Camargo Corrêa faz oferta à Votorantim por ações da Cimpor

O grupo Camargo Corrêa avança mais um passo para assumir o controle da cimenteira portuguesa Cimpor, após o lançamento, no fim de março, de uma oferta pública de aquisição de ações (OPA) pelos 67% restante do capital da empresa. O grupo acaba de formalizar uma proposta de troca de ativos da Cimpor pela participação de 21,2% da Votorantim Cimentos (VC) na empresa. Atualmente, já é a maior acionista da Cimpor, com 32,9% do capital acionário.
 
Segundo a oferta, a Camargo propõe entregar à Votorantim, em troca de suas ações, as unidades industriais de cimento e concreto da Cimpor na China, na Espanha (com exceção de Cimpor Inversiones e Cimpor Sagesta), na Índia, no Marrocos, na Tunísia, na Turquia e no Peru. A proposta consta do novo prospecto da OPA, com dados complementares, entregue à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) no fim de semana.
 
O desenho da operação prevê duas etapas. Na primeira, a Camargo Corrêa entrega e incorpora na Cimpor todos os ativos da sua controlada InterCement, localizados no Brasil, na Argentina, no Paraguai, na Bolívia e em Angola. Em contrapartida, a InterCement fica com ativos e, numa segunda fase, os repassa à VC.
 
A operação faz parte do plano da Camargo Corrêa para consolidar-se globalmente nesse setor. Com isso, assume a Cimpor, uma das dez maiores fabricantes de cimento do mundo. Em 30 de março, a companhia deu o primeiro passo ao lançar a OPA para adquirir as ações restantes da empresa portuguesa.
 
O valor da oferta, de € 5,5 por ação, significaria pagar € 2,48 bilhões para ter a totalidade das ações em poder dos demais acionistas. A Caixa Geral de Depósitos (CGD), entidade do governo português, com 9,6%, e o fundo de pensão do banco BCP, com 10%, aderiram à OPA, aceitando vender seus papéis.
 
De acordo com o novo documento da OPA, a Votorantim não aderiu à oferta, daí a razão da proposta de troca de ativos por sua participação. Se tiver sucesso nessa operação, a Camargo passaria a controlar 74% do capital da "nova Cimpor".
 
O empresário português Manuel Fino, dono de 10,7% da cimenteira, não manifestou até o momento decisão de venda de sua parte. O restante dos papéis (pouco mais de 15%) está pulverizado no mercado e em bolsa.
 
Pela proposta, a "nova Cimpor" manteria os ativos de Portugal, Brasil, África do Sul, Moçambique, Egito e Cabo Verde e somaria a eles as operações atuais da InterCement no Brasil, na Argentina, no Paraguai, na Bolívia e em Angola.
 
No documento, José Édison Barros Franco, que preside o conselho administrativo da InterCement, diz que a Cimpor sairá reforçada com a integração de ativos, além de aumentar sua presença na África. "Será mais forte e competitiva, continuando a ser uma empresa portuguesa internacionalizada", afirma.
 
Segundo a Camargo, o negócio permitirá fortalecer a presença da cimenteira em mercados com elevado potencial de crescimento, em particular na América do Sul e no Brasil, podendo continuar construindo um portfólio equilibrado entre mercados maduros e mercados emergentes. Além disso, destaca, a operação cria uma estrutura societária estável, pois, ressalta ele, a empresa tem hoje "uma base acionária fragmentada e sem coerência estratégica" devido às mudança de sócios em 2009 e 2010.
 
O grupo comprometeu-se a manter a sede e o centro de decisão da cimenteira em Portugal, bem como a marca Cimpor.
 
A Cimpor, com 42 fábricas em 12 países, dispõe de capacidade instalada de produção de 36,5 milhões de toneladas de cimento por ano. Em 2011, fabricou e vendeu 27,5 milhões de toneladas, além de 6,8 milhões de metros cúbicos de concreto, com receita de quase € 2,3 bilhões. A unidade brasileira contribuiu com quase um terço do resultado operacional (Ebitda). Tem também uma fábrica em construção no Peru.
 
No ano passado, a InterCement, com 16 unidades fabris, produziu e vendeu 12,6 milhões de toneladas, com receita líquida de R$ 2,9 bilhões. A capacidade instalada, segundo informa, é de 16 milhões de toneladas/ano, dividida entre Brasil e Argentina, além de unidades em construção em projeto.
 
A Camargo declara que o desenho da operação, com a saída da Votorantim do capital da Cimpor, permite "harmonizar as questões concorrenciais no Brasil". A presença dos dois grupos na cimenteira portuguesa, desde fevereiro de 2010, levou os órgãos antitruste brasileiros a travar o negócio. A VC é líder (mais de 40% do mercado) e a InterCement o terceiro (com 10%) maior produtor local. A Cimpor Brasil é o quarto, com 9% das vendas. O caso está em análise no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
 
Com base no contexto concorrencial e nos interesses de ambos os lados, a Camargo considera que "existe uma probabilidade muito forte de a Votorantim Cimentos S.A. vir a aceitar esta proposta". Informa que teve conversações com a VC após o lançamento da OPA.
 
A Votorantim informou, em nota, que ainda não recebeu a nova proposta de OPA da InterCement e que irá se manifestar sobre ela só após analisar o documento. E na semana passada formalizou sua intenção de não vender sua participação nas bases da OPA de 30 de março.

(Valor)
 

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