Marcas europeias abrem lojas próprias

O hall da casa paulistana da empresária Mariângela Libertini é todo decorado com peças da alemã Kare, sua marca de mobiliário preferida. A engenheira química morou em Berlim e se encantou com a empresa, que vende uma vasta gama de produtos, de cinzeiros a camas. De volta ao Brasil, decidiu ser a representante da marca por aqui. Depois de dois anos de relatórios, reuniões, planilhas, e-mails, conquistou os executivos alemães com uma mensagem original: mandou a foto do hall de sua casa. Fechou o negócio.
 
Em maio deste ano Mariângela inaugurou um amplo galpão da Kare no bairro Jardins, em São Paulo. Ali, estão expostos os produtos que são reconhecidos pelo colorido e bom humor. "Queremos estabelecer o conceito entre os consumidores do ”one-stop-shop”. Poder comprar tudo para casa em um só lugar", explica. Em sete meses de operação, o prognóstico é positivo. "Estamos satisfeitos com a receptividade. Queremos abrir sete showrooms e 15 lojas em quatro anos no Brasil", afirma.
 
Os alemães não são os únicos a desembarcar no país com suas peças de mobiliário. O ano de 2010 foi marcado por uma movimentação grande de marcas estrangeiras abrindo lojas no mercado brasileiro. "A chegada dessas marcas é irreversível e esse movimento continuará. O Brasil é a bola da vez", afirma Pedro Paulo Franco, sócio da A Lot Of, multimarcas que vende criações de designers nacionais e estrangeiros. "Temos muito mercado ainda para conquistar. Os brasileiros estão aprendendo a entender e olhar para o design de uma nova maneira. Dez anos atrás eles não conseguiam valorizar o produto certo", completa.
 
Pedro Franco é habituée das feiras italianas, onde pinça as principais novidades para sua loja paulistana. Foi assim que conheceu Cristina Morozzi, diretora criativa da Skitsch, empresa italiana que vende criações de 30 designers, entre eles os irmãos Campana. Franco trouxe algumas peças Skitsch para sua loja e o sucesso de venda garantiu uma parceria ainda maior.
 
Em outubro, foi inaugurada a primeira flagship da Skitsch da América Latina, na Gabriel Monteiro da Silva, tradicional rua paulistana de decoração. O evento de inauguração teve presença da própria Cristina, uma papisa no mundo do design.
 
Há 15 anos trabalhando com fabricantes de mobiliário europeus, o empresário Hélio Bork é cauteloso. Ele é sócio da Montenapoleone, multimarcas que vende diversas grifes italianas. "Estamos vivendo um crescimento saudável, o mercado europeu está em crise, então as empresas buscam alternativas em outras praças. O problema é que o crescimento se dá mais nas bases e não nas vendas de alto nível", acredita.
 
O argumento, no entanto, não freou os interesses da Cassina e da Poltrona Frau, empresas de mobiliário pertencentes ao Grupo Ferrari, de instalar lojas próprias em São Paulo. Há um ano e meio Bork negociava com a companhia para trazer as duas marcas para a Montenapoleone. O acordo só vingou quando ele concordou em montar o showroom exclusivo, inaugurado em julho. "Dividimos o investimento em 50%. Eles querem que tanto Cassina quanto Poltrona Frau voem sozinhas por aqui, tenham mais visibilidade. Aceitei o desafio", diz Bork, que administra também a italiana Kartell e a dinamarquesa Bang & Olufsen, de áudio e vídeo.
 
Se não por lojas próprias, as grifes interessadas no consumidor brasileiro se posicionam em multimarcas. A Collectania, que tem no portfólio marcas como a italiana Giorgetti, a alemã Interlübke e a italiana de luminárias Oluce, teve de reorganizar o espaço para abrigar a tradicional Driade e Driade Kosmo, marcas italianas de mobiliário e objetos decorativos. "Sempre buscamos atender ao nosso público com grifes de prestígio e qualidade. Esse ano, sem dúvida, houve um recorde de marcas chegando. Sou otimista, mas não podemos exagerar na supervalorização", afirma Liliana Tuneu, dona da Collectania.
 
Em setembro ela comemorou a chegada da cultuada Driade, com mobiliários para área interna como sofás, poltronas, cadeiras e camas; e DriadeKosmo, de objetos de decoração como vasos, castiçais, louças, talheres e bandejas. A empresa tem um laboratório de pesquisas que investe em designers renomados como o francês Phillipe Starck e a italiana Patricia Urquiola.
 
Há poucas semanas, o vice-presidente da Driade, Eberardo Gortana, esteve no Brasil para checar o desempenho da marca.
 
"Não pude vir em setembro, mas precisava conhecer o potencial do mercado brasileiro pessoalmente", disse Gortana. "Entre os Brics [Brasil, Rússia, Índia e China], acreditamos que o Brasil seja mais promissor, inclusive por causa da apreciação brasileira pelo design italiano", completa.
 
A dona da Collectania, que atua há mais de 20 anos no mercado de decoração e design, detectou uma mudança no mercado há seis anos. Em 2005 percebeu que havia demanda para a marca holandesa Auping, que fabrica camas de alto padrão desde 1888, e inaugurou uma flagship em São Paulo. Há dois anos foi a vez da Dedon, fabricante alemã de móveis para o exterior, levantar voo e ganhar um espaço exclusivo também sob o comando de Liliana.
 
E quem já se ambientou em terras nacionais trata de se posicionar ainda melhor frente à concorrência. A Missoni Home, que estreou timidamente no país no ano passado, inaugurou um showroom maior e mais bonito também na rua Gabriel Monteiro da Silva. Missoni home é o "braço decorativo" da Missoni, grife italiana inaugurada em 1953. As estampas tradicionais – em zigue zague e pixel – são estampadas em peças de mobiliário, enxoval, jogos de porcelana e objetos decorativos. A direção da empresa planeja inaugurar um hotel Missoni, em Cajaíba, na Bahia, em 2012.

(Juliana Mariz | Valor)

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