Hotéis multiplicam seus fornecedores

Só em São Paulo são 410 hotéis e 42 mil apartamentos com taxa de ocupação média de 67%, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis. A estimativa é de que nos próximos três anos a região Sudeste receba 38% dos investimentos previstos na área, de olho na Copa do Mundo de 2014. A expansão não é privilégio do maior parque hoteleiro da América do Sul, mas ocorre também em boa parte das cidades-sede dos jogos e municípios de médio porte distantes até 300 km dos estádios onde ocorrerão os jogos.

Estudo da BSH Travel Research aponta que entre 2011 e 2014 o país deverá ganhar 198 novos hotéis, com investimentos de R$ 7,3 bilhões, a maioria no Sudeste e Nordeste. É um número significativo para um parque que hoje conta com 25 mil hotéis e pousadas, 70% deles de pequeno e médio porte, com até 50 apartamentos.

Os investimentos contribuem não só para a geração de novos empregos, mas principalmente abrem espaço para empresas dispostas a ser fornecedoras de serviços e produtos. Áreas de atuação é que não faltam, desde o fornecimento de uniformes para os funcionários, enxovais de cama e banho, linhas de "amenities" – miniaturas de produtos de higiene – e arranjos de flores até alimentação pronta e serviços de limpeza.

Sinônimo de geleia, a Queensberry é uma das únicas marcas nacionais a ocupar a mesa e a cozinha de hotéis estrelados do país. Mais do que isso, é pioneira no lançamento, há dois anos, da embalagem de alumínio dourado, de 27g, em seis diferentes sabores, voltada a hotéis de três e quatro estrelas, um segmento pouco abastecido pelas indústrias, segundo Cristiano de Moraes, 39 anos, sócio da Kiviks Marknad, responsável pelos produtos da marca. "Sem similar nacional, a nova embalagem, importada da Alemanha, é 50% mais barata que a de vidro e conserva a mesma receita de geleia com pedaços de fruta", diz o empreendedor.

Os hotéis 5 estrelas representam apenas 5% das vendas. Hoje, a marca conta com 50 distribuidores, 20% deles para atendimento exclusivo de hotéis e food services. Com uma variedade 60 itens, mais de 20 sabores no varejo e seis para o segmento de food service, a marca lançou em 2010 a linha 100%, composta por geleias elaboradas integralmente com frutas, sem adição de açúcares ou qualquer tipo de conservante, corante ou aromatizante.

"O mercado hoteleiro é um dos que mais apostam na terceirização de serviços, não só pela falta de expertise em determinadas áreas, mas por uma questão de logística e redução de custos", afirma Maristela Fugiyama, pesquisadora do Centro Universitário Senac. Segundo ela, os principais trunfos das pequenas empresas são a flexibilidade para atender às necessidades de cada perfil de cliente e a proximidade dos hotéis.

É o que se confirma na prática. Cerca de 70% dos fornecedores da rede portuguesa de hotéis Vila Galé são empresas de pequeno e médio porte. "Trabalhamos muito com perecíveis e entregas diárias, o que torna indispensável estar próximo do fornecedor", diz José Antonio Bastos, diretor da rede no Brasil. "Em Cumbuco [CE], por exemplo, os pescados que abastecem o hotel veem de uma cooperativa de pescadores locais; o mesmo acontece com o coco na unidade da Bahia".

Com seis hotéis no Brasil e mais de 200 fornecedores em carteira, a Vila Galé escolheu uma pequena empresa de Salvador como fornecedora do material de construção, para reformas e novos projetos. "Foram quase dois meses de negociação; alguns apartamentos foram reformados como apresentação, até que fechamos o contrato no valor de R$ 500 mil", conta Marcos Cal, 39 anos, sócio da Metta Importação e Exportação. Aberta em fevereiro, a empresa configura-se como uma pronta-entrega de porcelanatos importados, com lotes exclusivos para grandes empreendimentos, além do serviço, acompanhando da chegada do produto à entrega da obra. A atuação no Vila Galé abriu as portas para quatro novos contratos, dois com redes estrangeiras que operam no Nordeste. "Esperamos que até 2014 a hotelaria responda por 40% dos negócios", adianta Cal.

Foi para ter certeza de que estava entrando em um mercado com retorno assegurado que Ernesto Brezzi, sócio da empresa de limpeza Top Clean, de São Paulo, decidiu há quatro anos pesquisar o segmento hoteleiro. Constatou que a limpeza era um serviço pouco terceirizado, mas que gerava um custo alto de operação. "Elaborei uma planilha comparando a gestão e bati à porta dos hotéis."

A rede Pestana foi a primeira a abraçar a proposta. A limpeza de quatro hotéis da bandeira portuguesa está a cargo da Top Clean, que tem na hotelaria 5% do faturamento, estimado para 2011 em R$ 70 milhões. "A meta é que nos próximos três anos o percentual chegue a 10%, já que é um mercado pouco explorado".

A empresária Cristina Du Plessis, sócia da Amazônia Viva Cosméticos, de São Paulo, foi procurada várias vezes para fornecer a linha para hotelaria. "Foi a partir dessas conversas que abrimos uma nova frente de vendas, o abastecimento dos spas dos hotéis", conta. "Costumo dizer que opero no nicho do nicho". A atividade já responde por 15% do faturamento da empresa, que espera chegar a R$ 1 milhão este ano.

(Katia Simões | Valor)

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