Fusões e aquisições turbinam advocacia

Receita dos maiores escritórios cresce até 20% em 2010; atuação internacional e "direito digital" demandam reforços.

Participação de grupos internacionais em negociações cresce, o que exige de advogados conhecimento amplo.

Com operações empresariais cada vez mais sofisticadas no Brasil, no embalo da expansão econômica, um segmento pouco comentado ganha um impulso e tanto: o da advocacia corporativa.

O maior escritório "full-service" (com atendimento em várias áreas) do país, o Siqueira Castro, teve aumento de 20% da receita em 2010.

Crescem direito digital e escritórios médios.

Escritórios de advocacia de médio porte também têm sentido os efeitos da demanda aquecida no país.

O Velloza, Girotto e Lindenbojm, com 95 advogados, sendo 15 sócios e 1.100 empresas clientes, teve um aumento de 30% da receita nos últimos dois anos.

Desde 2008, quando começou a desenvolver a área de fusões e aquisições, até 2010, o escritório montou 11 operações nesse segmento, no valor de R$ 12 bilhões. Neste ano, já há outras nove em andamento.

"Com o mercado aquecido, as empresas passaram a procurar mais os escritórios de médio porte, que podem fazer as mesmas operações com qualidade e cobrando menos", diz Luiz Girotto, advogado e sócio.

Advogados desse ramo não só acompanham processos e fazem consultoria para seus clientes mas também estruturam operações como fusões e aquisições e lançamentos de ações em Bolsa de Valores.

Do faturamento total do Siqueira Castro, cujo valor não foi revelado, 15% vêm hoje do segmento de fusões e aquisições, que começou a ser mais desenvolvido pelo escritório a partir da segunda metade dos anos 2000.

"E é nessa área que pretendemos reforçar o time em 2011 e 2012", diz Carlos Fernando Siqueira Castro, sócio-presidente do escritório, que possui cerca de 2.000 empresas clientes.

Muitas vezes, as demandas envolvem companhias estrangeiras -que podem, por exemplo, estar na mira para serem compradas por grupos brasileiros ou ter interesse em adquirir ativos aqui.

São situações que têm modificado o perfil dos escritórios e dos profissionais. Com 509 advogados, sendo 58 sócios hoje, o Siqueira Castro tem 35% da receita originada por estrangeiros ou por empresas brasileiras com negócios fora do Brasil. No final dos anos 1990, eram menos de 5%.

O escritório faz parte de uma rede de advocacia internacional, a Advoc, sediada no Reino Unido e presente em 110 países. E tem parceria exclusiva com um grupo na França e unidades próprias em Portugal e Angola, com profissionais desses locais.

Aos advogados brasileiros só é permitido lidar com a parte das operações que envolve a legislação doméstica.

"Não passa uma semana sem que indiquemos, a parceiros no exterior, empresas interessadas em investir fora do país", diz Castro. "No passado, éramos nós que recebíamos serviço do exterior", completa.

MAIS QUALIFICAÇÃO

Já o Pinheiro Neto, que possui cerca de 370 advogados atualmente, sendo 73 sócios, tem crescido "no ritmo do PIB" (Produto Interno Bruto), diz Alexandre Bertoldi, sócio-gestor do escritório, que tem 9.000 empresas clientes ativas. "Privilegiamos o crescimento orgânico", completa.

De acordo com Bertoldi, a maior sofisticação das operações exige mais qualificação dos advogados. "Os profissionais, agora, levam de três a quatro anos para pegar casos maiores. No passado, não se levava menos de dez anos", diz.

"É indispensável ao advogado hoje falar língua estrangeira e ter vivência internacional, conhecer outras culturas", acrescenta.

O Machado, Meyer, Sendacz e Opice, com 280 advogados hoje, sendo 40 sócios, tem cerca de 40% da receita (o valor não foi revelado) gerada a partir de operações de fusão e aquisição. O escritório também não informa o número de clientes.

"Temos um mercado amadurecido e esperamos que cresça ainda mais", diz Nei Zelmanovits, sócio-diretor.

(Carolina Matos l  Folha)

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