Eixo Brasil-Colômbia atrai mais empresas

Centenária na Colômbia, a fabricante de chocolates Casa Luker recebe neste mês representantes de distribuidoras brasileiras que terão a função de implementar a marca no Brasil. A empresa quer ir conquistando território para em dois anos construir sua primeira fábrica internacional, e o território brasileiro foi o escolhido.
 
O desembarque de empresas colombianas no mercado nacional não é isolado. Fortalecida economicamente, a Colômbia passou a ter um setor privado com bom potencial de internacionalização, que tem colocado o Brasil no centro de seus planos. Nos últimos cinco anos, os investimentos diretos da Colômbia no Brasil totalizaram US$ 607 milhões, montante que fez com que o país andino fosse o quarto maior investidor sul americano no país, segundo dados do Departamento de Promoção Comercial e Investimentos do Ministério das Relações Exteriores do Brasil. O país fica atrás do Chile, Uruguai e do Peru.
 
A importância do eixo Brasil-Colômbia tem sido sacramentada também pelo interesse do setor privado brasileiro no vizinho. No ano passado, o ingresso de investimentos brasileiros na Colômbia aumentou 450%, em relação a 2010, para US$ 213 milhões. Nos últimos cinco anos, somou cerca de US$ 440 milhões. O mercado colombiano foi o terceiro principal destino de investimentos nacionais na América do Sul, após Argentina e Uruguai.
 
"A Colômbia vem se fortalecendo. É um dos destaques do continente. Após um longo período de instabilidade, a economia está se estabelecendo, igual ao que aconteceu com o Brasil há dez anos", afirma o chefe do Departamento de Promoção Comercial do Itamaraty, Rubens Gama.
 
Hoje, no Brasil, há apenas quatro grandes grupos colombianos: a ISA, do setor de energia; a Carvajal, dona da Listel e do Guia Mais; a Interbolsa, do setor financeiro e a Corona, do setor de decoração. Segundo o chefe do setor comercial da Embaixada do Brasil na Colômbia, Marcelo Martinez, mais de dez empresas colombianas contataram a embaixada no ano passado, com interesse montar filiais ou escritórios no Brasil.

Até 2009, a extração de petróleo e gás natural e a fabricação de tubos e acessórios plásticos para construção representavam mais de 80% do destino dos investimentos colombianos. Hoje, os setores mais visados são o de autopeças e o de alimentos. "Essas empresas querem encontrar parcerias no Brasil e chegam com o mesmo discurso: aproveitar o tamanho do mercado brasileiro. O país é relativamente fechado em termos comerciais e vale mais a pena se estabelecer no Brasil", diz Martinez.
 
Com receita de US$ 350 milhões em 2011, a Casa Luker planeja fornecer produtos intermediários do chocolate, competindo com grandes empresas como Garoto e Harald. A ideia é fornecer o cacau fino, um mix de partes do cacau, matéria-prima de maior valor agregado. "Acreditamos que o Brasil está em uma fase com alto potencial para demanda desse tipo de insumo", disse a diretora de vendas internacionais da Casa Luker, Maria Carolina Angulo. A empresa tem capacidade de produzir 1,2 mil toneladas por mês de chocolate e há a necessidade de expansão. O Brasil pode se tornar plataforma de exportações para Europa e África.
 
A Carvajal foi a primeira grande empresa colombiana a experimentar o mercado brasileiro. A companhia chegou em 1984 e atua em diversos negócios, sendo que a unidade mais importante é a de informação. Da receita global de US$ 400 milhões em 2011 dessa unidade, quase 40% vem das operações brasileiras.
 
O grupo tem receita total de US$ 2 bilhões e atua em 17 países. A subsidiária se tornou o principal mercado de desenvolvimento de produtos na área de informação. "É mais fácil replicar as tecnologias que desenvolvemos no país para as outras subsidiárias, pois no Brasil temos profissionais e tecnologia de ponta", disse o presidente da área de informação da Carvajal, Eric Hamburguer.
 
O perfil das brasileiras que se interessam pela Colômbia também está mudando. Segundo a Embaixada do Brasil no país, há cinco anos havia apenas duas empresas brasileiras no vizinho. Hoje há 31 e neste ano deve chegar a 40. Com uma população de 45 milhões de habitantes (no censo, em 2005), o país começou a investir em infraestrutura, o que atraiu gigantes como a Odebrecht, a Votorantim e a Gerdau. Recursos naturais, como o carvão, também são foco das brasileiras. Mas, atualmente, empresas de área como informática e consumo diversificam os investimentos brasileiros no vizinho.
 
Acompanhando esse movimento, a brasileira de tecnologia da informação Stefanini adquiriu, em 2011, a Informática & Tecnología para crescer de modo mais rápido no país, onde está presente desde 2006. "Não queríamos esperar. O país tem muito potencial", disse o presidente da Stefanini, Marco Stefanini.
 
Também no ano passado, a Natura iniciou a produção de sabonetes na Colômbia, que se tornará a fonte de abastecimento dos mercados vizinhos, como Peru e México. "Temos uma proposta de valor boa na Colômbia", afirmou o vice-presidente de negócios e internacionalização da Natura, José Vicente Marino. Lembrando que a fábrica da empresa no país não é própria.
 
Além da proximidade geográfica e economias semelhantes, o eixo Brasil-Colômbia tem mais potencial diante do cenário internacional. Com a desaceleração dos EUA e Europa, as relações dos países da América Latina ganham destaque.

(Vanessa Dezem | Valor)
 

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