Com US$ 100 milhões em circulação, moeda virtual ‘bitcoin’ chega ao Brasil

Na última quarta-feira, entrou no ar o primeiro site brasileiro que permite comprar ou vender bitcoins, uma moeda virtual não atrelada a governos ou bancos. As primeiras operações do MercadoBitcoin.com.br usaram uma cotação de R$ 24 por cada unidade de moeda digital. "As operações iniciais ocorreram em número acima do esperado, principalmente em relação à quantidade de bitcoins colocados a venda, que foi alta", diz Leandro César, criador da página.

O total de bitcoins em circulação no mundo gira em torno de US$ 100 milhões (R$ 157 mi). Esse é o valor da multiplicação do montante de bitcoins na praça (6,9 milhões) pela atual cotação do dinheiro eletrônico no MtGox, o mais importante site de câmbio, onde é vendido por cerca de US$ 14 a unidade. Os dois fatores, porém, são variáveis. Pequenos lotes de bitcoins são criados a cada dez minutos e seu preço pode se alterar conforme o mercado – uma unidade chegou a custar US$ 32.

Inventado em 2009 por um programador identificado pelo pseudônimo Satoshi Nakamoto, o bitcoin (ou, na abraviação comercial, BTC) se intitula a “primeira moeda digital descentralizada”. Ao contrário de outras moedas eletrônicas, que existiam só no universo virtual (como o Linden Dollar, do Second Life), o bitcoin é usado para comprar bens reais, que vão de roupas feitas com lã de alpaca a serviços como criação de logotipos ou assistência jurídica.

“Muitas pessoas também estão usando para enviar dinheiro para outros países e escapar das taxas e impostos”, afirma Leandro César.

Uma das principais características do bitcoin é o alegado anonimato dos usuários. A moeda não existe de forma palpável, cada transação é somente um código alfanumérico trocado entre quem vende e compra algo. Como não há bancos ou governos centralizando as operações, elas são praticamente impossíveis de serem rastreadas. Alguns especialistas, contudo, afirmam que uma negociação de grande valor poderia ser identificada através da triangulação de informações.

Ainda que a maioria dos produtos e serviços comercializados seja lícita, alguns sites usam o anonimato propiciado pela moeda para ofertar drogas e acessórios para produzi-las. É o caso do Silk Road. A página funciona de forma parecida com o Amazon.com, só que para vender entorpecentes. Os compradores classificam os fornecedores dizendo se são confiáveis, se receberam a encomenda e se o produto atendeu às expectativas. A única moeda aceita é o bitcoin.

Em junho, dois senadores americanos escreveram uma carta à agencia anti-drogas do governo, sobre a suposta ameaça que a moeda poderia representar. O evento, ao contrário do que os políticos esperavam, fez a cotação disparar e chegar ao pico de US$ 32. "Assim como outras tecnologias que nasceram em nichos ”nerds”, como o compartilhamento de músicas, o bitcoin só se popularizou após um escâncalo", diz Leandro César, que é também consultor em Tecnologia da Informação.

Mas, para a comunidade que adotou o dinheiro digital, sites como o Silk Road não passam de efeito colateral. A real importância da moeda estaria na “causa” que ela encampa: a possibilidade de um sistema monetário entre pessoas, sem intermediários como bancos e governos. Isso significaria, além da privacidade, a ausência de altas taxas e juros que eles consideram abusivos.

A segurança da moeda é garantida, segundo a comunidade bitcoin, por um sistema engenhoso. Para que mais dinheiro seja criado, é preciso que “pepitas” de bitcoins sejam “mineradas” por garimpeiros virtuais. Em vez de picaretas, eles usam a capacidade de processamento de suas máquinas. Ao resolver problemas altamente complexos, dificilmente solucionados por um computador comum, um grupo de usuários revela uma nova pepita – e coloca a venda num site de câmbio.

A sacada está no fato de que esses cálculos, entre outras coisas, ajudam a melhorar a criptografia do sistema, evitando, por exemplo, trapaças financeiras. Nos fóruns online, especialistas enaltecem a suposta genialidade dos códigos.

Ainda assim, um usuário declarou ter alguns milhares de bitcoins furtados da carteira digital, há poucas semanas. Mas, segundo Leandro, isso aconteceu porque o computador do usuário fo invadido e senhas foram furtadas."Foi uma falha de segurança do usuário", diz.

A cada dez minutos, em média, uma nova porção de dinheiro é criada por “mineradores”. Assim, se você comprar bitcoins, em sites como o MtGox ou TradeHill, eles devem demorar esse tempo para cair na conta. Os bitcoins serão criados, em ritmo cada vez menor, até 2030, quando a quantidade de moeda se estabilizará em pouco menos de BTC 21 milhões.

Para conseguir comprar a moeda, porém, primeiro é preciso baixar um programa que funciona como carteira virtual – ou usar um similar online, em sites como InstaWallet ou MyBitcoin. Depois, já é possível correr para as prateleiras virtuais – com produtos bem reais – de lojas como Bitcoin Harbor ou Bitcoin Shopping.

Leandro afirma que comprar bitcoins no Brasil é uma operação legal. "Não é considerado câmbio, porque o bitcoin não é formalmente uma moeda", explica. "É como comprar um produto qualquer". O site cobra 0,75% de taxa por operação. A compra e venda de produtos, em geral, não é taxada – ou a cobrança é insignificante.

(Pedro Carvalho l iG)

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