Climatempo prevê ventos favoráveis na América Latina

Milhões de consumidores não saem de casa sem consultar a previsão do tempo, embora muitas pessoas se mostrem céticas quanto às análises apresentadas. Longe de ser um exercício de adivinhação, a meteorologia é baseada em ciência, com dados coletados de satélites e cálculos processados em supercomputadores. A atualização constante das informações tem levado a um índice de acerto cada vez maior. Sem concorrência direta da iniciativa privada no país desde 2002, quando o canal The Weather Channel, da empresa americana Landmark Communications, deixou o Brasil, o Climatempo tem agora mais uma oportunidade de crescer. As novas regras para televisão por assinatura, que impõem um terço de programação de canais qualificados nas operadoras, abrem espaço para as empresas brasileiras.
 
Animado com as mudanças, o presidente da Climatempo, Carlos Magno, já planeja a consolidação do negócio no Brasil e, futuramente, a criação de canais locais em demais países da América Latina. O executivo afirma que o canal já foi considerado qualificado pela Agência Nacional do Cinema (Ancine) e que o próximo passo é o obter o credenciamento.
 
"Não teremos que fazer mais investimento, só precisávamos de mais espaço", diz Magno, que nos anos 90 atuou como "o homem do tempo" no "Jornal Nacional", da TV Globo. Hoje, sua empresa produz programação para a TV Climatempo, para TVs por assinatura e para 50 emissoras abertas.

A meta é oferecer o canal inteiro para os radiodifusores. O canal está presente na grade da Sky, com 3,5 milhões de clientes, e em três afiliadas da Net Serviços, sendo que nas demais unidades da Net aparece apenas como serviço, e não canal. Atende ainda a base da GVT. Segundo Magno, só concorre com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), que é do governo, e com a Somar Meteorologia.

Magno diz que até a votação do projeto de lei complementar (PLC 116), que vai estabelecer nova regulamentação para a área de TV paga, "as portas estavam fechadas pelos operadores, que diziam não haver espaço". O executivo reconhece que, de fato, é difícil competir com Sony, TNT e HBO, por exemplo, que juntos trazem muitos canais, enquanto o Climatempo é independente. Isso porque, explica ele, quando os operadores iam separar o espaço e dividir o espectro não sobrava nada para os independentes: "Mas, 30% num ”line-up” de 100 canais abre muito espaço."
 
Magno disse que só pretende expandir as atividades para outros países da América Latina quando puder abrir canais locais e ficar próximo aos clientes. "Não queremos cometer o mesmo erro do Weather Channel, que transmitia para o Brasil a partir de Atlanta [Estados Unidos]", diz o executivo, que coloca também como condição ter um parceiro internacional. Por enquanto, oferece informações via portal Terra para 17 países da América Latina e Caribe.
 
Para fazer suas análises, a Climatempo criou um software com modelo matemático que roda em supercomputador próprio – são 17 servidores com processamento paralelo. A empresa faz detalhamento dos modelos globais com cortes de informação até por bairro. O software representa numericamente em uma grade como a atmosfera se movimenta no mundo todo, a partir de dados obtidos gratuitamente por satélites globais. A partir daí, os técnicos vão fechando as informações em grades menores por regiões.
 
O modelo permite calcular a previsão do tempo para o prazo de um a 15 dias. A previsão do clima, que é mais geral, pode se estender para um período maior, de até um ano, podendo-se considerar que os dados sejam de boa confiabilidade para até seis meses, diz Magno. Embora não esteja ligado a nenhum grande difusor ou emissora, a Climatempo produz programação durante 24 horas. Além dos assinantes de TV, a Climatempo conta com cerca de 2 mil clientes empresariais e, na internet, 10 milhões de visitantes únicos por mês e 150 milhões de "pageviews" (visualização de páginas) por mês. Entre os clientes estão mais de 300 agências de publicidade e produtores de shows, por exemplo, que querem saber a previsão do tempo para decidir sobre tomadas externas, seguro para shows etc. A empresa fatura R$ 4 milhões com consultoria, R$ 5 milhões com internet e celular e R$ 1,5 milhão com TV, afirma o executivo. Se o serviço da Climatempo atingir toda a base de TV paga, que tem cerca de 11 milhões de assinantes, o segmento de televisão passará a liderar os negócios.

(Ivone Santana l Valor)

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