Elekeiroz e Basf disputam complexo de acrílico na Bahia

SÃO PAULO – O grupo brasileiro Elekeiroz, controlado pela holding Itaúsa, e a multinacional química alemã Basf retomam antigos planos e entram de vez na disputa pelo mercado brasileiro de acrílico e anunciam programa de construção de complexo industrial no país. Em cifras acima de R$ 1 bilhão, ambas empresas desenham seus projetos que poderão tornar uma delas a fabricante definitiva de insumos para os mercados de tintas para construção civil e produtos de higiene pessoal.

"Já obtivemos a aprovação pelo conselho da empresa, que foi ratificado pela Itaúsa. Estamos estudando esse investimento há mais de dez anos", afirmou ao Valor o presidente da Elekeiroz, Reinaldo Rubbi. "Estamos em uma fase avançada do estudo de viabilidade, que deve ser concluído em setembro", informou também o presidente da Basf para a América do Sul, Alfred Hackenberger.

Os projetos das companhias envolvem a construção de fábricas para a produção de ácido acrílico, acrilato de butila e polímeros superabsorventes. Enquanto o primeiro composto serve como matéria-prima para os demais, o acrilato de butila é um insumo para a produção de tintas e adesivos e os superabsorventes são usados na produção de fraldas descartáveis, absorventes íntimos e outros produtos de higiene.

Todos esses produtos são importados pela indústria brasileira, exceto o acrilato de butila, que é produzido pela Basf em seu complexo de Guaratinguetá (SP), para consumo próprio. Segundo a Elekeiroz, o consumo aparente de ácido acrílico no Brasil ficou no patamar de 120 mil toneladas em 2010 e deve superar as 200 mil toneladas em 2018. Daí a importância de uma produção em terras brasileiras.

O destino desse complexo está, no entanto, condicionado a um fator importante: o fornecimento de matéria-prima. Um dos insumos para a produção de ácido acrílico é o propeno, cujo único fornecedor no país é a Braskem. A petroquímica assinou memorandos de entendimento com as duas empresas no início deste ano, nos quais demonstrou o interesse de fornecimento das matérias-primas. "A Braskem agora terá de decidir qual dos caminhos ela vai tomar", explicou Rubbi. Além da quantidade limitada do insumo disponível, o mercado brasileiro não absorveria a produção de dois projetos iguais.

Com as malas no escritório, pronto para se dirigir ao aeroporto, o presidente da Elekeiroz adiantou a viagem que faria para a Alemanha e para o Japão, depois que a Braskem adiou mais uma vez sua decisão. "Esperamos uma definição até junho. Agora, quero trazer mais elementos favoráveis para apresentar à petroquímica", contou. Nesta viagem, o executivo tentará obter uma oficialização do interesse de futuros parceiros em uma aliança tecnológica para a produção dos superabsorventes. Para produzir o ácido acrílico e o acrilato, por sua vez, a empresa já fechou um contrato de licenciamento de tecnologia com a japonesa Mitsubishi Chemical.

Além das tecnologias, o projeto da Elekeiroz consiste em cinco fábricas no complexo de Camaçari (BA), a serem concluídas até 2014. Os investimentos totalizam R$ 1,6 bilhão, sendo que R$ 1 bilhão viria de empréstimos do BNDES e o restante viria de recursos próprios. A capacidade de produção de ácido acrílico será de 160 mil toneladas, dos quais 20 mil toneladas vão ser fornecidas diretamente ao mercado e o restante consumido na própria produção da companhia. A partir disso, as vendas de produtos transformados pela empresa no complexo totalizará 200 mil toneladas.

"Nosso projeto está pronto para ser implementado", afirmou Rubbi. A companhia acredita que, com os investimentos, seu faturamento sairá dos atuais R$ 1 bilhão para R$ 2 bilhões já a partir de 2017, quando toda a capacidade estiver instalada.

A Basf, por sua vez, afirma que os investimentos em Camaçari ainda estão em fase de análise, mas deverão somar "três dígitos de milhões de euros". "Estamos negociando os contratos com a Braskem. Será um salto quântico. Estrategicamente, (representa) um passo na área petroquímica, um portfólio que a Basf ainda não tem", afirmou Hackenberger. O valor dos recursos destinados ao projeto não estão incluídos nos € 250 milhões, já anunciados pela multinacional, a serem aplicados no país entre 2010 e 2014. "Acreditamos que o mercado de construção no Brasil ainda crescerá muito e que os segmentos que aproveitam o aumento do poder aquisitivo da população têm alto potencial", disse. A multinacional detém tecnologias internas de produção dos compostos.

As questões da matéria-prima e da tecnologia por muitos anos foram obstáculos para a implantação desse projeto no Brasil. Agora, com o país no centro das atenções, os detentores das tecnologias internacionais passam a se interessar pelo país. A Braskem, por sua vez, que hoje exporta seu excedente de propeno, deve analisar os projetos, as tecnologias e os prazos, entre outras tantas variáveis que podem influenciar sua decisão. "Essa é uma cadeia disputada, pois é um produto de alto valor agregado. Estamos olhando para as propostas de ambas empresas", afirmou o vice-presidente da unidade de petroquimicos básicos da Braskem, Manoel Carnaúba, sem explicitar quais critérios a empresa está utilizando na seleção. "É muito importante termos esse projeto no Brasil. A América Latina toda importa o ácido acrílico", completou.

(Vanessa Dezem | Valor)

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