Ferrous vai tentar fazer IPO para se capitalizar

O engenheiro Jayme Nicolato, com 20 anos de carreira no setor de mineração, com passagens por Vale, CSN e Vincenza Mineração, assume esta semana a presidência-executiva da Ferrous Resources do Brasil, posto antes ocupado ex-diretor executivo de ferrosos da Vale, Mozart Litiwinski. O maior desafio de Nicolato é capitalizar a empresa, controlada por fundos de investimentos estrangeiros, para tirar do papel um projeto de mineração integrada de mina, mineroduto e porto, avaliado entre US$ 5 bilhões a US$ 6 bilhões. A meta da companhia é produzir 25 milhões de toneladas de minério de ferro até o fim de 2016.
 
Nicolato mostrou entusiasmo com o novo emprego e disposição para enfrentar percalços na implantação do projeto da Ferrous, que avalia como um empreendimento de "excelência". Segundo ele, "combina bons ativos com ótima logística". Antes mesmo de assumir o cargo no dia 1º, ele já trabalha numa revisão do plano de negócios da empresa, que pretende apresentar ao conselho estratégico dos acionistas nos primeiros 90 dias de sua gestão. O plano, segundo adiantou, traça alternativas para a companhia atrair recursos e alavancar o investimento, com destaque para a proposta de abrir o capital da Ferrous na Bovespa ainda este ano.

O IPO, na avaliação de Nicolato, pode ser um caminho para capitalizar a mineradora caso a busca de um sócio estratégico, processo em curso desde o ano passado e ainda em aberto, não se concretize no curto prazo para reforçar o caixa da Ferrous, hoje estimado em US$ 200 milhões. O executivo acha possível dar partida à abertura de capital da Ferrous logo após a empresa receber as licenças de instalação do mineroduto e do porto e de ter o "sinal verde dos acionistas". Além disso, saber aproveitar uma "boa janela" do mercado, ressalta.

O executivo lembra que os acionistas da companhia tentaram em 2008 abrir capital na bolsa de Londres para captar US$ 600 milhões, mas a operação foi interrompida com a eclosão da crise financeira que abalou os mercados globais. Nicolato crê que hoje não haja risco para este tipo de operação no tocante ao projeto da Ferrous.
 
"O projeto está praticamente licenciado, as propriedades em torno do mineroduto – que passa por 22 municípios, sendo 17 em Minas – e o terreno do porto, no município de Presidente Kennedy, no Espírito Santo, já foram 100% adquiridas. Portanto, está tudo pronto para dar partida à primeira fase do projeto de produzir 25 milhões de toneladas", afirmou Nicolato. "Isso dá confiança ao investidor", disse.

Além de propor a abertura de capital, o executivo acredita que a "sinergia", principalmente na logística, é a palavra chave para a empresa se relacionar com outras mineradoras de Serra Azul, instaladas no quadrilátero ferrífero de Minas Gerais, onde estão suas cinco minas, além de uma jazida na Bahia. Ao todo, os recursos minerais da Ferrous são estimados em 5 bilhões de toneladas e reservas de 3,5 bilhões, podendo chegar a 4 bilhões, informou o executivo.

"Podemos construir terminais de minério comuns com Usiminas, MMX, CSN e Vale, que têm minas em Serra Azul e em Congonhas. A Usiminas e outras mineradoras podem querer transportar minério por nosso mineroduto. O mineroduto irá de nossa mina de Viga, em Congonhas, até o litoral do Espírito Santo, onde projetamos construir o terminal. No caso da MMX, podemos buscar também vantagens logísticas para ambas as partes com compartilhamento de ativos, como o porto Sudeste da MMX e o mineroduto da Ferrous.

Os acionistas da Ferrous, segundo ele, planejam também melhorar a qualidade do minério produzido pela companhia quando a empresa atingir a produção de 25 milhões de toneladas por ano. "Vamos passar a produzir principalmente o tipo pellet-feed, um minério mais fino e mais caro, para transportar via mineroduto. O mineroduto deve começar a operar no início de 2017.

O carro chefe atual da produção da Ferrous é o minério do tipo sinter-feed (fino). A produção é ainda pequena, mas pode chegar a 14 milhões de toneladas em 2014. Para este ano, a empresa programa produzir 3,5 milhões de toneladas e exportar 1,5 milhão para a China.

Nicolato desenha um cenário otimista para o minério de ferro no longo prazo, com preço na casa dos US$ 100 a tonelada. Ele acredita que a referência para comercialização do produto será o preço do "spot" chinês com negociação caso a caso entre mineradora e siderúrgica. O que não vai eliminar os contratos de longo prazo. Para 2012, estima um preço médio para o minério na faixa de US$ 140 a US$ 145, igual ao de 2011. E aposta que a China ainda continuará a ser o grande demandante da commodity com seu plano de urbanização de 200 milhões de habitantes, o equivalente a um Brasil, até 2025.

(Vera Saavedra Durão | Valor)

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