Endividada, Itamarati pode optar por venda

A Usinas Itamarati procura encontrar uma solução para seu grande endividamento e, no limite, pode ser colocada à venda em breve. A decisão está nas mãos da controladora Ana Cláudia de Moraes, filha do ex-rei da soja Olacyr de Moraes, o fundador da empresa. Comenta-se no mercado financeiro e no setor sucroalcooleiro que a empresa conta com a assessoria do banco americano J.P. Morgan para estudar suas opções, inclusive a venda.
 
A família reluta em desfazer-se do negócio, que tem sede em Nova Olímpia, interior de Mato Grosso. Procurada, a empresa, que espera faturar entre R$ 620 milhões e R$ 650 milhões nesta safra, não confirmou a intenção de venda.
 
A usina tem uma dívida total estimada em R$ 1,5 bilhão, incluindo-se débitos com bancos, fornecedores e passivos fiscais. Boa parte dela foi renegociada, com alongamento de prazo, mas terá de ser paga de uma forma ou de outra.
 
Informações obtidas pelo Valor indicam que o maior problema concentra-se com o Bank of America Merrill Lynch, que não tinha garantias reais nos empréstimos e cobra cerca de R$ 500 milhões da empresa, em mais de um processo judicial. A Itamarati informa ter fechado na semana passada um acordo com outro credor estrangeiro, o Credit Suisse, que lhe cobrava judicialmente um empréstimo de US$ 25 milhões feito em junho de 2007 pela filial do banco nas Bahamas. O fundo Credit Suisse Próprio Fundo de Investimento Multimercado também movia ação de execução de R$ 3,2 milhões por dívidas originadas por contratos de derivativos cambiais. BofA e Itamarati têm mantido conversas, até agora sem acordo.
 
Diante desse cenário, há tempos circulam informações de que um sócio estratégico poderia injetar capital na Itamarati. Segundo apurou o Valor, há pouco mais de um ano a Itamarati teve uma conversa inicial com a Cosan para tentar negociar a entrada da gigante sucroalcooleira em seu capital.
 
A unidade da Itamarati tem localização estratégica para atender a região Norte do país, onde detém uma espécie de "reserva de mercado". Com uma combinação de transporte rodoviário e fluvial, a empresa consegue vender açúcar a esses clientes com custos de frete 30% a 35% menores do que suas concorrentes no Sudeste.
 
O maior market share está em Rondônia, onde atende, por exemplo, 84% do consumo de cidades como Porto Velho e Ji-Paraná. Em Mato Grosso, a empresa tem cerca de 45% de participação de mercado, e há três anos também exporta para parte do Peru.
 
Se por um lado pode ser atrativa para grupos de peso, como Cosan, a Itamarati traz desvantagens que extrapolam seu elevado endividamento. A empresa está localizada em uma região entre os biomas amazônico e do Pantanal, onde o governo não permite crédito com recursos públicos para expansão de canaviais. Assim, se por um lado ela continuará sem concorrentes, também não poderá expandir-se. "E quem comprar, estará sempre sob o alvo de questionamentos ambientais", diz uma fonte do setor.
 
A crise de 2008 pegou a Itamarati altamente endividada. Só a lista de bancos credores nacionais tinha 15 nomes, a maioria deles instituições de médio porte, que no conjunto eram credoras de R$ 200 milhões. Esses passivos foram renegociados pela empresa em 2009. Muitas instituições concederam carências de dois anos, que começam a vencer agora, o que pode criar novo problema. Foram também renegociadas dívidas com fornecedores e R$ 70 milhões devidos a bancos estrangeiros, como UBS (agora BTG Pactual). Quem tinha garantia, conseguiu renegociar – muitos chegaram a executar garantias, inclusive com arresto de sacas de açúcar.
 
Mas a empresa ainda tenta equacionar débitos que podem chegar a R$ 880 milhões. Desse total, em torno de R$ 400 milhões são de encargos fiscais em atraso. Os outros R$ 480 milhões são dívidas cobradas pelo BofA, que não quis se pronunciar.
 
A dívida total cobrada pelo antigo Merrill Lynch, hoje incorporado ao BofA, tem duas origens, segundo as informações que constam das ações judiciais de execução. Em 2007 o banco fez um empréstimo ponte para a Itamarati adquirir uma outra usina. Esse empréstimo seria trocado por uma emissão de dívida externa que acabou não saindo. Ficou um passivo de US$ 125 milhões – que chegaria a US$ 150 milhões com juros e multa. A outra parte, estimada pelo banco em R$ 240 milhões (sem juros e multa), foi originada por operação com derivativos.
 
A Itamarati, entretanto, afirma que os débitos com o BofA somam apenas US$ 125 milhões e não pertencem à Itamarati, mas à UISA Finance, empresa criada pelo grupo para captar recursos para investimentos em diversos setores. A Usinas Itamarati e outras duas empresas do grupo, entretanto, são garantidoras da dívida contraída pela UISA Finance. A empresa informou que reconhece dívidas bancárias totais de R$ 400 milhões.
 
Em conversa com o Valor há alguns meses, Edézio Oliveira, membro do comitê executivo da Itamarati, explicou que a empresa não reconhece o total da dívida cobrada pelo Merrill Lynch. O centro da discordância está na suposta dívida com derivativos cambiais, disse o executivo sem dar mais detalhes.
 
Na época, Oliveira disse que nenhuma alternativa, inclusive a de venda de participação, estava descartada. No entanto, acreditava que a empresa já tinha passado pela pior fase. "O passo seguinte é tentar criar condições para renegociar o restante da dívida de forma a se encaixar no fluxo de caixa que a empresa gera", disse o executivo naquela ocasião.

(Vanessa Adachi e Fabiana Batista | Valor)

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