Com rede mais veloz, Claro busca retomar posição no mercado

Nos corredores da Claro, a palavra de ordem é "foco na execução". O lema foi lançado e costuma ser repetido – com sotaque mexicano – pelo presidente da operadora, Carlos Zenteno. E traduz com precisão o princípio que norteou a companhia neste ano.
 
Discretamente, a Claro construiu e inaugura hoje sua rede 3G+, tecnologia que permite o acesso à internet móvel com velocidade três vezes superior à oferecida pela infraestrutura convencional de terceira geração (3G).
 
Controlada pela América Móvil, a operadora passou boa parte de 2011 voltada para si própria, cuidando de investimentos estruturais e se reorganizando para trabalhar de forma mais coordenada com as outras empresas do grupo mexicano no país, a Embratel e a Net. Foi uma ação deliberada, mas que custou à companhia a perda da vice-liderança do mercado brasileiro de celulares para a TIM. Com a estreia da nova tecnologia e a reformulação de seus planos de serviços, a Claro volta à carga.
 
"A Claro foi a primeira a entrar na terceira geração. O 3G+ é uma continuidade. Com ele, a gente oferece, desde já, um serviço superior", afirma Zenteno. O executivo mexicano concedeu ao Valor sua primeira entrevista exclusiva desde que assumiu o comando da tele, em setembro do ano passado. "Estamos fazendo um trabalho consistente e ele vai nos levar à liderança do mercado", diz.

Com mais de 58 milhões de clientes, a operadora tem 25,2% do total de celulares do país, contra 26% da TIM e 29,61% da Vivo.
 
O projeto 3G+ consumiu boa parte dos investimentos de R$ 3,38 bilhões feitos pela Claro neste ano. Em 2012, a operadora planeja investir R$ 3,5 bilhões, sem contar os desembolsos na possível aquisição de licenças para a quarta geração dos celulares, cujo leilão está previsto para abril.
 
O novo serviço será lançado hoje em toda a área coberta pela rede 3G da operadora, que abrange cerca 700 municípios e pode chegar a mais cem até o fim do ano. Poderá utilizá-lo qualquer assinante que tiver um aparelho compatível com a tecnologia, sem pagamento adicional. Onde a rede estiver presente, será automaticamente captada.
 
É diferente da estratégia adotada pela Vivo, que estreou em novembro uma rede 3G+ na Grande São Paulo (ela será gradualmente expandida para o restante do país) e vai cobrar R$ 199,90 mensais dos clientes que quiserem o serviço.
 
"Nossa diretriz é oferecer novas tecnologias para todos os clientes", provoca Zenteno, quebrando sua habitual discrição.
 
O executivo passou quase a metade de seus 41 anos trabalhando para a América Móvil. É a esse fator que ele credita os rumores – desmentidos – de que seria parente de Carlos Slim, o bilionário controlador do grupo. "Só se faço parte da família América Móvil", brinca. O executivo atuou em diversos países latino-americanos e era presidente da América Móvil na Argentina antes de vir para o Brasil. Ao chegar por aqui, adotou uma postura de absoluto silêncio e decidiu que só falaria em público quando soubesse português.
 
Nesse meio tempo, Zenteno participou da reestruturação do grupo no país. Até então, Claro, Embratel e Net trabalhavam com pouquíssima integração. Em 2010, passaram a atuar de forma mais coordenada. Em outubro, lançaram o primeiro pacote combinando serviços das três operadoras.
 
O executivo não dá pistas sobre a união societária das três empresas – movimento há muito esperado pelo mercado. Porém, destaca que a construção da rede 3G+ é resultado de um trabalho conjunto. Claro, Embratel e Net somaram esforços e dividiram investimentos para ampliar a rede principal e a infraestrutura de transmissão das empresas do grupo. Era um passo essencial para garantir o tráfego de dados na velocidade prevista pela nova tecnologia.
 
O 3G+ é o nome comercial do HSPA+, atualização das redes de terceira geração que permite o acesso à internet móvel com velocidade média de 3 megabits por segundo (Mbps).
 
A tecnologia não reduz o apetite da Claro pelas licenças da quarta geração (4G), que a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) promete licitar em abril. A operadora é a única a defender abertamente que o leilão da faixa de 2,5 gigahertz (GHz) seja feito nessa época. As outras teles querem o adiamento ou, ao menos, que o governo se comprometa a destinar ao setor as frequências de 700 megahertz (MHz) quando forem desocupadas pela TV analógica. "Seria ótimo [ter a faixa de 700 MHz] e muito mais eficiente do ponto de vista de investimentos [essa faixa complementa a de 2,5 GHz]. Mas não é condição para participarmos do leilão", diz Zenteno.
 
Posturas como essa renderam à Claro a fama de ser "filha de pai rico". Dinheiro não costuma ser problema para a operadora, graças ao poder de fogo da América Móvil. Diferentemente de suas rivais, a companhia nunca deixou de subsidiar a venda de celulares e jamais dá um passo no mercado esperando retorno rápido.
 
Isso tem seu preço. Não foi da Claro que partiram as ações mais criativas dos últimos anos – como a venda de chips avulsos, inaugurada pela Oi, e os planos de uso ilimitado, que têm feito o sucesso da TIM. Em várias ocasiões, os mexicanos demoram a reagir.
 
Mas, nos últimos meses, a empresa abraçou ideias que deram certo em outras teles. Ligações ilimitadas a R$ 0,21 (R$ 0,16 em algumas regiões), internet pré-paga de uso diário e planos pós-pagos com serviços irrestritos são algumas apostas da Claro para voltar a dar as cartas.
 
A operadora parece ter deixado seu período de reclusão. "Estamos aqui para ficar", diz Zenteno.

(Talita Moreira | Valor)

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