Governo espanhol estimulará fusões bancárias

O novo governo espanhol deu aos bancos um ano a mais para que reconheçam perdas se as instituições concordarem em se unir. A medida é uma tentativa de incentivar a reforma da indústria financeira atingida pelo colapso do setor imobiliário há quatro anos.
 
O ministro da economia, Luis de Guindos, afirmou na semana passada que os bancos terão um ano para contabilizar € 50 bilhões em provisões relacionadas a ativos imobiliários. Se as instituições financeiras concordarem com uma fusão até o fim de maio, teriam 12 meses a mais para registrar os encargos e poderiam, ainda, acessar o instrumento de socorro do Estado em busca de recursos.
 
O primeiro-ministro, Mariano Rajoy, no poder desde dezembro, está tentando restabelecer o fluxo de crédito para a cambaleante economia espanhola e melhorar a confiança nas instituições ofertantes de crédito, atoladas com € 175 bilhões em ativos imobiliários problemáticos. O governo quer remover as dúvidas sobre como os ativos são avaliados para garantir o acesso dos bancos a financiamentos, ao mesmo tempo em que procura reduzir o tamanho da indústria.
 
"Ao melhorar a transparência e a percepção de força dos bancos espanhóis, as instituições terão condições de se financiar de forma melhor e isso permitirá que ofertem empréstimos", disse de Guindos.
 
O governo fará com que os bancos elevem a taxa de provisão para terrenos nas áreas urbanas e rurais de 31% para 80%, acrescentou o ministro. Para obras, o nível de provisão subirá de 27% para 65% e para outros ativos classificados como problemáticos, incluindo casas, chegará a 35%.
 
O banco Santander pode ter que provisionar mais € 2,7 bilhões para cumprir as regras novas, apontou em relatório o Nomura International. O Banco Bilbao Vizcaya Argentaria (BBVA) pode precisar separar mais € 2,6 bilhões e a cifra para o Bankia SA, formado com a fusão de sete instituições, pode alcançar € 5,3 bilhões, calcula o Nomura.
 
Santander e BBVA não informaram como as medidas vão afetá-los e o Bankia informou que cumprirá as novas regras sem ajuda pública.
 
No país ibérico vizinho, o presidente do Banco de Portugal, Carlos Costa, disse que os bancos portugueses continuam tomando medidas para se preparar para futuras crises, enquanto que, no curto prazo, as instituições estão protegidas pelo fundo de resgate de € 12 bilhões.
 
Em conferência sobre risco sistêmico, Costa disse que os empréstimos dos bancos portugueses junto ao BCE se estabilizaram, um importante sinal de que as instituições estão em condições de administrar suas necessidades de liquidez.
 
Tal como seus pares europeus, os bancos portugueses precisam alcançar índice de capital principal (Tier 1) de 9% até junho, como exigido pela autoridade bancária europeia (EBA, na sigla em inglês). Alguns deles já disseram que deverão acessar o fundo de resgate.
 
Costa disse que os bancos portugueses foram resistentes durante a crise financeira que foi deflagrada em 2008 à medida que não investiram em ativos tóxicos, e agora estão trabalhando para reduzir sua dependência do financiamento externo.
 
Para alcançar esse objetivo, os bancos estão dispostos a cortar para 120% até 2014 a proporção dos empréstimos em relação aos depósitos, taxa que era de 150% no ano passado no âmbito do programa de resgate. Economistas advertem, entretanto, que isso pode causar uma crise de crédito indesejável em um momento em que a economia doméstica está se contraindo drasticamente.

(Valor)

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