Butiques avançam no mercado de fusões e aquisições

Com o aquecimento das operações de fusões e aquisições no Brasil, as assessorias financeiras independentes têm ganhado espaço nesse mercado, disputando as transações com bancos de investimento. A participação das butiques de investimento nessas operações passou de 17% em 2010 para 24% no ano passado.
 
Em 2011, 11 empresas independentes participaram de 43 dos 179 negócios com valor acima de R$ 20 milhões, segundo ranking da Anbima.
 
Duas delas, a BR Partners e a Vinci Partners, estão entre as dez primeiras posições em termos de volume das operação. Outras, como a Aria Capital, Inspire Capital, DealMaker, Cypress e Rosenberg Partners, têm ganhado mercado buscando explorar o nicho de empresas médias.
 
A expectativa é que este ano acabe por superar 2011 em número de operações fechadas – foram registrados 817 negócios no ano passado. "A perspectiva para 2012, embora permeada por incertezas, é muita positiva", afirma Ricardo Anhesini, sócio-líder da área de serviços financeiros da KPMG no Brasil.
 
A consolidação em alguns setores e o maior interesse dos investidores estrangeiros, atraídos pelo crescimento da economia brasileira e investimentos no setor de infraestrutura, têm aberto oportunidades para a atuação das butiques de investimento.
 
A Vinci, por exemplo, participou de sete operações no ano passado e tem mais 15 negócios em andamento. Entre os negócios fechados no ano passado estão a assessoria à Química Amparo na compra da Assolan da Hypermarcas e a venda da participação dos acionistas minoritários da usina Santa Cruz para a São Martinho.
 
Formada por executivos que cuidavam dos investimentos próprios dos sócios do antigo Banco Pactual na Pactual Capital Partners (PCP), a Vinci busca usar a experiência na gestão de empresas, adquirida à frente dos fundos de private equity na PCP, na assessoria aos clientes, afirma Felipe Bittencourt, sócio responsável pela área na Vinci.
 
A experiência na área de finanças corporativas e fusões e aquisições no Banco ING também ajudou os executivos Alexandre Rezende e Marcos Rezende da Inspire Capital na captação de clientes. Criada em 2009, quando o banco holandês deixou de atuar nessa atividade no Brasil, a assessoria participou no ano passado de grandes transações como a compra da farmacêutica Mantecorp pela Hypermarcas por R$ 2,5 bilhões. "Temos foco em poucas operações e devemos fechar neste ano de quatro a oito negócios", afirma Marcos Rezende.
 
Atuando no segmento de empresas de médio porte com faturamento entre R$ 100 milhões e R$ 1 bilhão, a Cypress também tem se destacado nesse mercado. No ano passado, a assessoria participou de 11 operações e já tem mais seis em análise. "A demanda por parte de investidores estrangeiros está aquecida. Das seis transações, duas envolvem grupos internacionais", diz Luiz Felipe Alves, sócio fundador da Cypress.
 
O interesse dos investidores estrangeiros não se restringe às empresas multinacionais. A assessoria financeira DealMaker tem recebido demanda de empresas europeias de médio porte, com faturamento de até € 1 bilhão, que não têm operação no Brasil e,com a crise na Europa, começaram a investir na expansão em mercados emergentes.
 
Com atuação mais forte no setor de TI e telecomunicações, a DealMaker participou no ano passado de três operações, entre elas a aquisição de 56% da Sascar Tecnologia pela GP Investimentos, e já tem 18 mandatos para este ano. "Crescemos 35% em relação a 2010", afirma Marcos Millão, sócio da DelMaker.
 
O movimento inverso também tem ocorrido. Com a crise financeira na Europa já há demanda de empresas europeias para encontrar compradores para suas operações lá fora. A Rosenberg Partners, por exemplo, tem recebido pedido de butiques europeias à procura de compradores para seus clientes. "Já temos discutido algumas iniciativas no setor de logística e cosméticos, envolvendo companhias que tenham significativa participação de mercado no exterior", afirma Luis Paulo Rosenberg.
 
Há dez anos no mercado, a consultoria tem como foco atender empresas com faturamento entre R$ 50 milhões e R$ 500 milhões. No passado, a Rosenberg assessorou cinco transações, entre elas a aquisição da CDC Brasil pela distribuidora americana de produtos de TI ScanSource por R$ 200 milhões e está trabalhando na estruturação de 16 operações. "Temos visto oportunidade também nos setores de consumo, imobiliário, tecnologia, agronegócio e de alimentos."
 
Com os caixas cheios, os fundos de private equity têm sido bastante ativos nessas transações.
 
Das negociações em que a Rosenberg está participando neste ano, metade envolve fundos. Em 2011, a consultoria assessorou a venda das grifes VR Menswear e VR Kids, pertencentes ao grupo BR Label, para a Inbrands, controlada pelo fundo de private equity da PCP.
 
A Aria Capital, sediada no Rio de Janeiro, também tem sido contratada para buscar negócios para gestoras de private equity.
 
Criada em 2007 por ex-executivos de bancos de investimento, a Aria participou de três operações em 2011, sendo uma delas a assessoria para a Produman Engenharia na transação com o fundo Brazil Mezanino Infraestrutura, administrado pela gestora americana Darby, envolvendo financiamento de R$ 58 milhões. "Atuamos desde a preparação do cliente para receber o aporte do investidor", diz José Carlos Osório, sócio da Aria.
 
A assessoria financeira atua principalmente no segmento de empresas de médio porte e tem quatro operações em andamento, nos setores de óleo e gás, indústria naval, moda e higiene e limpeza. Duas dessas operações devem ter a participação de fundos de private equity. "A vantagem da butique de investimento é a independência na escolha de um sócio para a transação. Um banco de investimento pode ter o interesse de fazer um empréstimo-ponte lá na frente ou empurrar a empresa para a abertura de capital", diz Osório.
 
Para Anhesini, da KPMG, as operações de fusões e aquisições no Brasil devem continuar sendo lideradas por empresas nacionais, principalmente em segmentos ligados ao mercado interno, como os setores têxtil e de serviços. Das 817 operações registradas em 2011, 410 envolveram empresas controladas por capital brasileiro.

(Silvia Rosa | Valor)

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