A Mapfre quer decolar

Novo CEO da seguradora espanhola quer ultrapassar a Bradesco Seguros no Brasil. Conheça os seus planos.

Não por acaso, Antonio Huertas, o novo CEO da Mapfre, maior grupo segurador espanhol, já planeja uma viagem ao Brasil. Entusiasmado com os resultados obtidos em poucos meses de associação com o Banco do Brasil – as receitas do grupo no País quase triplicaram, para € 3,5 bilhões –, Huertas tem uma meta ambiciosa: ultrapassar a Bradesco Seguros e assumir a liderança do setor. O executivo de 48 anos anunciou o objetivo logo ao tomar posse, no sábado 10, durante a reunião anual de acionistas da seguradora em Madri. O clima no evento destoava do desânimo com a crise que levou o desemprego na Espanha a um recorde de 25%. No mesmo fim de semana, centenas de milhares de pessoas protestaram nas ruas contra a proposta de reforma trabalhista do governo de Mariano Rajoy.

Foram os bons resultados fora da Espanha e especialmente no Brasil  que fizeram o faturamento da Mapfre crescer quase 15% no ano passado, para € 23,5 bilhões. Huertas está numa situação muito mais confortável que seus pares. Os banqueiros espanhóis estão às voltas com rombos provocados por empréstimos imobiliários impagáveis e tendo de cumprir exigências de mais capital. Os bons ventos da América fizeram a Mapfre aumentar os dividendos no ano passado, algo raro entre as empresas espanholas. Huertas previu que as receitas poderão crescer mais 6% neste ano, com a ajuda dos negócios fora da Europa. “Estamos enfrentando a crise com a internacionalização”, diz.
 
As operações internacionais respondem por 63% das receitas e por 45% dos lucros da seguradora. Nos últimos cinco anos, os prêmios da Mapfre cresceram 38%, desempenho superior aos 14% apresentados por seus principais concorrentes europeus. Essa diferença  se reflete na última linha do balanço: enquanto o lucro da espanhola cresceu 28%, os dos outros europeus caíram 26%. Essa é uma boa razão para dobrar a aposta no Brasil de modo a fugir da crise. “O Brasil é uma das economias brilhantes do mundo, acaba de superar o Reino Unido como o sexto maior Produto Interno Bruto”, diz Huertas. “Como um grupo global, aspiramos ser líderes nesse mercado e, graças à  nossa aliança com o Banco do Brasil, vamos conseguir.”

A BB Mapfre, joint venture dividida em duas holdings, faturou R$ 9,6 bilhões no ano passado. Uma das estratégias de crescimento traçadas para o Brasil é usar a rede do Banco Postal, que acrescenta seis mil pontos de venda às cinco mil agências do Banco do Brasil, para vender apólices voltadas à população de baixa renda, que podem cobrir desde inadimplência provocada por desemprego até perdas patrimoniais, os chamados microsseguros. Segundo Huertas, as notícias recentes de crise entre a direção do BB e a da Previ não o preocuparam. “O Banco do Brasil é gerido com critérios técnicos, os executivos são profissionais”, afirma. E lembra que, desde o início das negociações para a parceria estratégica  com o BB, houve até mudança de governo e a aliança permaneceu.
 
Outra área que está na mira do grupo espanhol para aumentar a participação de mercado no País é a de previdência privada. Nesse caso, a Mapfre terá que caminhar com suas próprias pernas. Ela não poderá contar com o BB, que já está associado ao grupo de previdência americano Principal Financial na Brasilprev. A Mapfre também estuda a entrada no ramo de saúde no País há alguns anos, e poderá finalmente fazer um movimento nesse sentido. O presidente da Mapfre America, Rafael Casas, diz que a ideia é explorar produtos de nicho na área de saúde, que não sejam adversamente afetados pela forte regulação do setor. Nesses dois produtos, não sera fácil superar as seguradoras dos bancões nacionais, apoiados pelas redes de milhares de agências.
 
Enquanto garante os resultados para seus acionistas no Novo Mundo, Huertas prevê que a economia espanhola demore pelo menos dois anos para esboçar  uma recuperação. Só depois disso, reformas como a trabalhista  devem surtir efeito e incentivar a geração de empregos. O CEO da Mapfre já está de olho nos futuros mercados de previdência e saúde privadas, que devem crescer com o inevitável ajuste fiscal na Espanha. “Gostaríamos de ser parte da solução para o governo espanhol, porque o estado de bem-estar social não é mais sustentável”, afirma. Até lá, Huertas não perderá tempo para atingir sua meta: já no mês que vem enfrentará as filas do aeroporto de Guarulhos para visitar a sede da Mapfre, na Marginal Pinheiros, em São Paulo.

(Tatiana Bautzer | Isto é Dinheiro)

 

+ posts

Share this post