Com nova estratégia, Oi prepara seu renascimento

A Oi vai ganhar mais uma data de fundação: hoje, 17 de abril, quando a companhia apresenta ao mercado seus planos para os próximos quatro anos, no encontro com investidores e analistas chamado "Oi Day".
 
Fruto da reestruturação societária que combinou as empresas do grupo Telemar – Tele Norte Leste Participações e Telemar Norte Leste – e a Brasil Telecom, a companhia tem tudo como numa estreia: primeiro evento do presidente novo, Francisco Valim, nova cobertura de analistas, balanço de abertura, entre outros.

Os desafios da companhia que trouxe ao país o conceito de convergência tecnológica, contudo, permanecem os mesmos. E o que os analistas e investidores esperam para o evento é que a Oi apresente respostas aos velhos problemas.
 
A empresa se reinventou e chegou ao menor valor de mercado entre as pares do setor, R$ 16,7 bilhões, aproximadamente. As suas concorrentes TIM e Vivo valem significativamente mais: R$ 27,3 bilhões e R$ 59,5 bilhões, respectivamente.
 
Segundo dados da Bloomberg, os analistas, por enquanto, não veem potencial de valorização elevado. Pelos cálculos desses especialistas, considerando o preço-alvo médio de R$ 10,63 para as ações, a Oi deveria valer cerca de R$ 19,1 bilhões. Entre os dez analistas considerados, apenas um tem recomendação de compra para as ações.
 
Depende dos planos de longo prazo a serem apresentados hoje a mudança desse cenário. Os analistas querem entender a estratégia e sinalizações de que o renascimento também se dá no modo como a empresa vê e é vista pelo mercado – uma relação desgastada por três tentativas frustradas de reestruturação desde 2006.
 
O valor do negócio da Oi é da ordem de R$ 40 bilhões. Esse é o conceito no mundo das finanças de "valor da empresa", que soma o valor em bolsa com o endividamento líquido. Porém, mais da metade disso está nas mãos de credores, pois R$ 22 bilhões desse total são dívida. Esse valor considera as responsabilidades líquidas de R$ 16,3 bilhões em dezembro, mais quase R$ 5 bilhões de saída de caixa com bonificação, dividendos e pagamento de recesso e ainda R$ 1,8 bilhão de compromissos com a Anatel.
 
Alguns especialistas no setor acreditam que o processo de "virada" da Oi já começou – com a chegada de James Meaney, diretor operacional, e de Francisco Valim, novo presidente – embora ainda não tenha trazido resultados mensuráveis. Outros ainda se mantêm céticos quanto aos negócios.
 
A questão que mais preocupa os analistas do setor é que a Oi tem compromissos financeiros elevados, mas ainda precisa de muito investimento para retomar o crescimento. No ano passado, a empresa deu mostras de que entende essa necessidade: o investimento foi 60% maior do que em 2010, chegando a quase R$ 5 bilhões.
 
Embora do mesmo setor que a Telefônica Brasil, que agora atua com a marca Vivo, e que a TIM, a Oi tem um desafio do tamanho do Brasil: é a companhia com maior exposição ao segmento de telefonia fixa, um negócio declinante. É o que explica a queda de 5,3% na receita líquida, em 2011, para R$ 27,9 bilhões.
 
A operadora atua em quase todos os Estados do país. A exceção é São Paulo, onde só oferece telefonia móvel, além de serviços corporativos. A Telefônica Brasil só possui linhas fixas em São Paulo e a TIM não opera nesse ramo.
 
No balanço do quarto trimestre, a Oi já apresentou seus clientes com a divisão residencial, empresarial e mobilidade pessoal. A segmentação de sua receita dessa forma, espelho de como identifica seus clientes, já faz parte das iniciativas visando a melhoria do desempenho dos negócios, implementada no fim de 2012.
 
Do ponto de vista operacional, o grande problema da Oi é que a perda de assinantes de telefonia fixa não tem sido acompanhada, na mesma velocidade, da emergência de outras receitas. Principal justificativa para a queda de 15% no lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda), para R$ 8,7 bilhões em 2011.
 
Não deixa de ser irônico, pelo seu pioneirismo com a convergência tecnológica. Com o lançamento de uma operação de celular, dez anos atrás, a então concessionária de telefonia fixa apresentou o caminho das pedras para o que hoje é padrão entre as teles: a venda de pacotes que oferecem diversos serviços combinados e com desconto.
 
A companhia também teve papel decisivo no processo de consolidação das empresas do setor. Entre os anos de 2007 e 2008, a Oi ganhou holofotes ao conduzir as intricadas negociações que culminaram na compra da Brasil Telecom e criaram um grupo com atuação em todo o país.
 
Depois dessa manobra ousada, a operadora nunca mais teve vida fácil. Digerir uma aquisição de tal porte provou-se mais complicado do que a direção da Oi poderia imaginar. A companhia teve de reduzir investimentos e dedicar grandes esforços para integrar duas empresas enormes e de perfis diferentes.
 
Enquanto a Oi se debatia em seus problemas internos, a concorrência reforçava suas armas. Desde então, os espanhóis da Telefônica e os mexicanos da América Móvil (donos da Claro, da Net e da Embratel) abriram a carteira para reforçar suas atividades no Brasil – que sofreu menos que outros países na crise e se tornou peça-chave na competição entre esses dois grupos. Ao mesmo tempo, entraram em cena concorrentes agressivos, como a GVT, e a TIM abocanhou grande parte do mercado de celulares com novos planos.
 
Na avaliação de analistas que acompanham a Oi, a operadora perdeu, nos anos mais recentes, seu fôlego habitual no lançamento de serviços inovadores.
 
Desde 2011, alguns esforços estão sendo feitos para reverter esse cenário. O enfoque nos produtos deu lugar a uma visão pautada nos domicílios – assim, fica mais fácil para a companhia detectar novos serviços que pode oferecer a seus assinantes. O serviço de TV por assinatura foi reformulado. A companhia passou a oferecer canais Globosat e criou novos planos. O portal de internet iG está à venda e um desfecho para o negócio é esperado para os próximos dias.
 
Para completar todo o ciclo, entretanto, a Oi terá de fazer pesados investimentos na modernização de sua rede de cobre. Hoje, a linha de telefone fixo pouco vale se não vier acompanhada de uma conexão de banda larga. A presença nos mais remotos rincões do país torna essa tarefa especialmente desafiadora para a Oi e dificulta a adoção de novas tecnologias, como a fibra óptica de uso residencial.
 
Há quem calcule que a companhia precisa de R$ 6 bilhões de investimentos anuais, pelo menos, nos próximos anos para deixar sua infraestrutura competitiva na briga dos pacotes integrados.
 
Entretanto, a Oi, em sua nova configuração, está com uma relação entre dívida líquida e Ebitda próxima ou até maior do que 2,5 vezes. Esse é o mesmo patamar alcançado quando adquiriu a Brasil Telecom e, logo em seguida, reduziu os investimentos para conseguir melhorar a estrutura financeira. Como resultado da desaceleração nos gastos, a companhia perdeu participação de mercado e competitividade.
 
Os planos de hoje terão de ser consistentes o suficiente para costurar todos esses dilemas numa solução de longo prazo.

(Graziella Valenti e Talita Moreira | Valor)
 

+ posts

Share this post