Biomm terá fábrica de insulina no país

A Biomm Technology deverá anunciar nas próximas semanas um investimento avaliado em pelo menos R$ 300 milhões para a construção de uma fábrica de insulina no Brasil, apurou o Valor. A nova unidade deverá ser erguida em Minas Gerais, próxima à capital do Estado, e será financiada, em boa parte, pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)

A companhia brasileira, especializada em biotecnologia, detém a patente para a produção de cristais de insulina. A Biomm está sendo assessorada pelo banco Itaú BBA nesse projeto. Controlada pelos empresários Guilherme Emerich e Walfrido dos Mares Guia (ex-ministro do Turismo no governo Luís Inácio Lula da Silva), a Biomm foi criada a partir da cisão da Biobrás, empresa produtora de insulina que pertencia aos dois empresários e que foi vendida em 2002 para a farmacêutica dinamarquesa Novo Nordisk.

Com um sócio de peso, a BNDESPar (braço de participações do BNDES), que tem 15% na companhia, a Biomm quer retomar a produção de insulina no Brasil. "Quando a Biobrás foi vendida para a Novo Nordisk, os dinamarqueses também detinham a tecnologia para a produção de insulina. Eles compraram os ativos, mas não a patente, que ficou com os proprietários da Biomm", afirmou uma fonte ao Valor.

Com a venda da Biobrás para a multinacional, a insulina passou a ser importada da Europa. Atualmente, as multinacionais Novo Nordisk, a maior produtora global desse medicamento, a francesa Sanofi-Aventis e a americana Eli Lilly são os principais competidores no país.

Há dois anos, a Biomm ensaiou sua retomada no mercado nacional, com a transferência de sua tecnologia para o laboratório brasileiro União Química. A parceria entre as duas companhias, contudo, não foi levada adiante.

Além da patente para a produção de insulina, a companhia nacional detém tecnologia para outros produtos biotecnológicos, utilizados pelas farmacêuticas, e atua na área de biocombustíveis, por meio de processo de produção de enzimas para a fabricação de etanol a partir da biomassa. Procurados para falar sobre o futuro investimento, os acionistas da Biomm e o BNDES não comentaram o assunto.

Atualmente, há duas formas de se produzir o medicamento. A primeira é extrair a insulina do pâncreas do boi ou do porco, que passa por um processo de purificação. O outro método, dominado por algumas empresas, incluindo a Biomm, é a combinação do gene da insulina humana com uma bactéria, o chamado DNA recombinante. O gene é introduzido na bactéria, que reproduz a insulina.

Com um potencial de expansão grande no Brasil, o mercado de insulina tem crescido 15% nos últimos dois anos. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o número de pessoas com diabetes que, em 2000, somava 150 milhões, chegou a 285 milhões em 2010 e deve avançar para 435 milhões em 2030. No Brasil, há 7,6 milhões de pessoas com diabetes. Do total de diabéticos, 90% são do tipo 2.

Nos últimos dois anos, a dinamarquesa Novo Nordisk tem sido fornecedora exclusiva de insulina para o Ministério da Saúde. Gustavo Mizraje., presidente da companhia no país, afirmou que em 2010 o grupo forneceu 13,5 milhões de frascos do produto para o governo federal. Neste ano, foram entregues 15,5 milhões de frascos. O grupo importa da Europa os cristais de insulina e finaliza a formulação do produto em sua fábrica de Montes Claros (MG), da antiga Biobrás, adquirida em 2002.

O executivo da multinacional acredita que a construção de uma nova fábrica no país não representa uma ameaça. "Cerca de 50% das pessoas com diabetes não sabem que têm a doença", afirmou. A farmacêutica trouxe para o Brasil este ano seu novo medicamento de combate à doença, o Victoza. Esse produto, considerado de ponta, nos últimos meses, também tem sido prescrito para emagrecimento. Mas a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) não aprovou a prescrição para este fim – somente para o tratamento da diabete.

(Mônica Scaramuzzo e Ivo Ribeiro | Valor)

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