BofA coloca em prática estratégia para atrair multinacional no país

Menos de um ano após conseguir a autorização do Banco Central para operar como banco comercial no Brasil, o Bank of America Merrill Lynch está com tudo pronto para colocar em prática sua estratégia local. A ideia é ampliar o relacionamento com as multinacionais daquele país presentes no Brasil e também com as brasileiras com acesso ao mercado internacional. No centro desse planejamento está a implantação no país do sistema de pagamentos global (global treasury solution – GTS), uma das divisões que mais cresce entre os maiores bancos do mundo.
 
O GTS é justamente a área responsável pela oferta de produtos e serviços para as companhias que atuam em diversos países, como gestão de caixa, administração da liquidez e financiamento ao comércio exterior, por meio de uma plataforma única, o que facilita o gerenciamento do caixa. A instituição já concluiu a infraestrutura de sistemas e parte agora para colocar em prática seu plano de expansão da clientela.
 
Além das multinacionais americanas e asiáticas já presentes no país, o Brasil começa a receber, em número cada vez maior, as médias empresas dos Estados Unidos – nicho em que o BofA tem presença importante -, que aportam para se integrar às cadeias produtivas locais comandadas pelas gigantes americanas, conta Juan Pablo Cuevas, chefe da área de global treasury solution para América Latina.

É o que ele chama de "segunda onda". "A América Latina sempre foi importante, mas agora, dentro dos emergentes, aqui está o principal crescimento", diz o executivo, que fica baseado em Miami, mas visita o Brasil frequentemente.
 
Hoje o banco já atende mais de uma centena de empresas, mas o objetivo é crescer rapidamente, conta Marcelo Moussalli, chefe da área de vendas corporativas do GTS para toda América Latina. Até por isso a velocidade de implantação da plataforma, em menos de um ano, era uma necessidade. "Precisávamos fazer rapidamente para não perder o momento positivo pelo qual passa o Brasil", diz.
 
"O potencial é de que os clientes se tornem milhares em breve, justamente por sermos o maior banco entre as pequenas e médias empresas americanas e termos uma presença forte entre as maiores", completa ele. Outro que tem apostado fortemente nesse mercado no Brasil é o também americano Citi, que neste ano transferiu o comando da sua divisão de GTS na América Latina para São Paulo.
 
Antigo representante legal do BofA no país antes da fusão com o Merrill Lynch, Moussalli ajudou na implantação do banco comercial no último ano e também no desenvolvimento da plataforma global aqui no país. Com o sistema rodando, o executivo brasileiro, recém-promovido, passou a comandar, a partir de São Paulo, toda a divisão comercial do GTS para a América Latina.
 
Entre os produtos oferecidos está a gestão de caixa, pagamentos, administração dos investimentos e o financiamento ao comércio exterior. O banco também começou a desenvolver o serviço de custódia e já tem a oferta de cartão de crédito corporativo com bandeira MasterCard. "O GTS permite ter o cliente permanentemente dentro do negócio", acrescenta Cuevas.
 
A estratégia anda junto, evidentemente, com o banco de investimento, que já tem boa presença no Brasil. "O GTS é a ligação mais forte que temos com o setor corporativo. É o laço de relacionamento com as empresas", explica Cuevas. "É importante porque as outras áreas de negócios do banco podem fazer o ”cross-sell” [venda cruzada], como o corporate banking [atacado], o banco de investimento, e a área de ”global markets” [tesouraria]."
 
Cuevas ressalta que o investimento feito em tecnologia, que ele diz ter sido "importante", representa o compromisso de longo prazo com o país. "Temos uma base corporativa mundial muito grande. Então é uma responsabilidade abrir o mercado brasileiro para eles. E abrir bem. Não estou aqui para ficar três meses", diz. Isso vale também, afirma, para as empresas brasileiras. "Quero trabalhar com o corporativo global, mas estou construindo relacionamento com o corporativo brasileiro."
 
A volta do BofA ao Brasil – além de um escritório de representação a instituição teve participação no BankBoston – coincide com a melhora do sistema financeiro americano. Passada a crise bancária, que levou à compra da Merrill Lynch pelo BofA, no auge da crise, o banco acelerou a implantação do banco comercial por aqui.

(Fernando Travaglini | Valor)
 

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