Com padrão 4G, Alcatel-Lucent tenta recuperar prestígio

Quando o holandês Ben Verwaayen assumiu a presidência da Alcatel-Lucent, há cerca de dois anos, a companhia enfrentava dificuldades para integrar suas estruturas após a fusão entre a francesa Alcatel e a americana Lucent. Pior: envolvida em embates internos, a empresa havia ficado para trás no mercado de equipamentos para redes de terceira geração da telefonia móvel (3G).

"As pessoas me diziam para vender a área de mobilidade e me conformar com a ideia de sermos uma empresa de tecnologias fixas", recorda Verwaayen. Os números corroboravam essa visão: a fabricante tinha apenas 12% do mercado de infraestrutura para telefonia móvel.

Mesmo assim, Verwaayen decidiu ir contra a corrente e apostar alto no LTE, o padrão tecnológico da quarta geração de telefonia móvel (4G). "Tratar as tecnologias fixas e móveis como negócios separados é uma abordagem do passado. A velocidade [de transmissão de dados] é a mesma", diz. "O consumidor é quem decide em que tela quer acessar os conteúdos."

Verwaayen concedeu entrevista ao Valor ontem, após inaugurar um centro de desenvolvimento de tecnologias em São Paulo.

Os primeiros resultados comerciais da estratégia defendida pelo executivo começaram a aparecer. A Alcatel-Lucent estima ter elevado para 16% ou 17% sua participação no mercado de redes móveis. Verwaayen evita fazer projeções. Diz apenas que a companhia vai atingir uma fatia "alta" desse segmento.

A empresa já firmou contratos importantes para fornecer equipamentos na tecnologia LTE – com a operadora americana Verizon e com a chinesa China Mobile, por exemplo.

No Brasil, a companhia tem sido voz ativa ao propor que o governo não demore para licitar as frequências da 4G – o leilão está previsto para 2012. Paralelamente, a empresa investiu US$ 5 milhões para montar um centro tecnológico onde fará demonstrações de serviços baseados em LTE e desenvolverá aplicativos para as áreas de call center e segurança de redes.

Apesar dessas iniciativas, os resultados financeiros ainda não apareceram por completo. As perdas da companhia estão diminuindo, mas a Alcatel-Lucent ainda teve prejuízo de € 334 milhões no ano passado – o quinto exercício consecutivo de resultados negativos. Em fevereiro, Verwaayen disse que a virada para a lucratividade chegaria neste ano. O executivo prefere não fazer estimativas ao ser indagado sobre o assunto pelo Valor. A empresa apresenta na sexta-feira o balanço do primeiro trimestre.

A Alcatel-Lucent e outros fabricantes tradicionais do setor têm enfrentado a concorrência pesada dos fornecedores chineses Huawei e ZTE, que produzem em grande escala e conseguem oferecer preços mais baixos. Verwaayen diz que isso não importa porque fabricar não é mais o centro da estratégia da empresa. "Quando se fala nos chineses, preço é a primeira palavra que todo mundo lembra. Minha primeira palavra é inovação", afirma.

No início do ano, a Alcatel-Lucent apresentou ao mercado um pequeno dispositivo em forma de cubo – e que pesa apenas 300 gramas – com a promessa de que o equipamento pode substituir as tradicionais estações radiobase da telefonia móvel. "Ele vai mudar a vida das pessoas", diz Verwaayen.

(Talita Moreira | Valor)

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