A FedEx depois da aquisição

Com a compra do Rapidão Cometa, gigante americana de transporte rápido aposta nas pequenas e médias empresas no País.

Em maio deste ano, a FedEx Brasil mudou de patamar de um dia para o outro – literalmente. Ao comprar a pernambucana Rapidão Cometa, uma das maiores transportadoras e operadoras logísticas do País, a companhia saiu de 600 para 9,6 mil funcionários. Passou de cinco para 50 filiais em vários Estados. E entrou para o time das cinco maiores operações da líder mundial de entregas expressas.

A aquisição, concluída no início do mês, faz parte de uma estratégia que a FedEx adotou nos últimos anos, em países como China, Índia, México e França. “Depois de dominar o transporte internacional, a aposta é crescer nos mercados domésticos, o que tem sido feito por meio de aquisições”, diz Juan Cento, presidente da divisão da FedEx para América Latina e Caribe, na primeira entrevista após a compra do Rapidão Cometa.

Segundo a companhia, o tamanho do mercado de transporte brasileiro – três vezes maior que o do México, por exemplo, e praticamente do mesmo porte que o da China – por si só já justifica o interesse da empresa em aumentar a atuação no País. A forte posição do Rapidão Cometa no nordeste também é encarada como uma das grandes vantagens da operação, já que a economia da região tem crescido acima da média nacional.

As conversas que levaram à aquisição começaram há dois anos. “Mas a relação foi construída ao longo de 11 anos, período em que fomos parceiros comercial e operacional da FedEx no País”, diz Américo Filho, que comandava a transportadora pernambucana e assumiu neste mês a presidência da FedEx Brasil.

Durante a parceria, todo ano um grupo de executivos do Rapidão ia para Memphis, nos Estados Unidos, onde fica o maior hub da FedEx, para acompanhar de perto o jeito da líder mundial no segmento trabalhar. “Nosso serviço de atividade logística, por exemplo, começou após observarmos o supply chain desenvolvido por eles”, afirma Américo Filho, da segunda geração da família Pereira na empresa, comprada na década de 1970 por seu pai, Américo Pereira, até então funcionário da companhia.

Com um faturamento de R$ 1 bilhão no ano passado, a Rapidão Cometa está entre as maiores no transporte de carga fracionada (aquela em que um mesmo veículo leva encomendas de vários clientes para diferentes pontos de entrega), tanto entre companhias, quanto de empresas para consumidores. “Não há sobreposição de negócios. Com a operação, juntamos a presença local a um alcance global”, diz Cento.

Um dos focos da companhia agora é crescer no segmento de pequenas e médias empresas, que hoje representa 98% das 5,5 milhões de companhias brasileiras.

Integração. Durante toda a semana passada, em um evento no hotel Hyatt, em São Paulo, executivos da FedEx e do Rapidão Cometa se reuniram pela primeira vez para se apresentarem uns aos outros. A integração, prevista para durar entre 18 e 24 meses, vai pôr fim à marca Rapidão Cometa. Mas o esforço dos executivos é para enfatizar a continuidade no processo de aquisição. “A diretoria do Rapidão Cometa é a mesma, estou no mesmo telefone e o cliente vai continuar falando com as mesmas pessoas com as quais costumava falar”, garante Américo Filho.

Para uma fonte do setor, manter a família no comando, pelo menos por um tempo, está entre os maiores desafios da FedEx. “Se a família sair rapidamente, o risco é grande. O mercado brasileiro é complicado e completamente diferente do transporte internacional. Tem de deixar na mão de quem conhece”, afirma. “Não foi à toa que a TNT, holandesa que comprou a transportadora Mercúrio, do Rio Grande do Sul, em 2007, enfrentou tentativas frustradas de mudança de cultura e de modelos de gestão.”

Foi justamente a cultura da Rapidão Cometa que chamou a atenção do fundo GG, do ex-ministro do Planejamento Antônio Kandir, na hora de decidir comprar uma participação minoritária na empresa, em 2009. “Eles criaram um cultura de disciplina e respeito. O que fizemos foi apenas aumentar uma racionalidade já existente nos processos de decisão”, afirma. Perguntado sobre o retorno do investimento feito pelo fundo, que só saiu da empresa com a aquisição, Kandir é tão discreto quanto ele mesmo descreve que a família Pereira é: “Só posso dizer que estamos tão felizes quanto eles.”

(Cátia Luz | O Estado de São Paulo)

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