Fundador da rede Assaí volta para o supermercado

Uma parada na feira para comer pastel, logo após um baile, mudou definitivamente o rumo da vida do empresário Rodolfo Jungi Nagai. Naquela madrugada, ele voltou para casa pensando na provocação feita pelos amigos feirantes. "Você não faz nada o dia inteiro, Rodolfo. Por que não trabalha um pouco e começa a comprar farinha para a gente?", diziam.
 
Nagai, então com 19 anos, topou a ideia e iniciou um negócio de venda de farinha para bancas de pastel em São Paulo. Surgia assim, no início dos anos 70, o embrião da rede atacadista Assaí, que chegou a 30 lojas em 2007, quando o Grupo Pão de Açúcar comprou 60% da empresa por R$ 208 milhões. Dois anos depois, o grupo adquiriu o restante, por mais R$ 175 milhões. Desde então, Nagai esteve afastado do varejo.

Mas agora, passado o prazo de dois anos da cláusula de não competição – que impede o vendedor de concorrer diretamente com o comprador -, o empresário está de volta ao jogo.

Nagai se associou ao amigo Paulo Tadao, dono da rede paulista de supermercados Ricoy e está reestruturando o negócio. Algumas das 74 lojas devem dar origem a um novo formato: um supermercado e um atacado dividindo o mesmo espaço, diferente do "atacarejo". "Comércio está no sangue. Estava louco para voltar", diz ele, hoje com 58 anos e dono de seis laticínios que faturam R$ 220 milhões ao ano.

Fundado há 11 anos, o Ricoy surgiu quando Paulo Tadao e seu sócio Hermes Kinshoku decidiram fundir suas redes. Tadao era dono da Iocoy, com 12 lojas. Kinshoku tinha sete supermercados, com o nome de Riviera. Com a primeira sílaba de um e a última de outro foi criado o Ricoy. Por meio de aquisições, a empresa ficou quase quatro vezes maior em menos de uma década. Passou de 19 para 74 unidades, em 20 cidades. "Cresceram muito rápido, mas a cabeça não acompanhou", diz Nagai.

Cunhado. Para reestruturar a companhia, o empresário foi buscar no mercado gente que o acompanhou nos 35 anos de Assaí. O primeiro nome foi o de Luiz Kogashi, seu cunhado. Kogashi é ex-presidente da rede de atacado e esteve à frente da operação nos dois anos em que o controle foi dividido entre o fundador e o Pão de Açúcar. "Na verdade, foi o Kogashi quem me falou do Ricoy. Contou que o pessoal precisava de uma força. Disse a ele que só entraria nessa se ele fosse comigo", afirma. Foram nomeados até agora cinco novos executivos – todos ex-Assaí. "É uma equipe azeitada. Ninguém pensou duas vezes para vir", diz.

O time, porém, tem uma dura missão. "Os donos achavam que iam ter sucesso conseguindo escala. Por isso, fizeram várias aquisições", diz um concorrente. Por dez anos, os empresários compraram lojas deficitárias e endividadas. Pagavam as dívidas dos antigos donos e, em troca, ficavam com o supermercado.

Mas muitas estavam na pindaíba por problemas de gestão, que não foram sanados depois que viraram Ricoy. " Tadao e Kinshoku achavam que o ganho de escala encobriria a ineficiência de gestão", diz o rival.

Para arrumar a casa, a ordem de Nagai é modernizar procedimentos – o que passa por novos equipamentos e digitalização de processos. Mas também envolve a criação de uma nova diretoria na empresa, a de operações. "Não sei como eles faziam sem essa área", diz Nagai. É o executivo de operações quem fixa metas – de vendas, de rentabilidade e de eliminação de perdas – e as estratégias para alcançá-las.

Esse último item, a redução de perdas, é um dos desafios que Nagai terá pela frente. Como muitas unidades são gerenciadas à distância (algumas estão a 400 quilômetros da sede, em São Paulo), furto de mercadorias e desabastecimento são frequentes.

Formato. Além de longe da sede, algumas lojas são grandes demais. Por isso, um novo formato – que une varejo e atacado – será testado. "Em parte da loja, teremos embalagens de atacado, para comerciantes e também donas de casa que gostam de comprar pacotes maiores, para economizar", diz Nagai.

A estratégia também quer tirar proveito do aumento das vendas no atacado, que no ano passado cresceram 8,2%, segundo dados da Associação Brasileira de Atacadistas e Distribuidores (Abad). O porcentual é maior que os 6% do varejo em 2010, segundo a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomercio). "Toda rede varejista precisa de uma mexida de tempos em tempo", diz o consultor de varejo Eugênio Foganholo. O conceito misto, segundo ele, pode funcionar bem, principalmente em regiões que não comportam um grande atacado.

No Ricoy, Nagai espera que as vendas cresçam até 30% neste último trimestre, ante os mesmos meses de 2010. A receita, de R$ 1,4 bilhão ano passado, deve ir a R$ 1,5 bilhão até o fim de 2011.

O empresário, porém, ainda não tem definido quanto terá do negócio. "Vim para ajudar. Depois vamos discutir como fica minha participação, que deve ser algo em torno de 30%", diz. Tadao e Nagai se conhecem há 25 anos e já tiveram um negócio juntos, a Hort Mix, um atacado de hortifrutigranjeiros. A empresa não vingou. A esperança, agora, é que o Ricoy decole.

(Lílian Cunha l O Estado de S. Paulo)

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