Americana Valeant compra a Bunker e avança em genérico

O grupo americano Valeant anunciou ontem a compra do laboratório nacional Bunker, com sede na capital paulista. Esta é a segunda aquisição da farmacêutica no país em menos de três semanas, como parte do movimento da companhia de reforçar sua posição em medicamentos genéricos.

A nova aquisição está avaliada em cerca de R$ 100 milhões. Somada à compra da Delta, de Indaiatuba (SP), os investimentos em consolidação do grupo no país chegam a R$ 200 milhões. "Agora, com o nosso portfólio maior, podemos trazer para o Brasil estudos clínicos", afirmou ao Valor Carlos Picosse, presidente das operações da Valeant no Brasil.

O movimento de consolidação da Valeant é global, com ênfase em países com potencial de expansão, como o Brasil, e também com possibilidade de diversificação de negócios. Nos últimos 30 dias, a companhia investiu cerca de US$ 330 milhões na compra de um laboratório americano, o Aton Pharma, especializado em produtos oftalmológicos e em drogas órfãs (voltadas para doenças raras ou negligenciadas), e no Canadá, com a Vital Science, afirmou Picosse.

Já os dois laboratórios recém-adquiridos pelo grupo americano no Brasil deverão servir de base para a produção de medicamentos da Valeant e também para desenvolvimento de genéricos. A farmacêutica é especializada em áreas do sistema nervoso central, dermatológica, antibióticos e anti-inflamatórios.

Com três fábricas no Brasil, a Valeant vai concentrar sua produção em Indaiatuba, onde fica instalada a Delta, e no bairro paulistano Cidade Dutra, base da Bunker. "A Bunker trabalha com uma linha de medicamentos similares e genéricos e está entrando em cosmecêuticos (dermocosméticos)", disse.

Toda a produção da fábrica da Valeant, que fica em Campinas (SP), deverá ser transferida para Indaiatuba, que também produz genéricos. A unidade de Cidade Dutra vai manter a produção atual da Bunker e novos produtos que virão da matriz e outras subsidiárias do grupo. "Vamos transferir o pessoal de Campinas para Indaiatuba e pretendemos fazer contratações."

Com faturamento de R$ 55 milhões no Brasil em 2009, a companhia projeta mais do que triplicar sua receita este ano. A meta é atingir R$ 185 milhões com as duas compras. No mundo, a Valeant fatura cerca de US$ 820 milhões.

Criada em 1960, originalmente como ICN (International Chemical Nuclear), a empresa chegou ao país na década de 70, com a aquisição de um laboratório. Em 2005, resolveu se repaginar e passou a se chamar Valeant.

No fim dos anos 90, a empresa adquiriu o medicamento Melleril (antipsicótico), que pertencia à suíça Novartis, e outros três da Roche: Dalmadorm (indutor de sono), Limitrol (antidepressivo) e mestinon (disfunção muscular). Esses remédios já perderam a patente, mas têm grande aceitação pela comunidade médica global.

Além dos medicamentos maduros, o grupo americano também tem parceria, desde 2008, com a inglesa GlaxoSmithKline (GSK) para a distribuição do retigabine (tratamento de dor neuropática), que está sendo desenvolvido pela Valeant. Também no "pipeline" (em desenvolvimento) da empresa está uma nova versão do ribavirin, que combate a hepatite C. Esse medicamento promete reduzir os efeitos colaterais do atual já comercializado no mercado.
 
(Mônica Scaramuzzo | Valor)
 

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