GAP reforça aposta na diversificação de carteiras

Em meio a mais um ano de crise financeira internacional e de fuga dos investidores das aplicações mais arriscadas, a tradicional gestora carioca GAP Asset Management quer aproveitar seu aniversário de 15 anos para mostrar que é muito mais que uma asset independente responsável por um punhado de fundos multimercados. "Apesar de sermos ainda identificados com os multimercados, já que fomos um dos primeiros a lançar esse tipo de carteira, temos hoje uma estrutura grande de gestão e uma prateleira diversificada de fundos", afirma Carlos Camacho, sócio-fundador da GAP.

A asset carioca foi criada em 1996 por Camacho, Emanuel Pereira da Silva e Renato Junqueira, após os três venderem sua participação no Banco Cindam. Em seguida, o Cindam juntou-se ao Banco Fonte, para formar o FonteCindan, extinto após perda bilionária no mercado do câmbio em 1999, quando o Brasil abanou o regime de câmbio fixo.

A GAP surgiu tendo como carro-chefe o GAP Hedge, um dos primeiros multimercados brasileiros, que acumula rentabilidade de mais de 1.485% de 1996 para cá. Hoje, a gestora possui mais de 15 fundos, entre os tradicionais multimercados, carteiras de ações e de renda fixa.

Com uma oferta diversificada de carteiras, a GAP pode aproveitar os diferentes momentos do mercado, sem ficar refém de um tipo de investidor ou classe de fundos, afirma Oscar Camargo, que, junto com Leonardo Callou, se tornou sócio da GAP em 2001. Foi quando a asset desmontou uma parceria com a gestora Investidor Profissional (IP) e iniciou seus passos na área de fundos de ações. Hoje, dos cerca de R$ 3,7 bilhões sob gestão, aproximadamente R$ 1 bilhão está nos fundos de ações, conta José Eduardo Louzada, sócio da GAP desde 2006.

A mais nova investida da asset é no segmento dos chamados "fundos de inflação", com o recém-lançado GAP Institucional IPCA, que usa o índice oficial de inflação como referência no lugar do Certificado de Depósito Interfinanceiro (CDI, juro interbancário). É o primeiro passo na direção de montar carteiras que não estejam ligadas ao CDI, de olho na perspectiva de que a economia brasileira passe a conviver com taxas de juros menores. E, com a queda de juros, a família de fundos deve ser ampliada. A GAP planeja encerrar o ano com R$ 4,5 bilhões sob gestão. "Já temos algumas grandes ”boletas” para serem fechadas este ano", diz Louzada.

A diversificação de carteiras é arma para evitar oscilações abruptas de patrimônio capazes de abalar a saúde financeira da própria gestora. Em períodos de vacas magras para os fundos mais ariscos, a GAP capta dinheiro com as carteiras mais conservadoras – e vice-versa. "Com isso, conseguimos manter vários clientes e até trazer mais dinheiro", diz Camargo.

Sem grandes variações no volume de recursos sob gestão, a asset consegue manter uma infraestrutura robusta e uma oferta diversificada de fundos, formando assim um ciclo virtuoso, explica o sócio Oscar Camargo. Hoje, a gestora conta com 60 profissionais, 30 deles ligados diretamente à gestão de recursos. "Está claro que gestoras sem estrutura, com apenas um ou dois fundos, ou dependente do talento de um único gestor, não vão sobreviver por muito tempo", diz Camargo, que destaca a parceria fechada em julho de 2008 com a americana Prudential Financial, que passou a deter 40% da GAP, como um passo decisivo para o aumento da equipe e do número de fundos.

Em janeiro de 2009, após a chegada da Prudential, a GAP Asset Management passou a ser dividida em duas estruturas: a GAP Gestora, especializada nos multimercados, e a GAP Prudential, que se concentra na gestão de carteiras com estratégia de longo prazo. "Isso nos dá a solidez para sempre continuar investindo e trazer as melhores pessoas para competir", afirma o sócio Renato Junqueira.

Os sócios da GAP apostam em um movimento mais acentuado de consolidação do setor de assets independentes nos próximos anos. Muitas das gestoras que surgiram no início dos anos 2000, criadas por executivos egressos das tesourarias de grandes bancos, não conseguiu construir uma estrutura e um histórico de resultados para sobreviver no longo prazo. Sem isso, não há como atrair investidores por meio dos grandes distribuidores de fundos, cujos profissionalismo e critérios de avaliação são cada vez maiores, diz Camacho. "A seleção de gestoras é feita por um processo muito exigente, e muitas assets não preenchem os requisitos necessários", afirma.

Segundo Camacho, a crise atual pode acelerar esse processo de consolidação, já que muitas gestoras não tem fôlego para manter resultados elevados por muito tempo e são muito dependentes de um grupo pequeno de investidores. "Já vimos muita gente sair do mercado nesses anos todos, por não conseguir manter resultados e perder muito nas crises", afirma ele, ressaltando que a gestora não quer ser reconhecida por um ou outro ano de ganhos espetaculares, mas pela consistência de resultados. "O negócio de gestão de recursos para nós é maratona, e não corrida de cem metros", diz.

(Antonio Perez | Valor)

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