Carrefour estuda fusão com Pão de Açúcar no Brasil, diz jornal francês

A imprensa francesa divulgou ontem que o grupo Carrefour concedeu mandato ao banco de investimentos Lazard para estudar a possibilidade de fusão entre sua filial brasileira e o Grupo Pão de Açúcar. A informação foi publicada originalmente pelo "Journal du Dimanche" e depois reproduzida pelo site do "Le Figaro". De acordo com as publicações, o Carrefour estuda essa opção por causa de "dificuldades" enfrentadas no Brasil.

No ano passado, a matriz detectou uma fraude contábil avaliada em € 550 milhões nas contas da operação brasileira. A origem do problema foi a forma como a subsidiária contabilizou bonificações recebidas de fornecedores e os volumes de estoques de produtos nas lojas. A empresa teria vendido menos do que o previsto nos últimos anos, mas não teria dado "baixa" nos números, o que "inflava" os resultados apresentados à França.

Para uma fonte ligada ao Grupo Pão de Açúcar, em tese a negociação entre as redes faria sentido, embora ressalte que não teve qualquer informação sobre conversas em andamento. "Há um grupo de acionistas minoritários no Carrefour que pode querer se desfazer de alguns ativos, assim como foi na Tailândia, vendida para o Casino", disse a fonte, lembrando que, no Brasil, o grupo francês Casino é sócio do Pão de Açúcar. "Nesse caso, a negociação poderia ocorrer diretamente entre Carrefour e Casino na França", afirma. Na época da compra da unidade tailandesa do rival, o Casino divulgou que via potencial de vendas € 2,4 bilhões anuais naquele país. Um montante bem inferior ao gerado pela filial brasileira do Carrefour.

"O Brasil é importante para a receita do Carrefour, mas não adianta ser importante e não ser sustentável", diz a fonte, referindo-se à fraude contábil descoberta no ano passado. A receita bruta da operação brasileira da varejista francesa, de R$ 29 bilhões em 2010, é nferior à do Pão de Açúcar (que teve vendas de R$ 36,1 bilhões em 2010, considerando Ponto Frio e Casas Bahia). Juntas, as duas redes teriam pouco mais de 30% das vendas totais do setor de supermercados, que somaram R$ 201,6 bilhões em 2010.

Procurados, o Carrefour Brasil e o Grupo Pão de Açúcar informaram que não comentam rumores. Segundo os jornais franceses, nem representantes do Carrefour nem do Casino comentaram a notícia.

Em 2010, Luiz Fazzio (ex- Walmart, Pão de Açúcar e C&A) foi chamado para suceder Jean-Marc Pueyo na direção da empresa no país, tornando-se o primeiro presidente brasileiro à frente do Carrefour Brasil. No ano passado, o país ultrapassou a Espanha e se tornou a segunda maior operação da multinacional no mundo, só perdendo para a França.

Se confirmada, a venda da operação no país será o ápice de um período de inferno astral do Carrefour Brasil, que teve início ainda na gestão de Pueyo, na revisão do modelo de hipermercados, que vem perdendo espaço em todo o mundo, e culminou nos problemas com as contas da filial.

Não é a primeira vez que circulam notícias sobre a venda da filial brasileira na imprensa francesa. O assunto também esteve em pauta em 2009, quando acionistas como o magnata Bernard Arnault, do grupo de luxo LVMH, intensificaram a pressão por resultados. A venda sempre foi negada pelo grupo. Mas a varejista vêm pondo em marcha um plano de reestruturação que inclui a venda de ativos, como a que ocorreu na Tailândia, e o desmembramento e abertura de capital de sua rede de descontos Dia. Segundo a Reuters, analistas estimam que o plano possa incluir a venda de operações como Colômbia, Indonésia, Malásia, Portugal, Romênia, Cingapura e Taiwan, cada uma representando menos de 2% do faturamento do grupo. (Colaborou Adriana Mattos)

(Daniele Madureira e Assis Moreira | Valor)

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