Debêntures dobram de volume em janeiro

Emissões registradas e em análise este mês já são 2,5 vezes superiores ao montante captado no primeiro mês de 2011, estimuladas por apetite do investidor

Nem bem começou o ano e o mercado de renda fixa local já surpreende. Apenas em janeiro devem ser emitidos R$ 6,22 bilhões em debêntures, considerando ofertas registradas e em análise, montante 158% maior que os R$ 2,41 bilhões distribuídos no primeiro mês de 2011. "Se esse ritmo for mantido ao longo do ano, é possível que o volume de 2012 se iguale ao resultado de 2006", acredita Leandro Miranda, diretor de renda fixa do Bradesco BBI. Na ocasião, foram levantados R$ 69,4 bilhões em debêntures, volume recorde no mercado brasileiro. Para que esse palpite se confirme, as companhias emissoras precisam ter planos concretos de crescimento para os próximos anos e também dar preferência à captação interna – se houver um apetite grande no mercado externo por papéis brasileiros, tende a ser preferência das companhias, afetando o volume doméstico, pondera Miranda. "Mas o mercado brasileiro está aquecido e líquido e à medida que as companhias enxergarem isso recorrerão mais ao mercado local", diz. Duas frentes estimulam o mercado de debêntures: o interesse ainda reduzido por novas ofertas de ações, restringindo as opções de captação corporativa, e redução dos juros básicos, que fazem com que investidores aumentem o interesse por crédito privado, já que títulos públicos passam a pagar menos. Essa maior demanda por parte dos investidores atraiu novos emissores ao mercado. "Nos últimos anos, as operações de debêntures estavam concentradas em empresas de telecomunicação, energia e construção. Hoje vemos emissões dos setores financeiro, serviços públicos, concessionárias de rodovias e empresas de agronegócios", diz Ignacio Lorenzo, superintendente executivo responsável pela distribuição de renda fixa do Santander. Essas operações são destinadas sobretudo aos investidores qualificados, uma vez que são realizadas por meio da Instrução nº 476, ou seja, que dispensa a emissão de registro prévio na Comissão de Valores Mobiliários (CVM). A instrução também permite que empresas de capital fechado emitam debêntures. "Os emissores preferem esse tipo de operação devido aos trâmites mais rápidos em relação à distribuição pública", explica Lorenzo. No ano passado, de R$ 48,5 bilhões levantados com debêntures, R$ 45,3 bilhões foram com esforços restritos, segundo a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). João Carlos Gonçalves da Silva, diretor de mercado de capitais do Banco ABC Brasil, também é otimista com o desempenho do mercado de renda fixa este ano. "Estamos coordenando seis operações que somam R$ 1,4 bilhão, de empresas abertas e fechadas", diz Silva. "Os volumes deste ano devem ser bastante significativos."
Alternativa
 

O mercado local também é uma alternativa às empresas que não encontram muita receptividade no mercado externo. Tanto é que a Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) optou por levantar R$ 400 milhões via emissão de debêntures após consultar o mercado e perceber que não havia abertura para uma operação de notas promissórias seguida de eurobônus, segundo um executivo ligado à operação. O interesse internacional estaria concentrado agora em companhias de grande porte – como as captações recentes feitas por Vale, Itaú, Banco do Bra sil e Bradesco.

Prazo de dívida pode superar os 10 anos

Debêntures atreladas a IPCA podem chegar a vencimento de 12 anos; hoje média é de 6 anos

O crescimento e o amadurecimento do mercado de renda fixa nos últimos anos têm levado investidores a demandarem ativos de prazos mais longos, principalmente debêntures. E este ano não deve fugir a regra. "O prazo das debêntures referenciadas no Certificado de Depósito Interfinanceiro (CDI) pode chegar a até oito anos, sendo que atualmente são negociadas com prazo de cinco anos. Já os papéis que têm como indexador o ndice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) podem chegar a até 12 anos, sendo que hoje não passam de seis anos", aposta Ignacio Lorenzo, superintendente executivo responsável pela distribuição de renda fixa do Santander. Dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) mostram que as 163 séries de debêntures emitidas em 2011, 6,1% registraram prazo superior a 10 anos; 56,4% estavam concentradas em operações cujos prazos variavam de quatro e seis anos. Em 2009, por exemplo, apenas 36,3% das operações (de um total de 91) registraram prazos entre quatro e seis anos. João Carlos Gonçalves da Silva, diretor de mercado de capitais do Banco ABC Brasil, ressalta que atualmente os investidores absorvem facilmente ativos com prazos que variam entre cinco e seis anos. "Empresas de capital aberto conseguem alongar os prazos mais facilmente quando comparada às operações de empresas fechadas", diz o executivo. Outra tendência apontada para este ano são operações mais estruturadas. "O alongamento de prazos, bem como a elaboração de estruturas diferenciadas, tais como a oferta de garantias que mitiguem os riscos corporativos dos emissores são as opostas para este ano", acredita Leandro Miranda, diretor de renda fixa do Bradesco BBI. Ele citou como exemplo a emissão de Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs) da Petrobras cujos prazos variaram entre 12, 15 e 17 anos e a remuneração foi inferior a dos títulos do governo federal com vencimento semelhante. "Foi a operação com prazo mais longo feita no mercado brasileiro. A demanda superou em mais de duas vezes a oferta, de R$ 410 milhões", completa Miranda. Miranda também lembrou da operação do laboratório Fleury, que levantou R$ 450 milhões pormeio da emissão de debêntures. "O prazo da segunda série dos títulos foi de sete anos e o papel era indexado ao CDI", diz o diretor do Bradesco BBI.
 
(Brasil Econômico)

 

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