Fundo Axxon prepara Guerra para a venda

Uma das três maiores fabricantes de implementos rodoviários do Brasil, a Guerra – sob o comando do fundo de private equity Axxon Group – tirou definitivamente a família fundadora da gestão, trocou seus principais diretores, aprimorou a governança e se preparou para a planejada venda.
 
Da família que criou a companhia em Caxias do Sul em 1970 restou apenas o sobrenome de seu fundador – Ângelo Francisco Guerra – e um cargo na vice-presidência no conselho de administração, ocupado atualmente por Marcos Guerra.
 
Após a compra da Axxon em junho de 2008, a família Guerra manteve cargos de direção por um curto período na fase de transição, mas atualmente nenhum deles participa da gestão do grupo. Marcos, filho de Ângelo Guerra, foi o último a sair, após deixar a diretoria comercial em julho de 2010.
 
Desde então, a companhia passou por um intenso processo de reestruturação, compreendendo a adoção de novos sistemas de gestão empresarial, o enxugamento de áreas administrativas e a renegociação de dívidas.
 
Walter Rauen, após 15 anos na presidência da fabricante de equipamentos rodoviários gaúcha Ciber, chegou à empresa em agosto para consolidar essas transformações. Em sua gestão na direção-geral, trocou diretores das áreas comercial e industrial e extinguiu o cargo de diretor de administração, cujas funções foram assumidas pelo próprio presidente executivo.
 
Também estabeleceu novas práticas de governança, a partir da criação de uma diretoria de controladoria e finanças e a contratação de uma auditoria interna independente.
 
A direção da Guerra acredita que agora será possível se concentrar mais no crescimento das operações. "Ainda existem algumas demandas a serem executadas, mas chegamos a um bom nível", afirma Rauen, ao comentar a reestruturação da fabricante de reboques gaúcha.
 
Após retomar a rentabilidade em 2010, quando o lucro somou R$ 17,5 milhões, o grupo traçou metas que incluem chegar a 17% do mercado ainda neste ano – o share já é de 15%. As estimativas para o faturamento são de um crescimento de 5% em 2012, na contramão das projeções da indústria que apontam para uma queda de 5% do mercado como um todo, na esteira das restrições nos financiamentos de carretas e um aguardado arrefecimento nas vendas de caminhões, que utilizam os reboques para o transporte de carga.
 
Com a esperada melhora do ambiente de negócios a partir do ano que vem, Rauen acredita que a Guerra conseguirá crescer a um ritmo médio anual de 7% a 8%, podendo chegar a 10% se a economia surpreender.
 
Além do desenvolvimento de novos produtos, a estratégia desenhada pela diretoria inclui a abertura de regionais de venda para atendimento fora da região Sul e maior agressividade nas exportações – canal que passa a ser mais explorado pelas empresas do setor com a acomodação no mercado doméstico em 2012.
 
Para Rauen, a participação das exportações sobre as vendas totais poderá subir de 3% para 10% apenas com a conquista de novos mercados na América Latina.
 
A partir da dispensa de 105 funcionários – principalmente nas áreas administrativas – e a renegociação de contratos com fornecedores, a empresa pretende reduzir em 7,4% seus custos somente neste ano.
 
A principal finalidade desse choque de gestão é melhorar a atratividade do negócio para o momento de venda da empresa, que é o objetivo de todo fundo de private equity, como o Axxon Group. Entre os possíveis interessados, a Randon, por sua liderança, é sempre apontada entre as mais cotadas para assumir a Guerra, embora a empresa gaúcha nunca tenha manifestado publicamente essa intenção.
 
Para a Randon – dona de 32,6% das vendas de reboques no Brasil -, as principais vantagens estão ligadas a ganhos de escala e sinergias em uma eventual incorporação da concorrente, que tem cinco unidades industriais e uma receita anual próxima a R$ 500 milhões – a empresa não divulga os resultados de 2011, que ainda estão sendo auditados.
 
A união permitiria à Randon chegar a quase metade do mercado doméstico e capturar sinergias entre as operações de Caxias do Sul, onde estão sediadas as duas empresas.
 
Na avaliação de Rauen, a profissionalização colocou a Guerra em um novo patamar em relação às demais empresas do setor, onde o controle está nas mãos de famílias. "Começamos a olhar a empresa por outro foco. Quando há uma transição de uma empresa familiar para um fundo, a dinâmica passa a se voltar mais ao controle e aos resultados", diz o executivo. "Você começa a olhar de forma diferente do modo como o dono olharia para o negócio", acrescenta.
 
Para este ano, a companhia prevê investir R$ 9,6 milhões em modernização, manutenção e melhoria de produtividade das unidades industriais: duas em Caxias do Sul, duas em Farroupilha (RS) e uma em Guarulhos (SP). No ano passado, os aportes foram superiores, da ordem de R$ 14,5 milhões.

(Eduardo Laguna | Valor)

 

+ posts

Share this post