Analistas veem como positiva venda de ativos do Marfrig

Venda é vista como mudança na estratégia da companhia, visando uma reversão do crescimento da dívida da empresa.

A decisão do Marfrig de vender ativos de logística de sua subsidiária Keystone Foods foi vista como um movimento inevitável por analistas do setor. O endividamento da companhia já incomodava o mercado, e a reestruturação é vista como uma boa notícia.

"Eles estão agora organizando a casa, e ficando apenas com o que interessa das últimas aquisições", avalia Cauê Pinheiro, analista da SLW Corretora.

A Marfrig vendeu ativos de logística para a distribuidora americana Martin-Brower, por US$ 400 milhões, conforme anunciado nesta segunda-feira (19/9).

A empresa vendeu a parte da Keystone Foods que realizava a distribuição para redes de fast food, atuando nos EUA, Europa, Oriente Médio, Oceania e Ásia. A Keystone Foods, adquirida em 2010 pela Marfrig, é produtora de alimentos processados e tem como principal cliente o McDonald”s.

A operação deverá ser concluída até o último trimestre do ano, de acordo com a companhia. A empresa declarou que a venda desses ativos de logística permitirá elevar o foco em seu negócio principal de proteínas.

"Já se sabia que a empresa estava alavancada, e a solução encontrada foi desmobilizar uma parte", diz Eduardo Dias, analista de investimentos da Omar Camargo corretora.

Os índices de endividamento da companhia vinham em crescimento. O endividamento líquido havia atingiu R$ 6,39 bilhões no segundo trimestre, um crescimento de 3,9% em relação ao trimestre anterior.

Além disso, o índice de alavancagem alcançou 3,9 vezes o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização na sigla em inglês, indicador de geração de caixa). No mesmo período do ano anterior, esse indicador era de 3,6 vezes o Ebitda.

A empresa enfrenta o desafio de reconquistar os investidores após a forte queda das ações no mês de agosto. No início de agosto, em meio à queda generalizada na bolsa, as ações da empresa foram as mais castigadas, e chegaram a perder 25% em um dia. Com a ação valendo cerca de R$ 7,90 hoje, a empresa tem valor de mercado de R$ 2,74 bilhões, sendo que seu patrimônio líquido chega a R$ 6,16 bilhões.

Trata-se de mais um passo na mudança de estratégia da companhia. Na semana passada, a empresa anunciou a criação da Keystone Foods América Latina, uma nova subsidiária estruturada para concentrar operações tanto da divisão de bovinos quanto da Seara, em logística e distribuição, reunindo 4 mil funcionários.

Eduardo Dias lembra que o Marfrig não foi a única a ser forçada a mudar a estrutura para desalavancar. "Não é um caso específico do Marfrig, outras empresas estão tendo que buscar uma solução para isso", diz o analista. A JBS recentemente fechou uma unidade em Maringá, no estado do Paraná, e uma em Presidente Epitácio, no oeste de São Paulo, somando 2150 demissões.

Para a JBS, a alavancagem atingiu 3,6 vezes o Ebitda no segundo trimestre, frente a 3,1 vezes no trimestre anterior.

"Todos se endividaram em uma expectativa de mercado que não se concretizou de imediato", afirma Dias.

Contudo, no curto prazo, as ações do setor deverão oscilar conforme a expectativa de uma compra de ativos da Brasil Foods. "Os investidores ficam na expectativa até uma aquisição acontecer", diz Pinheiro.

(Felipe Peroni l Brasil Econômico)

+ posts

Share this post