Em 10 anos, valorização das ações da Vale foi três vezes a da Petrobras

De 2001 a 2011, rentabilidade dos papéis foi de 834%. Levantamento é da consultoria Economatica.

A valorização das ações ordinárias, com direito a voto, da mineradora Vale foi de cerca de 834%, descontada a inflação, nos últimos dez anos – de 30 de junho de 2001, data em que o atual presidente da companhia, Roger Agnelli, assumiu o cargo, até segunda-feira, 4 de abril, quando Murilo Ferreira foi indicado para ocupar a presidência, a partir de 22 de maio. O novo nome foi indicado pelos acionistas controladores da Valepar e ainda terá de ser aprovado pelo Conselho de Administração da Vale.

O levantamento sobre a evolução dos papeis da companhia foi feito pela consultoria Economatica, a pedido do G1.

Quando comparada a rentabilidade dos papeis da mineradora com a das ações da gigante estatal Petrobras, a valorização, nesse período, foi praticamente o triplo. Enquanto as ações da Vale valorizaram 834%, as da Petrobras chegaram a 250%. Comportamento semelhante é observado nas ações preferenciais, sem direito a voto. Nos dez anos em análise, enquanto as ações da Vale valorizaram 765%, as da Petrobras avançaram 257%. No mesmo período, o Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), viu sua rentabilidade variar 155,5%. A Vale contabiliza, neste ano, 47 mil acionistas.

Quanto à evolução do valor de mercado das duas empresas, o da Vale foi de R$ 20,32 bilhões, em 30 de junho de 2001, para R$ 270,69 bilhões atualmente, considerando dados desta útlima segunda-feira. Já o valor da Petrobras foi de R$ 62,545 bilhões para R$ 404,387 bilhões no período, de acordo com levantamento da consultoria.

Hoje, de acordo com dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), o valor de mercado da Vale em 2010 é superior à economia de países vizinhos como o Peru. No ano anterior, o Produto Interno Bruto (PIB) do país somou US$ 153,54 bilhões, o equivalente a aproximadamente R$ 247 bilhões.

Lucro

No ano passado, a Vale atingiu lucro líquido de US$ 17,3 bilhões – resultado superior ao registrado em 2001, de US$ 1,3 bilhão, quando Agnelli assumiu a mineradora. O lucro anunciado pela companhia foi o segundo maior registrado por uma empresa de capital aberto brasileira, segundo levantamento da Economatica, divulgado na época, feito com base nas informações apresentadas a Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Em primeiro lugar, aparecia a Petrobras que, em 2008, teve lucro de R$ 32,98 bilhões.

Troca de comando

A indicação de Ferreira surpreendeu o mercado. O nome mais cotado era o de Tito Martins, que comanda a Vale no Canadá – onde substituiu o próprio Murilo Ferreira em 2008.

A campanha pela saída de Roger Agnelli da presidência da Vale, cargo que o executivo ocupa desde 2001, começou ainda em 2008, durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, quando, durante a crise econômica, a Vale demitiu quase 2 mil trabalhadores, medida que irritou o governo. Até aquele momento, o presidente e Agnelli mantinham uma relação próxima.

Em 2009, Lula criticou a Vale, defendendo que a empresa precisava exportar mais valor agregado, não apenas minério de ferro.

Embora a Vale tenha sido privatizada em 1997, o governo exerce influência na companhia por meio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e de fundos de pensão de empresas estatais liderados pela Previ (dos funcionários do Banco do Brasil), que são acionistas da mineradora. Junto com a Bradespar (empresa de participações ligada ao Bradesco) e da trading japonesa Mitsui, eles controlam a Vale.

O mercado teme que haja interferência política na Vale que, sob o comando de Roger Agnelli, chegou à posição de segunda maior mineradora do mundo e maior exportadora brasileira. Em 2010, a empresa registrou lucro de R$ 30,1 bilhões, “o maior da história da mineração”, segundo a companhia.

A preocupação é que a mineradora possa orientar suas ações mais para atender aos objetivos do governo, prejudicando os acionistas.

O executivo

Murilo Ferreira tem 58 anos e é graduado em Administração de Empresas pela Fundação Getulio Vargas (FGV-SP), com pós-graduação em Administração e Finanças pela FGV do Rio de Janeiro e especialização em M&A pela IMD Business School, em Lausanne, na Suíça.
O executivo tem mais de 30 anos de experiência no setor de mineração, tendo ingressado na Vale em 1998 como Diretor da Vale do Rio Doce Alumínio – Aluvale, atuando em diversos cargos executivos até sua saída em 2008, quando atuava como presidente da Vale Inco (atual Vale Canadá) e Diretor Executivo de Níquel e Comercialização de Metais Base da Vale, quando foi substituído por Tito Martins.

A indicação depende da aprovação do Conselho de Administração da Vale. Se aprovada, Ferreira assume o posto de diretor presidente a partir do dia 22 de maio, após o fim do mandato de Agnelli.

A Valepar é a principal acionista da Vale, com 53,5% das ações ordinárias (com direito a voto) da mineradora. A Litel, formada pelos fundos de pensão, tem, por sua vez, 49% da Valepar. A Bradespar, comandada pelo Bradesco, tem outros 21,21%; enquanto o Mitsui e o BNDESpar têm, respectivamente, 18,24% e 11,51% da controladora da Vale.

(Anay Cury l G1)

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