Notas de uma soprano

Ana Cristina França equilibra suas paixões em uma inspirada fotografia da vida

Tina não sabe fazer nada de forma superficial. Aos sete anos, conheceu a disciplina nas teclas do piano e, desde então, só tem feito intensificar a profundidade com que assume suas paixões. Hoje, engenheira por formação, cantora lírica profissional e fotógrafa amadora, admite-se surpresa ao revisitar suas experiências ao longo do tempo e perceber o caminho pelo qual a vida lhe trouxe até aqui.

Ana Cristina França formou-se em Engenharia Civil em 1991, na Universidade Federal Fluminense (UFFR-RJ), escolha feita após enfrentar os mais variados conflitos. Não sabia se preferia Física Nuclear, Medicina, Escultura ou se devia largar tudo pela música. Agora percebe que não era preciso abrir mão da arte ou da carreira executiva. Criou a combinação perfeita entre a estabilidade emocional do mundo corporativo e o calor humano do universo das artes.

Já formada, avessa às grandes hierarquias, optou por trabalhar em uma empresa de menor porte enquanto observava muitos de seus companheiros de faculdade na busca por programas de trainee de grandes corporações. Foi assim que entrou na Apsis, em 1987 – seu primeiro estágio no segundo ano de faculdade. Mais tarde, resolveu experimentar Construção Civil, com direito a capacete e poeira, mas logo viu que aquele não era seu lugar. Foi monitora, vendeu sanduíche natural, trabalhou com professores em cálculo estrutural e instalações hidráulicas, mas, anos depois, viu-se novamente diante da porta da Apsis, onde experimenta até hoje seu principal desafio, com um serviço tão específico quanto o de avaliação.

Esta escolha permitiu-lhe viver suas outras paixões. “A música sempre correu junto com a Engenharia. Consegui, entre um laudo de avaliação e outro, participar de espetáculos e concertos”, conta, sem negar que, ao contrário do que muitos pensam, cantar está muito longe de ser um hobby relaxante. “Puro engano, é muita ralação”, afirma. Mais ainda para Ana Cristina que, num piscar de olhos, vê-se mergulhada e totalmente entregue a um projeto, seja de forma profissional ou amadora. “No que há de melhor em se fazer por amor”, completa.
Do trabalho corporal ao espiritual, a música lírica exige ao máximo. É preciso conhecer estilo, obra, tradução e pronúncia em diversas línguas, decorar letras e melodias nem sempre simples.

No início de outubro, Ana Cristina estreou “Mandala”, um espetáculo infantil que ficou em cartaz durante todos os finais de semana do mês no Teatro Municipal, em Niterói, e no Teatro Dulcina, no Rio de Janeiro. Quando deu entrevista à Revista Anefac, estava em plena rotina de ensaios. “Não sei o que é final de semana desde julho, mas a emoção de estar no palco e deixar a alma escorregar pela música vale todo o sacrifício”, disse. “A gente se transforma diariamente pela disciplina, pelas descobertas, pela aprendizagem e ousadia, e, do palco, transformamos também quem está ali na plateia, completando o espetáculo”, diz.

Mas seus dias não se resumem à vida executiva e à música. Família, literatura e um bom vinho com amigos é a receita que Ana Cristina aprendeu a fazer de olho, o qual esconde-se atrás da lente de sua Canon EOS 40D. O gosto pela fotografia nasceu cedo, quando ganhou a primeira câmera,ainda criança. Mas foi ao se deparar com a luz inclinada do sol entrando pela janela da Catedral de Santo Isaac, na Rússia, que sentiu o desafio. Era preciso aprender a registrar a emoção de momentos como aquele. Procurou conhecer sobre o assunto e encontrou, aí sim, um hobby relaxante. “Não existe certo ou errado. Tudo depende de nossas escolhas, desejos e expectativas”, diz.

Exatamente como na vida.

(Revista ANEFAC | Carolina Bridi)
 

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