Gafisa atrasa republicação de balanço americano de 2009

Nove meses depois de informar a decisão de que iria republicar seu balanço de 2009 no padrão contábil americano, a incorporadora imobiliária Gafisa disse ontem que ainda levará de três a quatro meses para que a PricewaterhouseCoopers, contratada apenas para esse serviço, termine a checagem dos números.
 
A Tenda, mais uma vez, é a culpada pelos problemas da Gafisa. Segundo o diretor de planejamento e controle da companhia, Fernando Calamita, a demora se explica pela dificuldade para se encontrar documentos de operações feitas há mais de dois anos pela então subsidiária de baixa renda, que ainda não tinha sido incorporada. "Era um volume muito grande de documentos e o arquivo não estava tão bem organizado", afirmou.

Segundo ele, a companhia está organizando e fazendo o inventário de mais de mil caixas de documentos que dão suporte às operações da Tenda. Calamita diz ainda que o processo de auditoria requer também mais de mil solicitações de informações a bancos e advogados, uma vez que a companhia controla 400 sociedades de propósito específico.
 
Por conta do atraso na divulgação do balanço republicado de 2009 no padrão contábil americano, a Gafisa também não entregou até agora o 20-F, documento anual de informações exigido pela Securities and Exchange Commission (SEC), referente a 2010, que deveria ter apresentado até o fim de junho do ano passado.
 
Diante disso, a companhia pediu e obteve da Bolsa de Nova York um aval para que seus American Depositary Receipts (ADRs) possam continuar negociados no mercado americano ao menos até 15 de julho, apesar de a empresa não estar em dia com a prestação de informações exigidas.
 
Mesmo com o atraso no processo de auditoria, a Gafisa decidiu divulgar ontem mesmo o balanço republicado de 2009 em US Gaap – ainda sem o parecer da PwC.
 
A diferença em relação aos números originalmente publicados é bastante relevante.
 
No balanço original no padrão americano, auditado pela Terco Grant Thornton, a Gafisa tinha registrado receita de R$ 2,34 bilhões e prejuízo de R$ 36,7 milhões em 2009. Pelos novos números – ainda não auditados – a receita caiu para R$ 1,21 bilhão e a perda saltou para R$ 402,7 milhões.
 
O maior impacto, segundo Calamita, se deve à mudança no critério para reconhecimento de receita de venda de imóveis.
 
No Brasil, desde o início das vendas, ainda na fase de lançamento de um empreendimento, já é possível registrar receita correspondente ao custo da compra do terreno. No padrão americano, o registro só pode ser feito a partir da fundação da obra e depois que o comprador paga ao menos 5% do valor devido, o que indicaria um real comprometimento com a aquisição.
 
Isso já era seguido pela Gafisa. A mudança ocorre nos casos em que há cancelamentos de compras, chamados de distratos. Quando um comprador desiste do imóvel, ele recebe uma parte do valor já pago de volta – descontadas as despesas de venda, marketing, contratos etc.
 
No entender da Ernst & Young, que assumiu a auditoria da Gafisa após a compra da Terco, essa possível devolução deve constar do cálculo dos 5% que permitem o início do registro da receita.
 
De acordo com Calamita, a diferença de critério tem impacto principalmente na Tenda, já que o valor pago no ato da compra do imóvel era mais baixo.

(Fernando Torres l Valor)
 

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