Criticada, PDG descarta troca no comando e mais aquisições
A venda de participação em duas sociedades de propósito específico (SPEs), questionada pelos investidores, um possível aumento de gastos com marketing e rumores sobre um iminente anúncio de aquisição fizeram a ação da incorporadora PDG cair 6% a na sexta-feira.
Também voltou ao mercado um boato recorrente de que o diretor-presidente, Zeca Grabowsky, poderia deixar a companhia.
Em entrevista ao Valor, o executivo esclarece que nem ele, nem o vice-presidente, Michel Wurman, têm planos de sair da PDG.
"Muito pelo contrário", afirma. O que deve acontecer, em algum momento já em 2012, será um processo sucessório, "para dar espaço a outras pessoas".
Grabowsky deverá se transferir para a presidência do conselho de administração da companhia. "Mas no modelo do ”chairman” americano. Estarei mais focado na parte estratégica, mas terei agenda e uma rotina diária efetiva na companhia", diz.
Wurman será o novo diretor-presidente e João Mallet permanecerá como diretor financeiro. "As funções serão remanejadas mas ninguém se desligará", diz ele.
Na avaliação de Grabowsky, uma falha na comunicação, de parte da empresa, gerou o desconforto de investidores sobre a venda de fatias em SPEs.
No terceiro trimestre, a companhia anunciou lucro líquido de R$ 257 milhões. No comunicado que acompanhava a divulgação do resultado, a PDG não informou que o valor embutia a venda de participação em SPEs. Essa informação estava detalhada apenas nas notas explicativas. As participações foram vendidas para Milton Goldfarb, que hoje está na PDG após a aquisição, pela empresa, da construtora Goldfarb – o negócio foi entre partes relacionadas, portanto. O valor de venda total foi de R$ 102 milhões e gerou lucro antes de impostos de R$ 57,9 milhões. Uma venda de outra SPE, no centro do Rio, gerou receitas com vendas de R$ 27 milhões.
Analistas apontaram que excluindo o ganho com essas operações, que consideraram não recorrentes, o lucro da PDG fica abaixo do estimado pelo consenso de mercado e não acima.
"Queremos deixar claro que esse tipo de operação não é atípica ou esquisita, como fizeram parecer alguns comentários de mercado", diz Grabowsky. Segundo ele, a venda de participações em SPEs ou projetos já aconteceu mais de meia dúzia de vezes e é atividade comum ao negócio. No passado, diz, a empresa vendeu fatias em empreendimentos nas avenidas Faria Lima e Juscelino Kubitschek, em São Paulo.
"É uma característica do setor, investir mais ou vender participações. Sem dúvida deveríamos ter dado mais transparência ao fato", diz o executivo acrescentando que cabe ao investidor, ao analisar o resultado da companhia, decidir se deve levar em conta essa operação ou retirá-la do lucro obtido pela PDG.
"Se o resultado ficou acima ou abaixo do consenso é uma discussão que cabe aos analistas. À empresa cabe divulgar a maior quantidade de informações."
Grabowsky também descarta quaisquer aquisições este ano ou em 2012. Segundo ele, para o ano que vem, o plano é diminuir o ritmo de crescimento, para ter ganhos de eficiência, escala e melhores custos administrativos.
A empresa deverá ter, neste ano, R$ 9 bilhões em lançamentos e, em 2012, eles devem ficar entre R$ 9 bilhões e R$ 11 bilhões.
"Pegando o centro dessa faixa, de R$ 10 bilhões, cresceremos 10% em relação a 2011, o que é bem menos do que os 30% de expansão que deveremos ter em 2011 sobre 2010", diz.
O mercado também questionou o que entendeu como aumento de gastos com marketing os anúncios, durante três semanas, no "Domingão do Faustão", da TV Globo. A iniciativa sinalizaria uma piora na demanda por seus produtos. Grabowsky explica que a empresa optou por fazer uma campanha nacional e que gastou R$ 2,5 milhões, ou 0,1% dos lançamentos de R$ 2,5 bilhões programados para o trimestre e cancelou iniciativas regionais. "A demanda para o quarto trimestre está normal e nós vamos cumprir a nossa estimativa de lançamentos para o ano."
Ontem, as ações, que se destacam entre as mais alugadas no mercado, subiram 4,2%.
(Ana Paula Ragazzi | Valor)
