Apple virá para SP, diz governo do Estado

A Apple vai começar a produzir celulares e tablets no Brasil entre setembro e novembro, disse ontem Luciano Almeida, presidente da Investe SP, agência de promoção de investimentos do governo paulista.

Segundo Almeida, a fabricação será feita sob encomenda pela Foxconn no Estado de São Paulo. "Cinco ou seis cidades disputam o investimento", afirmou ele, sem revelar os nomes dos municípios candidatos.

Procuradas pelo Valor, a Apple e a Foxconn disseram que não se pronunciaram sobre o assunto.

Entretanto, o presidente da Investe SP apresentou detalhes do que teria sido acertado entre o governo e a companhia chinesa. Disse que serão produzidos 6 milhões de iPhones e iPads por ano, quando a fábrica atingir sua capacidade máxima, o que deve ocorrer em um prazo de três a quatro anos. A previsão do governo paulista é de que, nesse momento, a produção da Apple no Brasil gere algo entre 4 mil e 5 mil postos de trabalho. Em uma segunda etapa, não está descartada também a fabricação de computadores no país.

De acordo com Almeida, a linha de produção precisa estar montada até junho para que possa entrar em atividade até novembro. O tempo parece curto, mas o presidente da Investe SP disse que é viável. "Não haverá produção. A Foxconn será uma montadora de produtos", explicou. O valor do investimento não foi revelado.

Segundo Almeida, representantes da Apple reuniram-se com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), em fevereiro, e um protocolo de intenções foi assinado em abril. Ele não revelou quais os benefícios oferecidos pelo governo paulista para atrair o projeto. "A Foxconn ainda opera no vermelho no Brasil e a fabricação da Apple ajudaria a viabilizar as operações no país", afirmou.

A montagem de produtos da Apple é o primeiro de três projetos que a Foxconn planeja implementar no Brasil nos próximos anos, afirmou o representante do governo paulista. O movimento seguinte será a centralização das cinco fábricas que a empresa mantém no país em uma única unidade – criando uma Cidade Digital nos moldes da estrutura que a companhia asiática mantém em Shenzen, na China.

Numa terceira etapa, está prevista a construção da fábrica de telas de cristal líquido – anunciada pelo governo federal durante a visita da presidente Dilma Rousseff à China, no mês passado. Nessa última fase, o investimento pode variar entre US$ 3 bilhões e US$ 7 bilhões. "Vai depender da tecnologia empregada", disse Almeida a jornalistas durante a inauguração de um centro de tecnologia da Alcatel-Lucent.

Há três semanas, o ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, afirmou que a Foxconn anunciou que faria investimentos de US$ 12 bilhões no país, nos próximos anos.

Segundo fontes do governo federal, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio pode concluir até o fim do mês a análise das demandas da Foxconn para investir no Brasil. A avaliação será então enviada para a Casa Civil.

A estimativa é de que em um prazo de até 90 dias o governo tenha uma decisão final sobre o que será oferecido à empresa. "Essa é uma prioridade para a presidente Dilma". Se demorar muito, ela puxa a nossa orelha", disse um interlocutor do governo envolvido no projeto.

A pressa é para evitar que a Foxconn desista de investir no Brasil e resolva ir para outro país, a exemplo do que aconteceu com a Intel em meados dos anos 90. Por demora do governo, a fabricante americana acabou aplicando US$ 300 milhões na Costa Rica. O evento criou uma lenda no setor de tecnologia. De acordo com a história, a decisão foi tomada porque os executivos da Intel foram recebidos com pompa pelo governo costa-riquenho. No Brasil, eles teriam sido recebidos por integrantes do terceiro escalão. No entanto, executivos da Intel negam ter sido essa a razão da desistência.

Entre os pedidos da Foxconn para investir no Brasil estão a redução de impostos e um regime alfandegário diferenciado, que ofereça menos burocracia na exportação de produtos. A companhia também pede que seja possível entregar contêineres diretamente aos navios atracados nos portos, sem paradas para preenchimento de documentos ou pagamento de taxas.

(Talita Moreira e Gustavo Brigatto l Valor)

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