American Airlines renegocia com BNDES

Nomeado presidente da American Airlines em novembro do ano passado para liderar o processo de concordata, Thomas Horton admite que renegocia com o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e a Embraer a dívida da empresa.
 
Em entrevista ao Valor, Tom Horton afirmou que uma alternativa para abater o restante da dívida é devolver à Embraer algumas aeronaves. Ele não quis detalhar, porém, como a empresa pretende pagar a parte do BNDES.

"Somos grandes operadores de jatos da Embraer. Temos mais de 200 deles. Obviamente, grande parte da reestruturação é otimização de frota e redução da dívida. Como nossa frota é nova, pode ser uma oportunidade para a Embraer ter aviões adicionais. É possível [devolver alguns aviões]", afirmou o executivo.
 
A American Airlines confirmou que tem uma dívida pendente de US$ 1,6 bilhão com o BNDES, pelo financiamento de aviões entre 1998 e 2002. A renegociação da dívida da American Airlines faz parte do processo de concordata de sua controladora AMR, pedida em novembro do ano passado.
 
Apesar de admitir a devolução de aviões à Embraer, Horton garantiu que a encomenda de 460 aeronaves feita em julho à Boeing e à Airbus está mantida pelos próximos cinco anos. "As fabricantes vão manter o acordo. Tudo isso tem que ser aprovado depois do nosso processo de reorganização". O financiamento oferecido pelas fabricantes é de US$ 13 bilhões.

Em sua primeira visita ao Brasil, de apenas dois dias, o executivo-chefe da American Airlines convidou a TAM a se juntar à aliança mundial de companhias aéreas OneWorld, criada pela companhia americana. A LAN, com quem a TAM está em processo de fusão, também é uma das fundadoras.

"Nós fizemos uma proposta muito atrativa porque a OneWorld é a melhor aliança. Temos os melhores "hubs" (pontos de distribuição de voos) e as melhores companhias aéreas do mundo como sócios. A TAM seria uma grande parceira", diz Horton, que espera uma resposta depois de abril, quando a fusão deve ser concluída.

Após dar o aval para a fusão entre LAN e TAM, o órgão de defesa da concorrência chilena determinou que as empresas teriam que escolher participar de apenas uma aliança. Atualmente, a TAM é parceira da Star Alliance.

Horton negou que o fato de a American Airlines estar em processo de concordata seja uma desvantagem para a aliança. A companhia sairá fortalecida do processo, afirma seu presidente.

"Todos os nossos competidores passaram por essa reestruturação. Na American nós lutamos por mais tempo, mas chegou um ponto em que precisávamos nos reestruturar para sermos competitivos e lucrativos. É isso que estamos fazendo agora e vamos sair muito mais fortes", afirmou o executivo, que rechaça as críticas de que a empresa entrou atrasada no processo de concordata, feito pelos concorrentes há quase uma década, e por isso tem custos trabalhistas e dívida maior.

Horton tem experiência em gerenciamento de crises. Ele passou 20 anos na American Airlines, mas sua carreira na empresa foi interrompida em 2002, quando foi para a AT&T, onde liderou um processo de reestruturação. A AT&T – que ele define como um ícone das telecomunicações nos Estados Unidos – começou a sofrer uma deterioração em seu fluxo de caixa quando tentou investir, ao mesmo tempo, em TV a cabo, telefonia, longa distância e internet sem fio. Ele conta que a solução foi vender os ativos de TV a cabo, abrir capital da parte de internet e adotar um programa de redução da dívida. Em seguida, a empresa fez uma fusão com a SBC Communications. Da experiência na AT&T, Horton conta que tira "a lição de que todos os desafios podem ser superados".

O executivo nega a possibilidade de fusão ou de venda da American Airlines para outra companhia aérea. E critica a US Airways por lançar esse rumor. "Eles fizeram isso com a United Airlines e com a Delta em suas reestruturações. Mas a US Airways é metade do nosso tamanho", desabafou.

Horton voltou para a American Airlines em 2006 como diretor-financeiro. No fim de novembro de 2011 foi alçado ao posto de CEO, em substituição a Gerard Arpey no dia do pedido de concordata. Otimista, acredita que o processo irá durar menos do que os 18 meses previstos em lei. Ele diz esperar que a reestruturação esteja concluída antes da festa de Natal deste ano. Após esse período, afirma que a companhia estará pronta para voltar a lucrar.
 
No primeiro semestre do ano passado, o prejuízo da companhia aérea – a terceira maior dos Estados Unidos – foi de US$ 722 milhões. A dívida líquida em 30 de junho era de US$ 11,9 bilhões.

Em entrevista do jornal inglês "Financial Times", em 2008, Horton disse que "às vezes gostaria de estar pescando", em vez de enfrentar o stress do dia a dia. Ontem, ele disse que mantém o gosto pelo hobby, mas está feliz à frente da tentativa de reerguer a empresa. Para um executivo de 50 anos que já correu três vezes a maratona de Nova York, não falta energia para enfrentar o processo que ele admite não ser fácil.

(Juliana Rocha | Valor)

 

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