Água de Cheiro enfrenta as dores do crescimento

O Carnaval não foi de muita folia para a Água de Cheiro. Henrique Alves Pinto, presidente da Globalbras, dona da rede de franquias de perfumaria, teve que lidar com um pedido de falência em plena quarta-feira de cinzas. A AGE do Brasil, que fabricava produtos para a Água de Cheiro, lançou mão do recurso para receber contas que estariam atrasadas desde outubro. As empresas assinaram prontamente um acordo.

Essa dor de cabeça no meio do feriado foi um dos efeitos colaterais da estratégia de expansão agressiva adotada pela Água de Cheiro. A varejista praticamente dobrou de tamanho no ano passado e faturou R$ 375 milhões. Fechou 2011 com 862 lojas (80 próprias) e chamou a atenção do BTG Pactual. O banco propôs ao dono da Água de Cheiro, em janeiro, um contrato sem custos mensais para encontrar possíveis interessados numa sociedade.

Alves Pinto não descarta uma parceria estratégica, mas diz não estar "nem um pouco preocupado" em conseguir um sócio. Ele diz que "a empresa está com a saúde financeira perfeita" e nega que precise de qualquer reforço nessa área. A dívida total é de R$ 35 milhões. Segundo ele, "está totalmente equalizada e é insignificante em relação ao faturamento da empresa e para um grupo [a Globalbras] super capitalizado".
 
Alves Pinto nega que tenham ocorrido atrasos fora da normalidade e relaciona o pedido de falência a um desentendimento com Guilherme Jacob, o presidente da AGE. Afirma que a maior parte dos valores refere-se a mercadorias que ainda seriam entregues. "À medida que a gente paga, eles entregam. Não tem nada que esteja nas lojas da Água de Cheiro hoje que não esteja pago", diz.

Os dois empresários assinaram um acordo, e a falência, no valor de um título de apenas R$ 350 mil, foi revogada. No acerto, o saldo era de R$ 2,3 milhões em favor da AGE, descontando-se o débito de R$ 860 mil em insumos que a já desativada fábrica de perfumes da Água de Cheiro havia fornecido à AGE. Desde então, as contas estão em dia, dizem os dois empresários. Há 4 parcelas a serem pagas até agosto.
 
Até o fim do ano passado, a Água de Cheiro tinha apenas uma fábrica própria em Lagoa Santa (MG), onde produzia perfumes. O resto do portfólio (de sabonetes a hidratantes) já tinha a produção terceirizada.

Para acompanhar o plano de expansão, via produção comprada de terceiros, a Água de Cheiro contratou a AGE. Esta, em 2011, fabricou loções e cremes no valor de R$ 10 milhões. A AGE também produz cosméticos para Jequiti (do Grupo Silvio Santos), Fuller (da Tupperware) e Hypermarcas.

A Água de Cheiro foi fundada há mais de 35 anos em Belo Horizonte. Nascido na mesma cidade, onde começou a trabalhar aos 15 anos na empresa do pai – a construtora de baixa renda Tenda – Henrique Pinto conta a idade da empresa a partir de outubro de 2009, quando a Globalbras, fundada e presidida por ele, comprou a varejista de perfumaria das mãos de sua fundadora, Beth Pimenta.
 
A rede de franquias, que já chegou a ser um nome importante no mercado, estava adormecida. Ele diz que comprou a Água de Cheiro para modernizá-la. "Um negócio precisa de pelo menos cinco anos para se maturar, ainda não está na hora de dar resultado", diz. "A gente é uma empresa em formação, que só tem dois anos e meio. Não é uma empresa pronta", completa, repetindo exaustivamente o mesmo raciocínio. Quando passou a integrar a Globalbras, a empresa tinha apenas 269 lojas e faturava R$ 80 milhões.
 
Desde então, a empresa criou um novo símbolo para a Água de Cheiro, investiu na modernização das embalagens e fez parceria com artistas. Segundo Pinto, quase todos os produtos já passaram por uma reformulação, o que ajuda a alavancar as vendas. A empresa criou a linha "Celebrities" e lançou produtos assinados pela atriz Deborah Secco e pela apresentadora Sabrina Sato. No Natal, foi a vez de Romero Brito estampar as lojas e as sacolas de compras da rede. A grande aposta da Água de Cheiro é a coleção do cantor sertanejo Luan Santana, que será lançada para o Dia dos Namorados.

A estratégia é fisgar o público jovem, principalmente das classes C e D, mas sem esquecer dos clientes fiéis. A empresa mantém em seu portfólio a colônia do apresentador Amaury Junior e as linhas antigas da Água de Cheiro. Hoje são cerca de 600 produtos.

A empresa está instalando o sistema SAP, de gestão empresarial. Também está sendo criado um manual de identidade da marca. Para 2012, a meta é encerrar com 1,1 mil lojas e faturamento de R$ 500 milhões. Alves Pinto planeja crescer a uma taxa de 20% nos próximos anos.

Em março, quando foi lançada a coleção de Sabrina Sato, as vendas no conceito "mesmas lojas" (considera lojas abertas há pelo menos um ano) avançaram 60% em relação a março do ano passado. "As vendas estão crescendo, e os franqueados, lucrando mais. A coisa vai ser muito maior lá na frente. Mas ainda estamos no meio do caminho", diz Pinto.

A Globalbras tem participação em cinco empresas. A holding é controladora da Água de Cheiro, da Globalbev (fabricação e distribuição de alimentos e bebidas) e da GD Rochas (importação e venda de mármores e granitos) e acionista minoritária da Fir Capital (venture capital) e da Colt Aviation (aviação executiva).

(Adriana Meyge | Valor)

 

 

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