Investimento pode chegar a R$ 3,6 bi no país em 2010

A indústria brasileira de autopeças deverá investir R$ 3,6 bilhões neste ano, a fim de acompanhar a expansão dos negócios no setor automobilístico. Até o momento, os aportes executados não estão aquém do necessário para fazer frente à demanda por parte das montadoras, porém o futuro suscita preocupação. Essas são algumas das conclusões decorrentes de estudo realizado pelo Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças), Associação Brasileira da Indústria de Autopeças (Abipeças) e pela Prada Assessoria, com o objetivo de detectar possíveis gargalos no setor.

O estudo, realizado com base em dados do primeiro trimestre que foram fornecidos por 84 empresas associadas às entidades, mostra que, naquele período, a cadeia de autopeças estava "menos estressada" do que em 2008, considerado o melhor ano para a indústria automobilística brasileira. Ainda assim, alguns segmentos, com destaque para o de borracha (que não inclui fabricantes de pneus), enfrentavam dificuldades para ampliar a produção, boa parte em razão de limitações na capacidade instalada. Na média da indústria, 46,4% se depararam com esse obstáculo nos três primeiros meses do ano – ante 63% em 2008. "O setor enfrentou gargalos pontuais no primeiro trimestre, incluindo acesso à matéria-prima", afirmou Letícia Costa, sócia e diretora da Prada Assessoria. "A maior dificuldade será investir."

Segundo o levantamento, 80% das empresas têm intenção de investir neste ano. Considerando-se a amostra, equivalente a 36% das autopeças que atuam no país, os aportes estão estimados em R$ 1,327 bilhão. Extrapolando esse valor para a indústria como um todo, é possível alcançar a estimativa de R$ 3,6 bilhões em recursos aplicados pelo setor neste ano.

Para o conselheiro do Sindipeças Américo Nesti, embora os dados indiquem que a indústria de componentes não está trabalhando com folgas, mas também não chegou ao ponto de comprometer entregas, é necessário olhar para o futuro com cautela. "É preciso viabilizar a indústria de autopeças de forma a acompanhar o crescimento do setor automobilístico", disse. "As importações estão avançando, em ritmo superior às exportações, e esse é o dado preocupante."

No ano passado, conforme dados fechados do Sindipeças, o déficit na balança comercial da indústria somou US$ 2,49 bilhões, ligeiramente abaixo dos US$ 2,54 bilhões negativos verificados em 2008. Para 2010, a expectativa é a de novo recorde, com déficit de US$ 3,92 bilhões. "Isso também preocupa o governo e levou à alteração das regras do redutor. Mas ainda é preciso adotar outras medidas que garantam a competitividade da indústria."

Estimativa do Sindipeças aponta que a produção total de veículos automotores no país (carros de passeio, comerciais leves, caminhões, ônibus e máquinas agrícolas) deve alcançar 3,348 milhão de unidades neste ano, com expansão de 4,3% ante 2009. Em 2015, devem ser produzidos 4,454 milhões de veículos no país, o equivalente a crescimento de 34,4% na comparação com o ano passado.

É justamente esse forte ritmo na produção de veículos – incluindo também nesse cenário a retomada da indústria argentina – que preocupa as autopeças brasileiras. "O mercado mostra expansão saudável e vai crescer com taxa de 4% ou 5% ao ano. Precisamos acompanhar isso", reiterou. Recentemente, o governo brasileiro anunciou o fim gradual do redutor de 40% que incide sobre o imposto de importação de componentes automotivos, em cronograma que se estende até maio do ano que vem. O fim do redutor era um dos pleitos relevantes das autopeças. "Talvez essa medida tivesse que ter vindo um ano antes", disse Nesti.

(Stella Fontes | Valor)

 

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