Nextel inicia plano de cem dias para 3G

SÃO PAULO – A Nextel hoje é uma empresa em construção. O desapontamento pela derrota no leilão de 2007 foi substituído pela vitória, exibida no display do elevador que informa aos funcionários a entrada da companhia na terceira geração (3G) da telefonia móvel. Sem esconder o entusiasmo, o presidente da empresa, Sérgio Chaia, mostra alguns projetos para a nova rede. A prioridade, agora, é o plano de cem dias, deflagrado em 23 de dezembro, que envolve desde o nível de gerência até a equipe da operação. Nesse período, serão contratados entre 400 e 500 funcionários. A rede será construída em quatro fases, com a primeira delas para ser lançada em 12 meses e as seguintes a cada seis meses. Entre as ofertas, haverá até serviço pré-pago.

Operadora do serviço de radiochamada com o recurso Push-To-Talk (PTT), em que o usuário aperta um botão para falar, a Nextel entra como estreante no mercado de 3G, dominado por Oi, Vivo, TIMe Claro.

Os números do mercado móvel consolidado chamam a atenção. Há quase 198 milhões de terminais no país, sendo que em algumas regiões há mais celulares que habitantes. A primeira impressão é que a demanda está completamente atendida. Mas Chaia olha por outra perspectiva: "A penetração de 3G é de apenas 8%, o que deixa um espaço gigante para crescer". Isso porque ainda predominam as tecnologias anteriores, de 2G e 2,5G. Além disso, a empresa aumentará seu público potencial de uma área compreendida por 63% do produto interno bruto para 93%.

"Estou entrando num mercado com o qual competia, mas onde eu não estava", compara o executivo. Ele se refere ao fato de a operadora concorrer com seu serviço de radiochamada, na tecnologia iDEN, da Motorola, com a rede 3G das grandes operadoras. Ocorre que os recursos da iDEN são muito mais limitados, comparados à 3G.

"Para atingir esse novo público, temos a tecnologia certa", diz Gokul Hemmady, vice-presidente e principal executivo financeiro da controladora NII Holdings, sediada em Reston, Vancouver.

Com 3,1 milhões de assinantes até o terceiro trimestre e receita de US$ 1,8 bilhão no período de janeiro a setembro, a Nextel entra no novo mercado como quinta colocada. Ficará atrás da Oi – esta com quase 38 milhões de clientes – na lista liderada pela Vivo, que tem mais de 58 milhões. Os R$ 5 bilhões que a Nextel planeja investir nos próximos cinco anos representam o valor anual que suas grandes rivais aplicam por ano. Como uma novata de menor porte, num mercado já dominado, pode se sair vencedora?

Em visita ao Brasil para acertar os detalhes do plano de implantação da nova rede, Hemmady disse ao Valor que a Nextel tem proposta e produtos diferentes de outros segmentos, além de atendimento de alto nível ao cliente. "Apesar de a população brasileira ser em torno de 200 milhões de pessoas, a companhia não pretende se voltar para todo esse público potencial." O objetivo é manter o foco em clientes de maior poder aquisitivo, que não requerem investimentos como os das outras companhias; e capitalizar sobre a receita que deu certo com produtos PTT.

Para Hemmady, os últimos anos já foram de fato muito competitivos. O resultado é que a companhia cresceu 34% e o resto do mercado, 10%, dizem os executivos. A empresa tem um plano de longo prazo para os consumidores e o seguirá rigorosamente. "Nos últimos anos, criamos valor com propostas diferenciadas, então continuaremos com esse plano", afirma Hemmady. A diferença é que com a nova frequência a operadora poderá ir atrás de bases maiores de consumidores.

Mesmo assim, para concorrer nessa arena a estreante terá de fazer algumas concessões. Se até agora se orgulhava de ter uma carteira apenas de clientes pós-pagos, enquanto as demais teles têm mais de 70% pré-pagos, a Nextel precisará oferecer essa opção aos novos usuários. Sérgio Chaia revela que vai procurar identificar segmentos corporativos e de negócios para ofertas distintas de pré-pago.

O pagamento de R$ 1,2 bilhão pelas licenças de frequências da banda H será feito pela combinação de diferentes fontes: caixa próprio, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), mercado de capital americano, fornecedores de rede 3G e bancos locais.

"O Brasil é um mercado muito estratégico para a NII e estamos animados com o potencial do que se pode fazer com o espectro de 3G durante um longo período", afirma Hemmady, ao ser indagado sobre os passos futuros. "Há vários cenários de que se pode falar, mas o que nos interessa é que continuaremos a crescer, a ser lucrativos. A tecnologia é apenas uma plataforma, você vai para 2G, 3G, 4G, enfim o que vier no futuro, e estaremos prontos para fazer o investimento no Brasil, porque o país é muito estratégico para nós."

(Ivone Santana | Valor)

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