Gigante russa do aço entra no Brasil

De forma bem discreta, a Severstal, a maior fabricante de aço da Rússia, entrou no Brasil. No mês passado, a empresa adquiriu 25% do capital da brasileira SPG Mineração por US$ 49 milhões (cerca de R$ 80 milhões). Embora o valor não seja tão expressivo para uma empresa que faturou US$ 13,5 bilhões (cerca de R$ 22 bilhões), o negócio é considerado estratégico pela gigante russa.

“No futuro, a mina, uma vez operando, pode ser uma fornecedora de minério de ferro de alta qualidade para nossas usinas siderúrgicas nos EUA assim como servir para atender a base de consumidores de minério de ferro nas Américas e Europa”, disse Boris Granovsky, diretor de desenvolvimento estratégico da Severstal-Resources, uma divisão da OAO Severstal, em entrevista ao iG.

Uma parcela dos recursos pagos pela gigante russa à SPG financiará a exploração geológica das minas licenciadas que ficam no Amapá. O objetivo é ratificar o potencial das reservas já encontradas. Em termos de produção anual, a mina pode processar 10 milhões a 20 milhões de toneladas de concentrado de ferro.

Segundo Granovsky, a estimativa é que as reservas de minérios sejam de 500 milhões a 1,5 bilhão de toneladas, com teor de ferro entre 40% e 45%. Como base de comparação, a mina de Carajás, da brasileira Vale, tem teor maior, por volta de 67%. De acordo com Granovsky, o projeto é localizado próximo a uma ferrovia e um porto já existente. Mas o diretor da Severstal não descarta o interesse de desenvolver a própria solução logística.

“A aquisição da Severstal no Brasil se encaixa na estratégia global de integração vertical (do minério à produção de aço)”, disse o executivo da empresa russa. “Investir nas matérias-primas relacionadas à cadeia do aço é uma das estratégias prioritárias da Severstal, permitindo a companhia desenvolver um portfólio global de projetos para diversificar o suprimento de matérias-primas e garantir o futuro crescimento das operações de aço”, analisa.

Privatização na antiga União Soviética

A Severstal nasceu com a privatização dos ativos siderúrgicos pós-deblaque da União Soviética nos anos 1990. Sua principal fábrica opera desde 1955 na cidade de Cherepovets, região noroeste da Rússia, com capacidade de 11,1 milhões de toneladas de aço bruto.

Na última década até a crise de 2008, a siderúrgica aproveitou o grande boom do setor e fez inúmeras aquisições na Ucrânia, Cazaquistão, Itália, França e principalmente de usinas nos EUA, tornando-se a quarta maior daquele país e uma das principais fornecedores de produtos à indústria automotiva americana. A fábrica de Dearborn, em Michigan, adquirida pela Severstal em 2004, foi criada por Henry Ford.

Em 2006, a Severstal ganhou notoriedade no mundo do aço em razão de uma tentativa dos controladores da Arcelor de unir as operações das duas empresas de forma a evitar a oferta feita pelo indiano Lakshmi Mittal pelo controle da empresa. No fim das contas, a Arcelor acabou pagando uma multa de 140 milhões de euros à Severstal por não concluir a operação. Mittal formou a ArcelorMittal, maior siderúrgica do mundo.

Mesmo com o cenário de crise econômica, a Severstal continua entre as dez maiores siderúrgicas do mundo: ocupava a 9ª posição, segundo o ranking mais recente do World Steel Association (WSA), o de 2009. A brasileira Gerdau, melhor companhia brasileira entre as maiores produtoras de aço, é a 13ª colocada no mesmo levantamento.

A Severstal é controlada por Alexey Mordashov, um bilionário russo que ajuda manter, por meio de ações de filantropia, os famosos teatros Bolshoi, em Moscou, e o Mariinsky, em São Petersburgo, além de um famoso time de hóquei no gelo que leva o nome da empresa. A fortuna de Mordashov, de 45 anos, é estimada em US$ 18,5 bilhões, segundo a revista Forbes, ocupando a 29ª posição entre os mais ricos do mundo.

Questionado sobre o interesse da Severstal em investir na produção de aço no Brasil, Granovsky declarou que “o Brasil é um dos mais fortes players de siderurgia e mineração do mundo. No momento estamos olhando para se certificar de que o potencial do projeto de mineração no Amapá atende às nossas expectativas antes de fazer quaisquer outros planos.”

(André Vieira l iG)

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