Merial e Intervet desistem de joint venture

O processo de consolidação da indústria veterinária mundial ganhou ontem uma nova configuração. As gigantes do mercado farmacêutico Merck e Sanofi-aventis abandonaram o plano global de fundir suas operações na área de saúde animal por meio de suas controladas Intervet e Merial, respectivamente.

A joint venture anunciada há um ano daria origem à Merial-Intervet e colocaria a nova companhia no topo do ranking veterinário global, com uma receita mundial da ordem de US$ 5,5 bilhões.

Mantendo as operações isoladas, Intervet e Merial voltam a ocupar, respectivamente, a segunda e terceira colocação no ranking mundial, atrás da americana Pfizer. Esta última, após incorporar a também americana Fort Dogde nos últimos meses passou a ter uma receita mundial de US$ 3,5 bilhões e uma fatia de 18% do mercado veterinário internacional.

Em nota, Merial e Intervet informaram que a decisão de abandonar o processo se deveu à dificuldade em implementar a operação proposta inicialmente. A nova empresa teria que se desfazer de uma quantidade muito grande de produtos e linhas importantes de seu portfólio, além de administrar os longos prazos dos processos de regulação em todos os países em que atuam. "Merck e Sanofi-aventis terminam o seu plano no melhor interesse de ambas as empresas e seus respectivos acionistas, bem como funcionários", diz a nota divulgada ontem.

Em março de 2010, quando a joint venture foi anunciada, a expectativa era que o primeiro dia da nova empresa fosse primeiro de abril de 2011. O prazo já havia sido prorrogado para o fim do primeiro semestre e uma segunda vez para o terceiro quadrimestre do ano. Sem o acordo, a americana Merck volta a controlar 100% da Intervet, e a francesa Sanofi, os 100% da Merial.

O fim do processo de fusão das duas empresas é um banho de água fria para as empresas de porte menor. A expectativa do mercado era que a partir do fusão, a nova companhia que seria criada colocaria à venda linhas completas de produtos, por haver sobreposição em alguns segmentos e como forma de atender à recomendação dos órgãos regulatórios mundiais.

O processo, inclusive, estava adiantado. O diretor geral no Brasil da francesa Ceva, Alexis Goux, informou ao Valor que a matriz de sua empresa havia sido procurada para a avaliar o interesse em linhas de produtos. Além da Ceva, a expectativa do mercado era que empresas como Bayer, Elanco, Novartis e Virbac adquirissem linhas de produtos colocadas à venda, permitindo um maior crescimento desses grupos globalmente.

Com 50% do mercado mundial concentrado entre as três maiores empresas, a expectativa do setor é que a outra metade da indústria global continue a se consolidar. Para alguns analistas, o mercado pode seguir dois caminhos. O primeiro seriam negociações locais, com grandes empresas comprando menores. A segunda possibilidade seriam negócios maiores, com grandes grupos farmacêuticos se desfazendo das operações no segmento veterinário, para se concentrar em saúde humana.

O fim da joint venture no âmbito global entre Merial e Intervet muda também as perspectivas para o Brasil. A expectativa que o novo grupo passasse a controlar sozinho quase 30% do mercado doméstico faz com que disputa pela liderança no Brasil aumente. Sem a operação, a Pfizer passa a ser a maior indústria veterinária do Brasil, com uma fatia de 16,8%. A Intervet fica em segundo lugar, com participação de 14,5%, seguida pela Merial, com uma parcela de 13,5% do mercado doméstico.

"O anúncio foi uma surpresa para nós. Estávamos trabalhando para começar a operar de forma conjunta, mas a partir de agora vamos repensar os próximos passos", afirma Vilson Simon, presidente da Intervet no Brasil. Segundo o executivo, a empresa vai realinhar seu projeto estratégico para os próximos cinco anos para brigar pela liderança do mercado veterinário nacional, que movimentou no ano passado R$ 3,1 bilhões.

(Alexandre Inacio | Valor)
 

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