Livre da dívida com derivativos, Fibria traça planos para voltar a investir

O pagamento de uma dívida de US$ 511 milhões no início deste mês permitiu que a Fibria, maior produtora de celulose de fibra curta do mundo, ficasse livre para investir na expansão de sua capacidade – a empresa produz hoje 5,3 milhões de toneladas por ano. O presidente da Fibria, Carlos Aguiar, afirma que a companhia tem condições de viabilizar uma nova fábrica ainda em 2014, antes do inicialmente previsto pelo mercado.

A Fibria diz que pode iniciar a construção das fábricas em 2012 porque já possui parte das florestas necessárias para as expansões – o executivo calcula que a empresa tenha pelo menos um quarto das árvores necessárias para a operação. Os plantios adicionais ainda dependem de licenças ambientais, que a Fibria espera obter até o começo de 2011. "Podemos viabilizar o início dessas fábricas com as áreas que já temos e com madeira comprada no mercado."

Nos últimos meses, a empresa se dedicou a trocar a dívida com os derivativos – que é mais cara, pois foi tomada no redemoinho da crise – por financiamentos de longo prazo, a taxas menores. Com o processo adiantado, a Fibria vislumbra o início da construção de uma nova fábrica para 2012. "A empresa está oficialmente pronta para calcular a viabilidade dos seus investimentos, sem depender de cláusulas impeditivas (de credores)", afirma o executivo.

O investimento pode ser feito na Veracel 2 – associação com a sueco-finlandesa Stora Enso, na Bahia – ou na Horizonte 2, em Três Lagoas (MS), onde a Fibria inaugurou sua mais recente unidade, em 2009. Como a construção de uma grande fábrica de celulose leva dois anos, em média, a produção poderia ser iniciada em 2014. Aguiar diz que a opção de construir novas unidades ao lado das plantas já existentes possibilita uma economia de até US$ 300 milhões em custos com infraestrutura.

Concorrência. O pagamento de dívidas e as reservas florestais permitirão que a Fibria reduza ao menos parcialmente a desvantagem em relação à concorrência. A Eldorado Celulose, capitaneada pela gigante JBS, promete investimentos de R$ 4,8 bilhões no setor. A primeira fábrica sairia do papel em 2012, com produção de 1,5 milhão de toneladas por ano (ver abaixo). A Suzano, vice-líder em celulose no País, promete duas novas unidades – uma no Maranhão, em 2013, e outra no Piauí, em 2014. Juntas, produzirão cerca de 2,5 milhões de toneladas ao ano.

Prestadora de serviços industriais e de engenharia às maiores fabricantes de celulose do Brasil, a finlandesa Pöyry diz que, em uma perspectiva conservadora, o Brasil chegaria à marca de 20 milhões de toneladas de celulose por ano até 2020 – um crescimento de 50% em cerca de dez anos. Para Carlos Farinha, vice-presidente da companhia, o País é indiscutivelmente a "bola da vez" em celulose.

Desde sua criação, em setembro do ano passado, a Fibria – fruto da união de Votorantim Celulose e Papel (VCP) e Aracruz – vem lutando para diminuir sua dívida. No fim de 2008, época da explosão da crise financeira global, a Aracruz perdeu mais de R$ 4 bilhões em operações com derivativos – a empresa fez operações financeiras apostando que o real continuaria valorizado em relação ao dólar.

O contrário aconteceu. Com a turbulência econômica, o real se enfraqueceu frente ao dólar: a moeda americana, que valia cerca de R$ 1,60 em agosto de 2008, subiu para mais de R$ 2,40 em março do ano seguinte. Com isso, a dívida da companhia foi às alturas por causa dessas operações financeiras.

Na época da fusão com a VCP, a dívida da Fibria era superior a oito vezes o Ebitda (lucro antes de juros, impostos e amortizações). Graças à renegociação de débitos e ao aumento do preço da celulose, que quase dobrou nos últimos 12 meses, a relação caiu para 5,6 no primeiro trimestre, quando a empresa exibia endividamento de R$ 13,5 bilhões.

Segundo Mônica Araújo, analista da Ativa Corretora, a empresa poderá atingir sua meta de reduzir o endividamento a três vezes o Ebitda no início do ano que vem. Mônica vê tendência de estabilização nos preços da celulose, em parte por conta da crise que afeta a Europa.

(O Estado de São Paulo)

 

 

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