Grupo Allianz planeja investir em geração no Brasil

A Allianz Climate Solutions (ACS) espera fechar, ainda este ano, a primeira aquisição de uma unidade de geração de energia renovável ou, pelo menos, parcerias para participar dos próximos leilões organizados pelo governo. O alvo da empresa, controlada pela seguradora alemã Allianz, é entrar no mercado brasileiro com geração de energia a partir de biomassa ou de pequenas centrais hidrelétricas (PCHs).

O presidente da ACS, Armin Sandhövel, afirma que a preferência por estes dois tipos de fonte de energia vem da facilidade de pôr em pé um projeto sustentável num curto espaço de tempo. As dificuldades envolvidas com a construção de grandes hidrelétricas, como Belo Monte, afastam a companhia dos maiores projetos de fonte hídrica e aproxima a companhia das PCHs, devido às boas oportunidades nas parcerias com indústrias locais e na possibilidade de conexão com as linhas de transmissão.

Já a biomassa, com a energia gerada a partir de matérias primas como o bagaço de cana, chamou a atenção da ACS pela "expertise" apresentada pela indústria nacional do setor, que conta com tecnologia desenvolvida no país.

"O Brasil tem muita experiência em bioenergia e não teremos de procurar por um novo negócio, com muitas barreiras ou dificuldades, porque ele já é estabelecido", destaca Sandhövel, que participou esta semana do 28º Encontro Econômico Brasil-Alemanha, em Munique.

O presidente da companhia garante que a ACS está preparada para disputar com sucesso os leilões realizados pelo governo, com projetos muito competitivos. No setor de cana, o objetivo será a geração de energia a partir do bagaço e não a produção de etanol, uma vez que a geração elétrica garante um fluxo de caixa mais estável e previsível, enquanto os preços do combustível estão sujeitos a fortes variações.

Também não estão descartados os investimentos em ativos florestais e parques eólicos nos próximos anos no país. Para Sandhövel, a aposta em florestas pode ajudar as metas de redução de emissão de carbono pelo grupo Allianz, de 20% até 2012, na comparação com os volumes emitidos em 2006. "O setor de florestas também é um ativo de classe na redução de emissões de carbono. É complicado, mas extremamente interessante por causa da quantidade de certificados que podem ser gerados."

A companhia, fundada em 2007, não revela o orçamento para atuar no Brasil, mas apresenta como cartão de visitas os € 500 milhões investidos em usinas eólicas na Europa até o ano passado e a meta de investir outros € 1 bilhão em ativos eólicos e produção de energia solar até 2012, de forma a cumprir o objetivo de reduzir as emissões de carbono.

Sandhövel diz que o principal foco para as energias renováveis estará nos países emergentes e a companhia tem como alvos o sudeste asiático e o Brasil, que foi escolhido como mercado preferencial para investimentos há dois anos, quando a ACS definia sua estratégia mundial.

A escolha do mercado brasileiro – que para Sandhövel é o que, ao lado do indiano, tem as melhores condições para energia renovável entre os emergentes – tem como pilares a estabilidade econômica, o sistema regulatório e a história do uso de fontes renováveis na matriz energética.

"Por que o Brasil? Porque o país é economicamente estável e temos uma filial forte lá. A Allianz Brasil tem um papel importante em todo o grupo", frisa Sandhövel, lembrando que a ACS só buscará projetos onde a Allianz possa atuar como seguradora.

Mas o executivo mostra especial interesse nas oportunidades abertas para o setor de geração de energia fotovoltaica, obtida com a radiação solar. Para Sandhövel, grandes parques de geração solar podem se tornar uma realidade para o Brasil no longo prazo, entre 10 e 20 anos.

"No Brasil há condições perfeitas. O problema é o preço. Mas estou bem seguro de que o custo vai cair na próxima década", diz. Segundo ele, a Espanha tem três grandes unidades em construção e as próximas deverão ser erguidas nos Emirados Árabes.

Sandhövel aponta três condições para o sucesso da energia solar: a pressão política, o preço do petróleo e a inovação tecnológica. Neste sentido, o Brasil já largaria na frente, com um projeto de governo empenhado em aumentar a geração de energia a partir de fontes renováveis.

Unido a isso está o esperado salto de tecnologia. O último, de filmes finos para os painéis, começou a ser desenvolvido nesta década e já está em fase de implementação comercial. Para Sandhövel, o próximo avanço, com redução do preço de produção da energia, pode acontecer em mais dez anos. Por fim, a variação de preço da principal commodity energética mundial pode dar o impulso final no futuro.

"Tivemos uma situação em 2008 em que, por um período curto de tempo, o petróleo esteve na casa de US$ 140. Pela primeira vez a eletricidade de fazendas eólicas foi totalmente competitiva", exemplifica.

(Rafael Rosas | Valor)
 

 

 

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