Esnobando IPOs em Wall Street

A abertura de capital era o sonho dourado dos empreendedores digitais — mas agora eles tentam adiar o IPO ao máximo.

Em fevereiro de 2000, o site pets.com lançou suas ações na bolsa de valores. A empresa vendia suprimentos para animais domésticos, mas era, sob todos os aspectos, um péssimo negócio: tinha custos milionários, perdia dinheiro no frete e demorava a entregar. A aventura do Pets.com durou pouco. A empresa foi à falência nove meses depois de fazer seu IPO, a oferta pública inicial na bolsa. Hoje, o nome Pets.com é lembrado como o símbolo da alucinação coletiva que parece ter acometido empreendedores e investidores na época da bolha da internet.

A insanidade pode ter ficado no passado, mas o passo a passo básico de uma empresa de sucesso, especialmente no setor de tecnologia, se manteve inalterado. Tudo começa com uma ideia, que se transforma numa pequena empresa de crescimento rápido. Depois vêm os obrigatórios aportes de capitalistas de risco e, finalmente, a abertura do capital. Mas a nova geração de empresas de sucesso, capitaneadas pelo todo poderoso Facebook, está reescrevendo esse roteiro. Lançar ações na bolsa já foi um objetivo perseguido obsessivamente pelos empreendedores — mas agora parece que a ideia é tentar adiar esse passo o quanto for possível. O clima econômico tateante não ajuda, é claro, mas tornar-se uma empresa pública parece ter perdido muito do apelo do passado.

O principal sinal disso foi dado pelo Facebook no início deste ano. A rede social é a maior história de sucesso do mundo empresarial dos Estados Unidos — e provavelmente do mundo — desde a ascensão do Google. Com 500 milhões de usuários, de acordo com o último número oficial, e uma receita estimada em quase 2 bilhões de dólares, a companhia, criada há sete anos por Mark Zuckerberg, vendeu uma parte de seu capital para o banco Goldman Sachs, por 450 milhões de dólares.

Além de atribuir um valor de 50 bilhões de dólares ao Facebook, o negócio pode levantar outro 1,5 bilhão de dólares junto aos clientes do Goldman Sachs. Mas há outra vantagem importante: o Facebook vai driblar a exigência da regulamentação do mercado americano de capitais que obriga empresas com mais de 499 sócios a divulgar informações financeiras auditadas, como qualquer companhia pública. Zuckerberg precisa do dinheiro para seguir crescendo, mas não está disposto — pelo menos por enquanto — a se submeter ao inevitável escrutínio de uma companhia de capital aberto. “Cada vez mais os empreendedores querem manter os negócios privados, pois eles veem nisso uma vantagem competitiva”, diz Jeremy Smith, da Second-Market, empresa que negocia ações de empresas privadas.

(Sérgio Teixeira Jr. l  Exame)

+ posts

Share this post