Nobel foca segmento infantil e terá rede de papelarias

Em meio à agitação do mercado livreiro diante do lançamento dos leitores digitais – como o recém-criado IPad, da Apple, e o Kindle, da Amazon -, a rede de livrarias Nobel reforça sua aposta na diversificação de negócios. A estratégia para este ano inclui a estreia de uma rede de papelarias, o foco na edição de livros infantis, com seu selo próprio, e a entrada em mais um mercado latino americano.

"Não achamos que os e-books vão fazer qualquer estrago, mas ao mesmo tempo vamos enxergar a realidade e investir mais em áreas que estão crescendo e que são bem seguras em relação à digitalização dos livros. Vamos dividir os ovos", afirma o presidente da rede Nobel, Sérgio Milano Benclowicz.

A rede vai começar a vender a partir de junho a nova franquia Nobex: uma papelaria que também oferecerá os títulos mais vendidos da livraria. A marca existe desde julho de 2008, mas ainda não tinha sido trabalhada pelo grupo. A ideia é atingir mercados onde a livraria não cabe, como cidades menores ou shoppings que já têm uma megastore concorrente. Há duas lojas em negociações avançadas – em Piracicaba e no Rio de Janeiro. A expectativa é abrir ao menos seis Nobex este ano.

O segmento infantil é o outro foco da companhia. A área é a que mais cresce no mercado de livros e, na avaliação de Benclowicz, deverá sofrer pouca concorrência dos e-books. "Livro infantil no computador não é bem livro, é mais game", diz. Com os investimentos da empresa nos produtos da marca Zastrás, pela editora Nobel, as projeções de lançamentos apontam para 150 títulos infantis este ano.

A Nobel prevê um crescimento de 15% no número de livrarias este ano – hoje tem 215 pontos, sendo 190 nacionais e 25 internacionais – e de 10% em faturamento, o mesmo avanço apresentado em 2009, quando a receita (incluindo a editora) foi de cerca de R$ 150 milhões. Já presente em Portugal, Espanha, Angola e Colômbia, a Nobel parte, ainda este ano, para um segundo país na América Latina, provavelmente o Peru. Hoje as operações internacionais representam 5% dos negócios.

A rede já tentou uma entrada no mercado digital, mas não foi muito feliz. Há cinco anos fez uma parceria com a Livraria Cultura em e-books, com investimento de cerca de R$ 1 milhão. Mas se deparou com baixo volume de vendas e falta de hábito de leitura digital. Diante da experiência, prefere agora observar a evolução desse mercado. "Quero ser mais passivo desta vez", afirma Benclowicz.

O sucesso dos leitores digitais nos EUA não se repetirá no Brasil, segundo o executivo, até porque os aparelhos disponíveis para leitura ainda são caros para o padrão de renda brasileiro. Ele projeta que, mesmo quando o segmento tiver avançado, a participação do e-book no faturamento total do setor não passará de 20%. "E isso deve demorar para ocorrer", diz.

Hoje, para não ficar completamente de fora da tendência da leitura digital, a rede vende o catálogo completo da editora Nobel no Google Books, onde o leitor tem acesso a trechos do título e realiza a compra on-line, mas recebe o livro impresso. O plano da rede é disponibilizar a leitura eletrônica desses títulos e lançar livros segmentados somente na versão e-book daqui a um ano e meio. Além disso, os novos contratos com os autores ligados à editora Nobel já preveem a venda do livro digital. "E levam em conta que eles não vão vender muito", acrescenta.

(Vanessa Dezem| Valor)
 

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