Integração de negócios da Telefónica ganha fôlego

A integração dos negócios da Telefónica no Brasil, que começou discretamente em outubro, vai se acelerar nas próximas semanas, afirmaram ao Valor fontes envolvidas no processo. Definidos os termos da incorporação da Vivo pela Telesp, o grupo espanhol ganha mais liberdade para colocar em prática uma estratégia comum para as duas empresas.

Isso não aconteceu até agora porque, na avaliação da companhia, a existência de dois grupos de acionistas minoritários – com interesses diferentes – representava uma barreira a uma consolidação mais efetiva dos negócios de telefonia fixa e móvel.

Na sexta-feira, porém, a Telefónica anunciou as relações para a troca das ações da Vivo por papéis da Telesp. Cada ação ordinária ou preferencial da Vivo dará direito a 1,55 ação de mesma espécie da Telesp. A proporção reflete os valores praticados no mercado, deduzidos os dividendos já anunciados pela Telesp.

Daqui a aproximadamente um mês, os minoritários da Vivo decidirão, em assembleia, se aderem à troca ou saem da empresa. Depois disso, restarão apenas papéis da Telesp no mercado. A compra da participação da Portugal Telecom na Vivo foi anunciada em julho e recebeu anuência da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) em setembro.

A Telefónica definiu um prazo de dois anos – até o fim de 2012 – para unir todas as suas marcas no Brasil em torno do nome Vivo. Mas, internamente, trabalha-se com a meta de acelerar o processo e concluí-lo, se possível, neste ano.

Sob o ponto de vista comercial, a mudança mais visível, nos próximos meses, será o lançamento de pacotes somando as especialidades de cada operadora. Os celulares da Vivo passarão a ser vendidos junto com a telefonia fixa, a banda larga e a TV paga da Telesp. Desde o fim de 2010, já são feitas vendas conjuntas para clientes empresariais.

Outro projeto que está sendo desenhado é a oferta de telefonia fixa e TV fora do Estado de São Paulo, onde a Telesp atua. A mudança vai abrir uma nova frente de competição com a Oi, que está no restante do país. Para isso, a Telefónica não planeja construir uma nova rede. Os serviços fixos vão usar a infraestrutura móvel, como já faz a TIM.

Nos planos do grupo espanhol também está uma reestruturação societária. A holding Vivo Participações poderá desaparecer depois de ser incorporada pela Telesp. Nesse caso, sob empresa de telefonia fixa restará apenas a Vivo S.A., companhia operacional.

Em um segundo momento, a própria Vivo S.A. poderá ser extinta. Isso depende, porém, da aprovação do projeto de lei 116, que tramita no Senado. O texto permite que os grupos de telecomunicações ofereçam diversos serviços a partir de uma mesma empresa. Atualmente, as teles são obrigadas a ter uma operadora para cada serviço.

Quem está à frente do processo de integração é o espanhol Luis Miguel Gilpérez López, destacado pela Telefónica, em outubro, para essa missão. O presidente do grupo no Brasil, Antonio Carlos Valente, e os principais executivos da Telesp, Mariano de Beer, e da Vivo, Roberto Lima, trabalham com ele.

As mudanças já alteram a rotina das companhias. O estilo de gestão da Vivo – operadora que ostenta os melhores indicadores do setor – começa a se fazer notar em áreas da Telesp, como o departamento de compras. Segundo fontes a par do assunto, Gilpérez quer reproduzir, na empresa de telefonia fixa, a agilidade comercial da móvel.

O perfil do atendimento das duas operadoras é complementar. A Telesp vende seus serviços a residências e empresas, enquanto a Vivo atende pessoas. "Será preservado o melhor de cada empresa", diz uma fonte do grupo.

A ordem é que a incorporação seja feita com cautela para evitar o que aconteceu com a Oi. A operadora teve dificuldades para absorver a Brasil Telecom e saiu do processo com dívidas pesadas.

O caminho não é fácil porque a Telesp e a Vivo viviam realidades diferentes. A Telesp já atuava de forma mais integrada com a matriz, na Espanha. Na Vivo, quando o controle era compartilhado entre espanhóis e portugueses, as pressões de cada sócio ficavam diluídas no conselho de administração. Agora, executivos da Vivo já começam a notar mais interferência de Madri.

Procuradas, as empresas não quiseram comentar o assunto.

(Talita Moreira e Gustavo Brigatto | Valor)
 

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