rendeu o sexto lugar no ranking das empresas brasileiras mais globalizadas, elaborado pela Fundação Dom Cabral, de Belo Horizonte (MG). O levantamento considera um índice composto pela proporção das receitas, ativos e funcionários nas subsidiárias no exterior em relação aos totais. O primeiro colocado na lista é o principal concorrente do Marfrig no mercado de carne bovina, o JBS-Friboi. Em setembro de 2009, o JBS deu um salto de internacionalização com a aquisição da segunda maior produtora de frango dos Estados Unidos, a Pilgrim”s Pride, por 800 milhões de dólares.

(Alexandre Moschella | Portal Exame)
 

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