Fibria e Qualicorp ficam sob pressão com ofertas

Após negar, no fim de fevereiro, que estivesse avaliando uma oferta de ações, a Fibria informou ontem que fará uma emissão primária e quer levantar R$ 1,25 bilhão. A maior produtora mundial de celulose branqueada de eucalipto também vendeu, por R$ 235 milhões, ativos florestais localizados no sul da Bahia para o Fundo Florestas do Brasil.
 
As ações da Fibria fecharam ontem estáveis, a R$ 15,20. Desde que as primeiras notícias sobre a oferta surgiram, os papéis caem 6%. Quando uma empresa listada anuncia uma oferta subsequente, normalmente as ações ficam sob pressão, já que investidores querem uma espécie de desconto em relação ao preço em bolsa para os novos papéis.
 
Além de Fibria, também a operadora de planos de saúde Qualicorp já comunicou uma oferta de ações – nesse caso secundária, com a venda de papéis dos atuais acionistas. A operação deverá movimentar entre R$ 700 milhões e R$ 900 milhões, considerando a cotação atual.
 
O fundo de investimentos Carlyle deverá vender 40% de sua fatia na empresa, que hoje é de 39,7%. O fundo só poderá vender os outros 60% a partir de julho de 2012, conforme estabelecido na oferta inicial. E o fundador José Seripieri Junior reduzirá sua fatia de 28,01% para cerca de 18,5%.
 
A quantidade de ações da Qualicorp em circulação no mercado deverá praticamente dobrar e alcançar 65% do capital.

Em relatório, os analistas JC Santos e Pedro Montenegro, do BTG Pactual, afirmam que a baixa liquidez da Qualicorp é uma das principais reclamações de investidores em relação à ação.
 
Os analistas dizem que os papéis estão sob pressão em razão da oferta e também por resultados fracos no quarto trimestre. "Mas apostamos na habilidade de gerar caixa da empresa e acreditamos que a queda acumulada neste ano fará da oferta um bom momento de entrada no papel."
 
Desde as primeiras notícias sobre a oferta, a Qualicorp cai 14%.
 
No caso da Fibria, as duas medidas podem adicionar quase R$ 1,5 bilhão ao caixa da companhia. Estão em linha com a estratégia de redução de alavancagem – que por dois trimestres ficou acima do teto estabelecido – e tem por objetivo garantir fôlego financeiro para tocar futuros projetos, em um momento em que praticamente todos os produtores de celulose do país anunciam ou já iniciaram construção de novas fábricas.
 
Os planos da Fibria englobam a construção da segunda linha de produção no município de Três Lagoas (MS), com capacidade para 1,5 milhão de toneladas por ano da matéria-prima e investimentos de R$ 5,8 bilhões. A base florestal para o projeto está sendo implantada e as operações devem iniciar na segunda metade de 2014.
 
Para cumprir esse prazo, entre outros fatores, como as condições do mercado de celulose, a Fibria teria de reduzir sua alavancagem, medida pela relação entre dívida líquida e resultado antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês). No terceiro trimestre, esse indicador ficou em 4,2 vezes. No seguinte, subiu a 4,8. Diante desse cenário, a empresa teve de renegociar compromissos com credores relativos ao nível de endividamento.
 
"Isso (a oferta de ações) era mais do que esperado, sobretudo se o prazo da nova fábrica for mantido", afirmou uma fonte do setor. "Há muitos projetos concorrentes e que vão adicionar muita celulose no mercado a partir de 2014 e 2015. As empresas querem aproveitar a janela", acrescentou.
 
A Fibria disse que a oferta "está em linha com a estratégia anunciada (…) de fortalecer sua estrutura de capital e contribuirá para buscar um nível de alavancagem adequado". A operação será examinada em assembleia no dia 26.
 
Em relação à venda de ativos florestais, a Fibria informou que aceitou proposta do FIP Fundo Florestas do Brasil por "certos ativos florestais e terras" no sul da Bahia, com um total de 16,5 mil hectares de plantio de eucalipto para serraria e celulose e produção anual média de 565 mil metros cúbicos de madeira.

(Ana Paula Ragazzi e Stella Fontes | Valor)

 

 

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