FMI vê risco em expansão imobiliária

O Fundo Monetário Internacional (FMI) voltou a alertar ontem sobre o risco do rápido crescimento do crédito imobiliário e dos preços dos imóveis na América Latina e, em particular, no Brasil. Uma das principais preocupações do organismo é a falta de estatísticas mais sólidas e abrangentes para fazer um diagnóstico preciso de potenciais fragilidades nesse setor.
 
"O crédito imobiliário na América Latina tem crescido a uma impressionante taxa real de 14% ao ano, com o Brasil liderando o bloco", afirmam três técnicos do FMI, Luiz Cubeddu, Camila Tovar e Euridiki Tsounta, em uma nota publicada no blog do organismo. "Os formuladores de política públicas e os analistas devem ficar vigilantes."
 
Esse é mais um de vários alertas sobre a expansão do crédito imobiliário no Brasil feitos nos últimos tempos pelo FMI. Depois de falhar em identificar antecipadamente os desequilíbrios que levaram à recente crise financeira mundial, o organismo está sob maior pressão para chamar a atenção de forma clara e em voz alta para eventuais vulnerabilidades que possam desencadear novas turbulências.
 
Até agora, porém, o FMI não fez um diagnóstico conclusivo sobre a existência de uma eventual bolha imobiliária ou de crédito no Brasil. Na nota publicada ontem, os economistas do FMI lembram que "a América Latina tem uma longa história de ”booms” de crédito que deram errado". Os economistas ficam, porém, muitos passos atrás de concluir que o movimento atual é insustentável.
 
Há um mês, o FMI citou o rápido crescimento do crédito no Brasil no seu relatório de estabilidade financeira. Mas a preocupação era que, com o mercado de crédito já bastante aquecido, o Brasil ficaria com menos espaço para usar políticas de crédito para estimular a economia, caso haja uma nova crise econômica que desacelere o crescimento global.
 
Na nota publicada ontem, os economistas chamam a atenção para a falta de dados disponíveis sobre o mercado imobiliário, que dificulta a leitura do que está acontecendo. "Não é possível um diagnóstico apropriado devido às informações frágeis e limitadas sobre o setor imobiliário na região", afirmam.
 
As estatísticas sobre preços de imóveis normalmente são limitadas às grandes regiões metropolitanas e, ainda assim, com séries históricas relativamente curtas. Faltam também dados mais abrangentes sobre estoque de imóveis e novas construções. Sem dados, não se sabe ao certo se a alta de preços que, por exemplo, ocorre nos bairros mais nobres de São Paulo e do Rio de Janeiro, se reproduz com a mesma intensidade em termos nacionais e em todos os padrões de imóveis.
 
Outra questão é se há alavancagem financeira por trás do aumento de preços de imóveis. Bolhas de preços de ativos, por si só, podem causar crises, como ocorreu no estouro da Nasdaq nos Estados Unidos em 2000. Mas os maiores problemas ocorrem quando a alta dos preços dos ativos é sustentada por empréstimos, pois as crises podem se alastrar pelo sistema financeiro. No Brasil, o crédito imobiliário cresceu a uma taxa de 40% nos 12 meses encerrados em março. Mas o volume de empréstimos, de 5,2% do Produto Interno Bruto (PIB), é muito pequeno em comparação aos padrões internacionais.
 
A mensagem dos economistas do FMI é que, mesmo com o volume de crédito relativamente pequeno, é preciso tomar cuidado. Nichos menores podem criar crises sistêmicas, como ocorreu no chamado segmento de empréstimos "subprime" nos Estados Unidos, sobretudo quando todos estão no escuro porque são desbravados novos mercados com poucas estatísticas disponíveis. "É necessária ação para fechar essas lacunas de informações e para fortalecer a vigilância no setor imobiliário", afirmam os economistas.

(Alex Ribeiro | Valor)

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