Mexicana Cinépolis vai investir R$ 500 milhões no Brasil até 2012

São Paulo – A mexicana Cinépolis é a quarta maior rede de cinemas do mundo, e a primeira da América Latina. Somente no México, administra 2.300 salas. O número é praticamente igual a todas as salas que o Brasil possui atualmente.

Cinco anos após iniciar sua expansão internacional, que a levou sobretudo para os países da América Central, a Cinépolis quer, agora, crescer em mercados emergentes maiores – sobretudo no Brasil e na Índia.

Nesta entrevista exclusiva ao Site EXAME, o presidente da Cinépolis Brasil, Eduardo Acuña, detalha os planos da empresa para o país. Veja os principais trechos:

EXAME – A Cinépolis já está presente em países da América Central. O que marca a expansão para outros países, agora?
Eduardo Acuña – O plano de expansão mundial começou, formalmente, há cinco anos. Nos últimos dois anos, passamos a focar mercados com grande potencial de crescimento. O intuito era ter, nesses países, uma rede de cinema do tamanho da que temos no México. Para se ter ideia, hoje temos cerca de 2.300 salas de cinema no México – mesmo número de salas de cinema que o Brasil inteiro possui. Medimos saturação dividindo a população de um país pelo número de salas de cinema que possui.

EXAME – Quais são os países mais promissores para a Cinépolis?
Acuña – O país mais saturado do mundo são os Estados Unidos, que têm cerca de 7.000 habitantes por sala de cinema. No México, são 22.000 habitantes por sala de cinema. No Brasil, há perto de 80.000 habitantes por sala de cinema. Acreditamos, com isso, que os países mais interessantes para investirmos são Peru, Colômbia, Brasil e Índia. Peru e Colômbia são relativamente pequenos, mas Índia e Brasil contam com um potencial espetacular. Gostaríamos de ter, no Brasil, o mesmo tamanho da rede mexicana nos próximos 15 anos, ou seja, 2.300 salas em até 15 anos.

EXAME – No México, a Cinépolis conta com uma rede de fast food própria. Por aqui, a estratégia é manter esses diferenciais competitivos?
Acuña – A Cinépolis Brasil terá a mesma “cara” que tem no México. Em nossas salas, servimos todos os produtos que achamos combinar bem com a experiência do cinema. As vendas são divididas em duas bases: uma bomboniere tradicional (para venda de pipoca, refrigerante, hot dog e nacho) e uma cafeteria com nossa marca, que vende bolinhos recheados, crepes, cafés, batata frita e baguetes.

EXAME – Belém do Pará, no próximo mês, será a segunda cidade a receber salas da Cinépolis – a primeira foi em Ribeirão Preto (SP). Em quais outros locais a rede tem intenção de abrir unidades?
Acuña – Estamos focando as cidades de São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ), Manaus, Salvador, Caxias do Sul (RS), Blumenau (SC), Campo Grande (MS).

EXAME – A rede basicamente acompanhará a abertura de shoppings?
Acuña – Isso. Hoje já temos contratadas pouco mais de 120 salas de cinema nessas cidades que mencionei. Apenas em Manaus, serão doze salas.

EXAME – Quanto será investido nestas 120 salas?
Acuña – Apenas nas primeiras 120 salas investiremos cerca de 260 milhões de reais. Mas nossa projeção é maior. Estão previstos investimentos de 500 milhões de reais no Brasil até 2012, quando esperamos estar com cerca de 300 salas de cinema em 45 complexos no país.

EXAME – Além da variedade de comidas, que outras diferenças serão adotadas em relação aos concorrentes?
Acuña – Há vários. A distância entre as poltronas é maior do que a habitual do mercado. O braço delas é mais largo, e o material com que elas são revestidas também é de melhor qualidade, um material sintético ecológico semelhante a couro. As telas de projeção também são maiores, instaladas de ponta a ponta das salas de cinema. Boa parte dos ingredientes dos nossos produtos será importada, bem como os óculos 3D pequenos para crianças, que não estão disponíveis ainda no Brasil.

EXAME – Quantos funcionários a Cinépolis terá no país?
Acuña – No mundo, a rede possui 15.000 funcionários. Por aqui, até 2012, teremos cerca de 4.000 colaboradores. No mundo, a rede fatura cerca de 800 milhões de dólares – quase 90% concentrados no México.Nossa intenção é que, daqui a cinco anos, as vendas no Brasil e Índia correspondam a 20% desse volume.

EXAME – Quais são as peculiaridades dos mercados de cinema mexicano, brasileiro e indiano?
Acuña – Brasil e México são bem parecidos na cultura. Os filmes preferidos desses países são os estrangeiros, em especial os americanos. Cerca de 80% dos filmes mais vistos pelos brasileiros e mexicanos são produzidos em Hollywood. Na Índia, a mesma proporção equivale a filmes feitos em Bollywood, a indústria de cinema indiana. Na prática, tanto no Brasil, quanto no México temos de negociar a reprodução com cerca de oito distribuidoras, entre elas Warner, Sony, Columbia. Já Índia, a negociação é feita com mais de cem distribuidores, além de que as salas de cinema têm tamanhos menores – cada sessão atende poucas pessoas.

EXAME – Veio muita gente da rede no México para cuidar dos negócios no Brasil?
Acuña – Não. Vieram bem poucos mexicanos. Além de mim, o arquiteto veio do México, pois temos uma maneira muito particular de construir e planejar os cinemas. Em vez de trazer mexicanos para cá, preferimos levar quase todos os 30 profissionais brasileiros contratados inicialmente para conhecer a rede no México. Turmas de diversas áreas, como comercial, marketing, operação, foram visitar nossos cinemas mexicanos aos poucos, desde o início deste ano. O objetivo é que eles entendam e incorporem os valores e a cultura de atendimento da empresa por lá. Assim, podem trazer para o Brasil alguns serviços e adaptar outros de acordo com o gosto do brasileiro.

EXAME – Qual será o público-alvo da rede?
Acuña – O Brasil inteiro é nosso público-alvo. Não queremos atingir nichos, mas todos. Para atender todo tipo de público, oferecemos exatamente o mesmo serviço, o mesmo cinema. O complexo que abriremos no Iguatemi, shopping para pessoas de melhor poder aquisitivo, será exatamente o mesmo que lançaremos no Shopping Fiesta ou Largo 13, na zona sul da cidade. O preço se adapta a cada região, como acontece com nossas concorrentes, mas a qualidade das nossas salas será exatamente a mesma. Nós temos o único complexo do Brasil com três salas 3D, em nosso primeiro cinema, em Ribeirão Preto. O investimento é alto em salas como essa, mas acreditamos que, se investirmos em serviço e qualidade, o retorno é mais rápido e a fidelização é certa.

EXAME – Se o preço é menor em alguns lugares e a qualidade é a mesma, como farão para obter o mesmo tempo de retorno do investimento?
Acuña – Para as pessoas das classes C e D, o cinema é a forma mais acessível de lazer fora de casa. Elas não podem viajar tanto ou comer fora, e investem em uma ida ao cinema com a família. Então, o preço do ingresso no Shopping Fiesta pode ser menor do que o do Iguatemi, mas o volume de pessoas atendidas é maior e mais frequente. É comum que os cinemas em áreas mais nobres estejam vazios nas férias, enquanto que os de áreas menos nobres estejam lotados. As pessoas podem ter hábitos de consumo diferentes em cada região das cidades, mas é por isso que os complexos de um são menos rentáveis que de outros – e isso explica porque nosso investimento é o mesmo em todos os lugares.

EXAME – Por que você foi escolhido para comandar os negócios no país?
Acuña – Estou há cinco anos na Cinépolis e, antes de dirigir a rede no Brasil, atuava como diretor de planejamento financeiro, bem como responsável pela área de desenvolvimento de cinema digital, logística e área de compras, com exceção de negociação de filmes.

EXAME – E ficou feliz com a missão?
Acuña – Sim, muito. Vim para cá no ano passado com minha esposa, que estava grávida, e meu filho de três anos. Minha caçula nasceu no país. Nasceu pentacampeã e me deu um motivo mais animador para eu assistir ao futebol com minha família (risos). Nenhum de nós falava português. Tivemos de aprender aos poucos.

(Tatiana Vaz | Portal Exame)

 

 

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