Casamento por interesse garante resultados

Os investidores de private equity e venture capital buscam companhias prontas para multiplicar as receitas, querem atuar na gestão e influenciar nos planos de expansão das empresas. "Trata-se de capital inteligente, incrementado com experiência executiva. O investidor é um sócio que realmente fará a diferença", explica Maria Luísa Campos Machado Leão, diretora da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI). O novo sócio, portanto, vai cobrar resultados e trabalhar para que a empresa cresça.

Robert Binder, diretor da Antera – gestora do fundo de capital semente Criatec, cujo volume de aportes soma R$ 100 milhões (80% de recursos vindos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES e 20% do Banco do Nordeste – BNB) – deixa claro que investidor não é banqueiro. Foge do perfil de quem empresta dinheiro e não está interessado em empreender com meta de abrir uma franquia, ampliar a padaria ou reforçar o fluxo de caixa. "Este dinheiro só está disponível para quem tem um negócio com possibilidade de ganho expressivo. É assim que funciona o capital de risco", ressalta.

No caso do Criatec, o objetivo do fundo de capital semente é investir em empresas que estão em início de operação (incluindo os negócios em estágio zero), com perfil inovador e que projetem um elevado retorno. Os investimentos do BNDES seguem a lógica da Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP), lançada em 2008 pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), cuja estratégia é investir e inovar para ampliar a competitividade nas cadeias produtivas. Agora, com o nome de Brasil Maior, a política continua sua aposta na inovação para reestruturar a indústria nacional. "Nos últimos quatro anos, investimos em 36 empresas com faturamento anual de até R$ 5 milhões", destaca Binder.

Segundo Sidney Chameh, sócio da DGF Investimentos e ex-presidente da Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital (ABVCAP), para atrair o investidor, o empreendedor precisa ter em mente que terá um sócio exigente, fruto de um "casamento" por interesse. A relação é composta por um investidor que, ao final do contrato, quer o seu dinheiro de volta – devidamente multiplicado – e por um empreendedor com um negócio original e inovador, capaz de ganhar mercado rapidamente e ampliar o faturamento da empresa.

O alcance das metas exigirá também mudança de postura do empreendedor. Acostumado a mandar sozinho, ele terá de submeter suas decisões a um conselho executivo, terá de ouvir seu sócio e precisará ainda aceitar interferências e sugestões. O empreendedor também precisa estar preparado para vender a empresa e partir para um novo negócio, caso surja uma proposta de compra irrecusável e que inclua a venda de 100% das ações.

"Para saber se é candidato à busca de um investidor, o empreendedor tem de montar um plano de trabalho detalhado, conhecer profundamente o mercado, os produtos e estabelecer uma visão de futuro. Esse processo é, antes de tudo, um exercício de autoconhecimento – do empreendedor e do negócio", afirma Mario Bandeira, sócio da consultoria BF5. (CA)

(Valor)

 

 

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