Grupo espera concluir oferta pela Cimpor em 60 dias

A Camargo Corrêa joga todas suas fichas para ter o controle da Cimpor, uma das líderes mundiais do setor de cimento. A ideia é pôr sob o guarda-chuva da companhia portuguesa todas operações que tem no Brasil, Argentina, Paraguai, Bolívia e Angola, encorpando a companhia na América do Sul. Com isso, passa a ter uma operação global desse negócio, gerida a partir de Lisboa.

Na sexta-feira, por meio da InterCement, o grupo fez oferta pública de aquisição de ações (OPA) na autoridade portuguesa do mercado de capitais, avaliada em € 1,5 bilhão. A expectativa é concluir todas as negociações com acionistas vendedores em dois meses.
 
O objetivo é alcançar pelo menos 67% das ações, percentual que, pelas regras do mercado de capitais de Portugal, garante o direito de indicar 100% do conselho administrativo. Em 20 dias, a CMVM (Comissão da Bolsa de Valores Mobiliários) deve analisar a oferta do grupo, que já é dono de 32,9% da Cimpor. Essa fatia foi comprada há dois anos por R$ 3,6 bilhões.
 
Na OPA, lançada depois do encerramento do pregão da bolsa, a InterCement propõe € 5,5 por ação, prêmio de 10% sobre a cotação do papel na sexta-feira. Esse valor avalia a Cimpor em € 3,7 bilhões.
 
A Caixa Geral de Depósitos (CGD), empresa financeira do governo português que detém 9,6% do capital da Cimpor, informou na própria sexta-feira que estava aderindo à OPA. Ressalvou que só dependia da liberação do acordo de votação conjunta firmado com a Votorantim Cimentos (VC) há dois anos e que vigora até 2020.

Também em comunicado na sexta, a VC informou que iria "analisar a proposta e avaliar todas as alternativas que se apresentam, com o objetivo de atender a sua estratégia de desenvolvimento de negócios e criação de valor no longo prazo". A cimenteira do grupo Votorantim tem 21,2% da Cimpor.
 
A negociação com a VC, que domina além de 40% das vendas de cimento no Brasil, deverá ser definida em uma segunda fase, após a conclusão da OPA e em paralelo à análise da operação pelos órgãos antitruste. Sua saída da Cimpor deve ocorrer por meio de troca de ativos da Cimpor encorpada.
 
No momento, com uma parte de seu alto escalão em Lisboa, a Camargo conversa com representantes do grupo Manuel Fino, detentor de 10,7% da cimenteira. Fino já seria, conforme apurou o Valor, dono dos 10% que estão em nome do fundo de pensão do banco BCP. A Camargo conta ainda com a adesão de parte de donos de papéis no mercado que somam 15,6%.

Um passo importante a ser vencido é a análise dos órgãos da concorrência, principalmente no Brasil. O Cade analisa, há dois anos, a entrada da Camargo e Votorantim no bloco de controle da Cimpor pelo fato de a empresa ser controladora no país da quarta maior fabricante de cimento.

A Cimpor Brasil, com oito fábricas e capacidade de 6,6 milhões de toneladas por ano, é vista como atrativa por ser um dos mais rentáveis da Cimpor. Com vendas de 5,6 milhões de toneladas em 2011 – 8,6% do consumo doméstico -, obteve receita de € 689 milhões. Seu Ebtida, de € 210 milhões, respondeu por 34,1% do total obtido no mundo pela cimenteira e apresentou uma margem de 30,5%.

Enquanto a demanda em Portugal e Espanha está em baixa devido à crise econômica, o desempenho está em alta nas economias emergentes. A participação dos emergentes foi de 78% no Ebitda.
 
Para ter a aprovação do Cade, é provável que a Camargo tenha de se desfazer de certas operações no Brasil, principalmente em concreto. Mas nada que comprometa sua estratégia de ser um competidor de peso com a Votorantim.
 
Com os ativos da InterCement e da subsidiária, a "nova Cimpor" ficaria com participação média pouco abaixo de 20% no mercado brasileiro, índice limitador do órgão antitruste. Mas o Cade analisa a concorrência de forma esmiuçada: regionalmente.

(Valor)

 

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