Com 50% da Electra, Petrópolis entra no setor de energia

O grupo Petrópolis, dono das marcas de cerveja Itaipava e Crystal, entrou surpreendentemente no setor elétrico. Sem ter feito nenhum anúncio formal ao mercado, a empresa comprou 50% de participação das empresas Electra Energy e Electra Power. O valor do negócio é mantido em sigilo, mas a cervejaria confirmou a aquisição, por meio de nota, após consulta feita pelo Valor.
 
As duas companhias, sediadas em Curitiba, pertenciam a um grupo de sete empresários locais – que mantêm participação acionária de 50% – e estão no mercado de energia desde o início da década passada. O foco de ambas é em fontes renováveis, principalmente pequenas centrais hidrelétricas (PCHs), com até 30 megawatts (MW) de potência.
 
"O segmento de energia passou a ser avaliado pelo grupo Petrópolis devido ao consumo elevado de suas unidades fabris e a partir do compromisso de contribuir para o desenvolvimento do país", afirmou a empresa, em nota. Segundo ela, o grupo busca atuar em segmentos "promissores em termos econômicos" e decidiu fazer a aquisição "ao vislumbrar o crescimento da demanda de energia no mercado".

A Electra Energy atua no segmento de comercialização, que faz a ponte entre geradores de energia e consumidores livres – na maioria indústrias e grandes varejistas, como shopping centers ou hipermercados. Tem na sua carteira de clientes pesos-pesados como Marcopolo, Danone, Rhodia, Walita, Gomes da Costa, o Shopping SP Market e o hotel resort Costão do Santinho, além do próprio grupo Petrópolis.
 
Já a Electra Power, que foi constituída em 2004, é sócia de sete pequenas hidrelétricas que estão em funcionamento e totalizam 29 MW de potência. Ela tem participação também em oito empreendimentos em construção, que somam quase 80 MW.
 
São usinas localizadas em Mato Grosso, Rondônia, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Na nota enviada ao Valor, a Petrópolis diz que sua opção por uma empresa dedicada a fontes renováveis de energia se explica pela "característica de investimentos em conservação do meio ambiente, haja visto as premiações recebidas".
 
Na realidade, o foco da comercializadora sempre foram fontes limpas de energia. Uma evidência disso é que ela está entre as líderes do setor no atendimento a consumidores especiais – categoria na qual se encaixam empresas com demanda entre 0,5 MW e 3 MW. Esses consumidores só podem deixar de ser clientes das distribuidoras de suas regiões e migrar para o mercado livre caso comprem energia proveniente de fontes incentivadas, como usinas eólicas, solares ou pequenas centrais hidrelétricas.

Em 2011, a Electra Energy faturou R$ 257 milhões. Os negócios da Electra Power ainda estão em estágio inicial, mas a empresa possui uma carteira de projetos robusta, que sinaliza crescimento: são 86 empreendimentos previstos para construção futura – 67 projetos básicos de PCHs, nove inventários de hidrelétricas, quatro projetos de geração eólica, quatro projetos de viabilidade e dois de geração a biomassa.
 
Além da cervejaria, onde concentra suas atividades, o grupo Petrópolis tem uma atuação menos expressiva no agronegócio.
 
No ramo da comercialização de energia elétrica, a compra de parte da Electra pela Petrópolis reforça uma tendência recente, com a aquisição de empresas por atores novos nesse segmento. No fim de 2010, o BTG Pactual foi o primeiro grupo financeiro a ter uma comercializadora própria de energia. No mês passado, o Pátria Investimentos comprou 50% da Capitale, comercializadora independente que faturou R$ 215 milhões no ano passado.
 
O mercado livre de energia já movimenta cerca de R$ 30 bilhões por ano e representa 28% de toda a eletricidade consumida no país, mas ainda tem forte potencial de crescimento. Sem alterar os requisitos mínimos para a entrada de empresas, esse mercado "está aberto a dez mil consumidores e pode atingir 46% do consumo nacional", segundo Reginaldo Medeiros, presidente da Abraceel, a associação que representa as comercializadoras.
 
Em evento realizado ontem, na Câmara dos Deputados, a Abraceel e outras oito entidades do setor elétrico lançaram uma campanha a favor da ampliação e do aprofundamento do mercado livre. Hoje ele se limita a empresas cuja demanda é superior a 3 MW. Quem tem demanda a partir de 0,5 MW, o equivalente a uma conta de luz perto de R$ 500 mil por mês, pode ser enquadrado como consumidor especial.
 
De acordo com a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), 1.645 empresas faziam parte do mercado livre no fim do ano passado, em algum momento da cadeia produtiva: eram 1.101 consumidores livres ou especiais, 312 produtores independentes e 113 comercializadores, entre outros. O número de agentes associados aumentou 17,2% na comparação com 2010.
 
A expectativa da CCEE é ultrapassar o patamar de 2 mil empresas em meados do ano e alcançar 2,3 mil agentes no fim de 2012.

(Daniel Rittner | Valor)

 

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